segunda-feira, dezembro 31, 2007

Feliz 2008




Que em 2008
Se for para esquentar, que seja ao sol;
Se for para lutar, que seja por seus direitos;
Se for para matar, que seja a fome;
Se for para bater, que seja uma bola;
Se for para enganar, que seja o estomago;
Se for para roubar , que seja um beijo;
Se for para perder, que seja uns quilos;
Se for para esconder que seja um presente;
Se for para enfrentar , que seja o medo;
Se for para quebrar , que seja um recorde;
Se for para ser feliz , que seja o ano todo;
Feliz Ano Novo

sexta-feira, dezembro 21, 2007

O jogral de Nossa Senhora

Conta uma lenda medieval que no país que hoje conhecemos como Áustria, a família Burkhard – composta de um homem, uma mulher, e um menino - costumavam animar as feiras de natal recitando poesias, cantando baladas de antigos trovadores, e fazendo malabarismos para divertir as pessoas. Evidente que nunca sobrava dinheiro para comprar presentes, mas o homem sempre dizia a seu filho:
- Você sabe por que a sacola de Papai Noel não se esvazia nunca, embora haja tantas crianças neste mundo? Porque embora ela esteja cheia de brinquedos, às vezes existem coisas mais importantes para serem entregues, os chamados “presentes invisíveis”. Em um lar dividido, ele procura trazer harmonia e paz na noite mais santa da cristandade. Onde falta amor, ele deposita uma semente de fé no coração das crianças. Onde o futuro parece negro e incerto, ele traz esperança. No nosso caso, quando Papai Noel vem nos visitar, no dia seguinte estamos todos contentes de continuarmos vivos e fazendo nosso trabalho, que é de alegrar as pessoas. Jamais esqueça isso.
O tempo passou, o menino transformou-se em rapaz, e certo dia a família passou diante da imponente abadia de Melk, que acabara de ser construída.
- Meu pai, lembra-se que há muitos anos você me contou a história de Papai Noel e seus presentes invisíveis? Penso que certa vez recebi um destes presentes: a vocação de tornar-me padre. Embora precisassem muito da companhia do filho, a família entendeu e respeitou o desejo do filho. Bateram na porta do convento, foram acolhidos com generosidade e amor pelos monges, que aceitaram o jovem Buckhard como noviço.
Chegou a véspera do natal. E justamente naquele dia, um milagre especial aconteceu em Melk: Nossa Senhora, levando o menino Jesus nos braços, resolveu descer à Terra para visitar o mosteiro.
Orgulhosos, todos os padres fizeram uma grande fila, e cada um postava-se diante da Vigem, procurando homenagear a Mãe e o Filho. Um deles mostrou as lindas pinturas que decoravam o local, outro levou um exemplar de uma Bíblia que havia demorado cem anos para ser manuscrita e ilustrada, um terceiro disse o nome de todos os santos.
No último lugar da fila o jovem Buckhard aguardava ansioso. Seus pais eram pessoas simples, e tudo que lhe haviam ensinado era atirar bolas para cima e fazer alguns malabarismos.
Quando chegou sua vez, os outros padres quiseram encerrar as homenagens, porque o antigo malabarista não tinha nada de importante para dizer, e podia desmoralizar a imagem do convento. Entretanto, no fundo do seu coração, também ele sentia uma imensa necessidade de dar alguma coisa de si para Jesus e a Virgem.
Envergonhado, sentindo o olhar reprovador dos seus irmãos, ele tirou algumas laranjas do bolso e começou a jogá-las para cima e segurá-las com as mãos, criando um belo círculo no ar, igual ao que costumava fazer quando ele e sua família caminhavam pelas feiras da região.
Foi só neste instante que o Menino Jesus começou a bater palmas de alegria no colo de Nossa Senhora. E foi para ele que a Virgem estendeu os braços, deixando que segurasse um pouco a criança, que não parava de sorrir.

Paulo Coelho

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Natal não é fazer compras, nem comer e beber compulsivamente

Paz e bênçãos! Desejo a todos um FELIZ NATAL. Que o Senhor encontre lugar em vosso coração aconchego. Através de vc ele quer reeditar esse mundo, criando relações novas, onde o amor de Deus seja evidente e abundante nas relações que estabelecemos, enquanto pessoa, comunidade ou intituição.

