terça-feira, junho 19, 2007

Posso telefonar?

Parte 1


“Recentemente tive que explicar a uma senhora, o que era um” Blog”. Disse-lhe que era algo bem parecido com aquele diário que a gente fazia na adolescência, só que agora em vez de papel e caneta, usa-se o computador. Alguns dias depois, ela volta a me perguntar "o que é e-mail?”.
Pacientemente, digo-lhe que é o mesmo que escrever uma carta e enviar para alguém, só que usamos o correio eletrônico.
Estou muito desconfiada de que logo ela irá me perguntar o que é um “Messenger”. Aí, vou achar mais fácil trazê-la até o computador, e deixá-la ver como isso funciona.
Bem, não imagino minha vida sem o "Drummond". Este universo de informações, a facilidade para pesquisar, os grupos, os amigos (muito bem selecionados, claro), fizeram desta máquina uma peça fundamental em minha vida.
A revista Veja, de 25 de janeiro de 2006, trás um encarte especial sobre a influência da Internet da vida dos casais: a infidelidade virtual, as fantasias sexuais, as paqueras, os encontros, enfim, as mesmas histórias de sempre - amores, encontros e desencontros - mas agora no universo virtual.
Se a minha vizinha, uma senhora com mais de 80 anos, também quiser saber sobre isso, vai dar um trabalho danado explicar. Mas vou me esforçar!
Conheço várias pessoas que começaram a namorar pela internet, um dia encontraram alguém, o namoro tornou-se real e casaram-se. Porém, nem sempre as histórias têm um final feliz. Uma amiga já namorava há alguns meses um rapaz cujo encontro foi proporcionado por este mundo virtual. A cada quinze dias, ele vinha de outro Estado para encontrá-la e, havia até uma data marcada para o casamento. Mas, como disse minha aluna Stéfani “não temos lugar neste mundo, temos tempo" ele faleceu três meses antes do enlace. E, minha amiga voltou a ser alguém à procura de um amor.
Eu também encontrei o amor aqui, uma paixão que durou alguns meses - real - e teve um final melancólico. Como diz meu amigo Edson, professor de filosofia, “faz parte".
Porém, algo que é inesquecível, também nesse mundo virtual é o primeiro namorado. O primeiro amor, ou namorado, raramente dá certo, mas permanece para sempre em nossas lembranças.
Para respeitar a privacidade do casal, troquei os nomes desse “encontro virtual”:
Psique: oi
Eros2002: olá
Psique: tudo bem com você?
Eros2002: sim, obrigado
Eros2002: está boa?
Psique: Sim, teve um bom dia?
Eros2002: obrigado, sim, e você?
Psique: melhor impossível, fui visitar uma velha tia, ela ficou feliz ao me ver.
Eros2002: sim?
Psique: irmã de meu pai.
Eros2002: Ah!
Psique: Aos 90 anos, ela é uma velhinha muito alegre e de bem com a vida...
Eros2002: sim?
Psique: gosta de passear, de bons churrascos, aliás, ela levanta o meu astral.
Eros2002: Ah! Você estava precisando?
Psique: estava
Eros2002: sim?
Psique: sim
Eros2002: “teus caminhos não são meus, mas, apenas por alguns momentos caminharemos juntos”, conhece?
Psique: claro, eu escrevi.
Eros2002: Ah!
Psique: por que está lembrando isso?
Eros2002: por que será?
Psique: ficou chateado por ontem?
Eros2002: fiquei apreensivo
Psique: então por que isso?
Eros2002: tenho receio de magoá-la
Psique: às vezes você me magoa às vezes me faz feliz...
Eros2002: sim, por quê?
Psique: às vezes dou boas risadas com você
Eros2002: mas...
Psique: só ontem, não sei por que, senti raiva.
Eros2002: sim?
Psique: eu não sei explicar
Eros2002: sim?
Psique: não sei explicar direito, fiquei pensando que você... talvez esteja apenas se divertindo comigo
Eros2002: acha que sim?
Psique: eu não sei se é isso, mas ontem, senti-me assim, compreende?
Eros2002: não!
Psique: sabe o que acho também?
Eros2002: não
Psique: falo demais das minhas emoções para você, talvez isso desestabilize nossa amizade.
Eros2002: não sei
Eros2002: acho que podemos até nos ajudarmos emotivamente, sem nos magoarmos.
Psique: é, mas não vê que eu estou me perdendo?
Eros2002: perdendo como? Acho que você se está a assustar
Psique: nunca vivi algo assim antes e isso me assusta mesmo
Eros2002: ok, eu entendo
Psique: a verdade é que não estamos sendo só amigos
Eros2002: e é assim tão mau?
Psique: e eu já lhe disse que não quero ter um namorado pela só pela internet
Eros2002: Ah! Sim?
Psique: sim!
Eros2002: apenas amigos?
Psique: um amigo de verdade não escreve essas coisas... já saímos da área da literatura e faz tempo! De poetar a quatro mãos...
Eros2002: você gostou?
Psique: sim, mas agora não gosto mais.
Eros2002: ok, não estará a exagerar um pouco?
Psique: não sei, estou?
Eros2002: se eu até me abri muito com você...
Eros2002: o que é que eu ganho com isso?
Psique: não sei...
Psique: eu lhe perguntei ontem, e pergunto de novo: o que quer de mim afinal?
Eros2002: uma grande amiga, e você o quer de mim?
Psique: gosto de conversar com você
Eros2002: e...
Psique: conversa as mesmas coisas com outras amigas da internet?
Eros2002: não, que amigas?
Psique: então...
Eros2002: então o quê?
Psique: você não tem outras amigas na internet?
Eros2002: não!
Psique: como não?
Eros2002: cada vez falo com menos pessoas aqui
Psique: e as da sua cidade?
Eros2002: quem?
Eros2002: não sei que lhe diga
Psique: você não respondeu a minha pergunta: escreve poesias para elas também?
Psique: fala a elas o que fala para mim?
Eros2002: nunca fiz!
Psique: então, você não me trata como as outras amigas certo?
Eros2002: posso fazer uma pergunta, e você não se ofende?
Psique: pergunte
Eros2002: isto é uma cena de ciúmes?
Psique: não, quero apenas deixar bem claro o que somos um para o outro...
Eros2002: mas eu não a quero aborrecer
Eros2002: e se o fiz, peço-lhe desculpa.
Psique: eu não o amo, mas tenho um grande afeto por você.
Eros2002: eu também tenho por você...
Eros2002: e, brincar com os sentimentos das pessoas é algo que nunca farei...
Psique: você me deixa confusa, em conflito comigo mesma...
Eros2002: ok entendi
Eros2002: que quer que eu faça?
Psique: trate-me como uma amiga de verdade
Eros2002: ok, assim será
Psique: eu acho que assim ficaremos bem, não quero perder a sua amizade.
Eros2002: ok, mas como perderia a minha amizade?
Psique: do jeito que estamos, vamos acabar brigando, não percebe? Acho até que estamos discutindo nesse momento
Eros2002: ok, você pode contar comigo.
Psique: obrigada
Psique: ufa! Que conversa difícil!
Eros2002: não, fácil
Eros2002: posso lhe fazer uma pergunta?
Psique: pergunte!
Eros2002: posso voltar a telefonar?
Psique: com certeza
Eros2002: E ouvir a sua bela voz, esse riso maravilhoso?
Eros2002: adoro a sua voz!
Eros2002: e fim!

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