Oração: Ó DEUS, que revelastes ao mundo o esplendor da vossa glória pelo parto virginal da Virgem Maria, dai-nos venerar com fé pura e celebrar sempre com amor sincero o mistério tão profundo da encarnação. Em nome de Jesus, o Teu Filho, na Unidade do Espírito Santo. Amém!
Reflexão: O Mistério da Encarnação é tão grandioso e sublime que transcende nossa capacidade humana de compreensão. O Verbo da Vida, Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus se encarna no seio da Virgem Maria. O Deus Todo-Poderoso envia um Anjo até a casa de uma simples jovem e pede licença à ela para que o Filho de Deus pudesse se encarnar.

Como entender isso: Como o Criador coloca-se diante de uma criatura e pede licença para "entrar"? Pobreza maior não há! Mistério tão sublime e grandioso. Pelo "SIM" de Maria, Jesus Cristo assume a nossa condição humana. Deus veio visitar o seu povo. Seu nome é: EMANUEL (Deus está conosco)!

Uma boa preparação para a grande Festa da Encarnação do Amor!

Um abraço

Padre Carlos

domingo, novembro 25, 2007

Depoimento

Para os que não me conhecem sou FiL, um peregrino e andarilho tolo
que foi para o Caminho de Santiago e depois para o Caminho de Roma sem quase nada,
tendo de usar mochilas, sacos de dormir e outras coisas emprestadas.
Peregrino que hoje olha para traz e vê a diferença que o Caminho
Interno propiciou em sua vida.
Andar em jejum, fazer certas práticas de contrição, buscar ouvir a
Voz do Íntimo. Sentir a Harmonia do Altíssimo Se manifestando em
tudo e em todos.
Ah, que maravilhosos Caminhos percorri!
Escrevo para dar testemunho... escrevo como um ato de adoração.
Em meio ao Caminho de Santiago, eu levava umas meias velhas e
como havia feito um voto de pobreza e humildade para percorrer o
caminho eu levava apenas cinco meias finas sociais e duas meias grossas
para calçar.
(detesto passar mal ou sofrer agruras, amo comer e beber bem, dançar
(comecei a aprender... eheh)
Mas mesmo assim fiz meus votos de pobreza, humildade e castidade.
Antes do Caminho eu tinha um medo terrível de ter bolhas, torções,
ferimentos etc.
Até que alguns peregrinos me disseram:
- "Presta atenção nos seus pés." E meu Íntimo começou a me dizer:
- "Escutai-os... Escutai vossos pés e vosso ritmo. Sinta o ritmo da
vida no seu caminhar..." Eu me perguntava:
- E o meu tempo para caminhar? Tenho os dias contados.
E minha voz íntima respondia-me:
"O ritmo do peregrino não é o ritmo do cotidiano...
Entregue-se ao Ritmo do Peregrinar e terás o Domínio do Cotidiano."
E assim eu fiz... E ainda assim hoje ocorre em minha vida.
Caminhava sempre com duas meias: a fina e a grossa... Prestava
extrema atenção a cada passo...
Parava quando sentia uma leve dobradura na meia, quando sentia ser o
momento sentava-me ao lado da estrada fosse onde fosse. Sempre
surgia alguém ou uma lição naquele lugar.
E sempre me perguntava "O que esta pessoa tem para me ensinar?”, ou
ainda, "O que eu tenho para ensinar ou vivenciar para e com esta
pessoa ou situação? ”Então, como eu dizia... eu sentava na beira da
estrada tirava as meias, massageava meus pés com uma mistura que
levei do Brasil de arnica em álcool... Sentia meu corpo e o prazer de
tocar-me... Agradecia então a oportunidade única daqueles momentos.
Muitas vezes nesses momentos entrava em uma espécie de êxtase, de
uma alegria incomensurável. Um êxtase tão puro, intenso e forte que
tornava todas as outras alegrias que tive (inclusive o nascimento
dos meus filhos), coisas menores e banais. Ficava às vezes horas
assim quando então retornava para a lide. Calçava as meias que
haviam ficado penduradas pelo avesso para tomar um "arzinho", as
calçava com calma, prestando atenção a cada detalhe... (como se fosse
fazer amor com elas e com meus pés... sem pressa, com suavidade e
atenção a cada detalhe, sentindo... apreciando... deixando aquilo ser
a coisa mais importante do mundo naquele instante. Então começava a
seguir em meu ritmo torto... Focava cada troca de pernas; e a cada
série de passos entoava mantras ou orações ou frases, ou ainda e
mais importante, a cada série de passos mergulhava em Silêncio
Profundo... auscultava meu Íntimo e dele recebia bênçãos incríveis
em forma de orientação ou esclarecimentos.
Peregrinar não é fazer um trekking de longo percurso, tão pouco é o
simples caminhar seguindo o que outros escreveram em livros e guias
(tudo isso se pode fazer no Roteiro de Santiago) mas no Caminho de
Santiago o peregrinar pode ser algo especial e único. Basta ouvirmos
nossos pés e não o nosso Ego.
Meu Ego dizia: "Para que sofrer tanto? Pega um táxi ou ônibus..."
Meu Íntimo me dizia e questionava: "Tens a capacidade de vencer a
ti mesmo? De Superar teus limites? Vencer tuas paixões?"
Fiz então meu voto de apenas andar durante todo o caminho.
E quando fazemos votos, somos neles e por eles testados (isso eu
creio). Após os votos torci e rompi os ligamentos do tornozelo... E
apenas pela oração e por tudo o que acima mencionei é que terminei
meu caminho após 48 dias...
Perdi a concessão de vendas de seguros da minha corretora.
Perdi a concessão ao me recusar a cumprir meu tempo cotidiano; ao
me recusar a pegar um táxi ou ônibus. Perdi a concessão ao me
entregar ao Caminho... Ganhei o domínio de minha vida...
Se eu tivesse quebrado meus pés, sei que mesmo assim me
arrastaria... ou no Caminho permaneceria até que nele pudesse tornar
a caminhar... O que lhes proponho não é um ato de fanatismo ou
catarse religiosa... antes é um ato interno de iniciação. quando
estivermos em nossa hora de dor e sofrimento teremos a lembrança
das lições de Caminho... caso não as tenhamos seguido e praticado e
tenhamos pegado um táxi.
Bem, então me pergunto: Qual o táxi ou atalho que pegaremos na
vida real quando o sofrimento nos atingir?
O peregrinar, como sugiro, lhes dará recursos mentais, internos e
espirituais que os ajudarão na hora da dor no cotidiano.
Superar a si mesmo não por suas forças, mas pela sintonia com o
Altíssimo é a Arte Real do Peregrino.
Falei demais, perdoem...

L.C. Filardi

sábado, novembro 03, 2007

Como escolher um nome

Uma amiga achou um papagaio perdido embaixo de uma árvore e levou o bichinho para casa. Agora está preocupada em escolher um nome para ele e, se vai ter problemas com o IBAMA. Não tenho certeza até que ponto ajudou, mas contei-lhe a história do “meu” Loro.
Aos cinco anos, ganhei do meu pai um papagaio. Foi um dos presentes mais lindos da minha vida. Loro, durou 30 anos e morreu bem velho.Como minha mãe tinha que se ocupar do trabalho doméstico, alimentar o Loro era trabalho meu.Ele chegou em casa ainda bebê e, eu tinha que dar a comida na boca, com uma pequena colher.De manhã, ele tomava sopinha de café com leite e pão.Nas outras refeições, o cardápio para ele era o mesmo da família.Lorinho, ficou tão mal acostumado que, quando a gente colocava, na gaiola, a vasilha com a sua refeição, com o biquinho, ele procurava a...mistura.Então, ele aprendeu a comer carne, verduras, enfim ,tudo.
O papagaio é um bichinho muito alegre. O meu imitava o cachorro da casa, ria como nós ríamos, chorava como as crianças choravam, assobiava e até cantava. Mas seu canto era só na língua no "tá". Como em casa me chamavam de Tata, ele não só aprendeu o meu nome, como aprendeu a cantar nessa "língua". Suas canções eram muito desafinadas e engraçadas: ta-ta-ti-tooo. Realmente era hilário.
Já adolescente fui trabalhar e, quando estava no horário de chegar em casa para almoçar, Loro gritava feito um louco: Tataaaaaaaaa. Aí minha sabia que eu estava chegando.
Ele vivia trepado no meu ombro e adorava mordiscar o lóbulo da minha orelha, mas jamais me machucou.
Anos mais tarde quando terminei a faculdade e fui trabalhar em outra cidade, Loro ficou um pouco calado, só ria quando alguém falava com ele, depois, se aquietava. Com certeza, sentia a minha falta.
Ele sempre morou em uma gaiola aberta, em forma de L. Na minha casa não se escraviza animal. Mas, suas asinhas eram cortadas regularmente para que ele não fugisse para longe.Muitas vezes, ele voava até o chão para dar um passeio.
Quando éramos pequenos, às vezes, eu brigava com o meu irmão e gritava para a minha mãe: Ô mãe, olha o Toninho aqui! Loro olhava com a cabecinha enviesada a briga e gritava: Ô mãeeeeeeeee. E depois caia na gargalhada.E quando a briga terminava em choro, primeiro Loro chorava junto, depois era só gargalhada.
Em casa sempre tivemos gato e cachorro, quando morria um, logo arrumávamos outro. Mas, nenhum animal marcou tanto a minha vida como o meu querido e amado Lorinho.
Como escolher o nome? É tão simples olhe para ele e escolha com o coração, com amor.
Quanto ao IBAMA, as últimas notícias que eu tive sobre os animais em extinção, caso do papagaio, é que o IBAMA permite que se crie em casa desde que a pessoa tenha a autorização desse Órgão.
Não custa se informar, sem dizer que já tem um em casa.
Loro nunca foi legalizado até porque nem sabíamos que algo assim existia. Ele veio para mim quando eu tinha cinco anos, hoje tenho 53. Mas uma coisa eu garanto, ele foi muito amado, muito bem cuidado. E é isso o que realmente importa.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Dia do professor

Dia do Professor

“Ensinar é um exercício de imortalidade.
De alguma forma continuamos a viver, naqueles cujos olhos,
aprenderam a ver o mundo, pela magia da nossa palavra.
O professor não morrerá jamais”
Rubem Alves

quinta-feira, setembro 06, 2007

Em francês

Psique: Eros?
Eros2002: yes!
Psique: fale em francês comigo. Você sabe?
Eros2002: oui
Psique: diga algo então, acho esse idioma muito sensual
Eros2002: je vai aimé t'embrasser
Psique: traduza agora
Eros2002: dnas botre rendez-vous je te vais fasir du plaisir
Eros2002: vou adorar te abraçar
Eros2002: e no nosso encontro te dar prazer
Psique: fale mais
Eros2002: oh!
Psique: fale
Eros2002: não!
Psique: ah!
Eros2002: não escrevo há muito tempo
Eros2002: je vais te faire voir les etoiles
Psique: trate de aprender
Eros2002: de heureuz
Eros2002: reaprender
Psique: quero que sussurre em francês no meu ouvido
Eros2002: ok
Eros2002: depois
Psique: quando me telefonar
Eros2002: se você me morder todinho
Psique: pelo telefone?
Eros2002: experimentemos
Eros2002: amanhã
Eros2002: d'accord
Psique: vai ser uma delícia!
Eros2002: sim
Psique: sim
Eros2002: e como vai ser?
Psique: o quê?
Eros2002: a delícia
Psique: como?
Eros2002: você é que sabe
Psique: sim
Eros2002: como vai me deliciar?
Psique: sei lá
Eros2002: não sabe?
Eros: não
Eros2002: invente, imagine
Psique: não sei
Psique: se fosse pessoalmente ainda vá lá
Eros2002: esta acanhada agora?
Psique2002: experimente
Psique: não
Eros2002: oohhhhhhhhhhhhh
Eros2002: que pena
Eros2002: vou beber água
Psique: tá
Eros2002: então?
Psique: vou dormir boa noite
Eros2002: já?
Psique: sim, beijos

Missa em Uruguaiana

Na cidade de Uruguaiana, bem na divisa do Brasil e Argentina, a Igreja da praça Barão do Rio Branco fica cheia para a missa das 10h: argentinos, brasileiros, o prefeito, delegado, comerciantes...
O padre começa o sermão:
- Irmãos estamos hoje aqui reunidos para falar dos Fariseus...
Aquele povo desgraçado como esses argentinos que estão aqui...
- Ohhhhhhh !!!!
O maior tumulto tomou conta da igreja.
Os argentinos saíram xingando o padre, houve briga na porta da igreja. O prefeito
levou a mão à cabeça, indignado.
Acabada a confusão, o prefeito foi falar com o padre na sacristia:
- Padre, controle-se por favor, os argentinos vêm para este lado, gastam nas lojas, nos restaurantes, trazem divisas para a cidade.
Não faça mais isso.
Durante a semana a conversa entre todos era a mesma: o padre e o sermão do domingo. Aquele zum-zum-zum todo foi fazendo as pessoas ficarem curiosas e querendo saber mais sobre o que tinha acontecido.
Finalmente, chega o domingo. O prefeito chega na sacristia e fala com o padre:
- Padre, o senhor lembra do que conversamos antes, não? Por favor, não arrume nenhuma encrenca hoje, certo?
Vem a missa e o padre começa o sermão:
- Irmãos... Estamos aqui reunidos, hoje, para falar de uma pessoa da Bíblia: Maria Madalena. Aquela mulher, a prostituta que tentou Jesus, como essas argentinas que estão aqui...
Não deu outra : pancadaria na igreja, quebraram velas nos corredores, tapas, socos e algumas internações na Santa Casa da cidade.
O prefeito novamente foi ao encontro do padre: - Padre, o senhor não me disse que iria pegar leve? Padre, se o senhor não amansar, vou escrever uma carta à Congregação e pedir a sua retirada imediata.
Naquela semana, o tumulto era maior ainda. As conversas eram maiores ainda e todos não perderiam a missa do próximo domingo nem por decreto.
Na manhã do domingo, o prefeito entra na sacristia com a polícia e adverte o padre:
- Padre, pega leve desta vez, senão te levo em cana !!
A igreja estava abarrotada. Quase não se conseguia respirar de tanta gente, tinha moleque vendendo água, pirulito, gente recolhendo lata de alumínio, garrafas pet, vendedores de rifas...
Começa o sermão: - Irmãos.... Estamos aqui reunidos, hoje, para falar do momento mais importante da vida de Cristo: a Santa Ceia...
O prefeito então respirou aliviado.
Jesus, naquele momento, disse aos apóstolos :"Esta noite, um de vocês irá me trair".
Então João pergunta:
- Mestre, sou eu?
E Jesus responde:
- Não, João, não é você.
Pedro pergunta:
- Mestre, sou eu?
E Cristo responde:
- Não, Pedro, não é você.
Então Judas pergunta:
Mestre, soy yo?

Mordidinhas

Eros2002: oi
Psique: oi
Eros2002: como te sentes?
Psique: estou ótima!
Eros2002: sim?
Psique: e você?
Eros2002: quer uma mordidinha?
Eros2002: eu também
Psique: você é ótimo
Eros2002: sim
Psique: tá ficando muito assanhadinho
Eros2002: vou mandar a foto
Psique: agora?
Eros2002: sim
Eros2002: recebeu?
Psique: sim
Eros2002: ok
Psique: vou lhe enviar a minha
Eros2002: ok
Eros2002: já enviou?
Psique: sim
Psique: deve estar chegando
Eros2002: vou ver
Psique: não vá se assustar
Eros2002: com o quê?
Psique: a foto
Eros2002: oh!
Eros2002: assustar por quê?
Psique: aumente o tamanho dela
Eros2002: SIM
Eros2002: mas você cresce?...rsrs
Psique: heim?
Eros2002: está ok
Eros2002: estava a ver se dobrava a saia
Psique: pensou o que?
Psique: como?
Eros2002: desabotoar
Psique: tente quem sabe você consegue... rsrs
Eros2002: ok vou tentar
Psique: sonha Eros
Eros2002: sim, com quê?
Psique: com isso
Eros2002: com a saia?
Psique: simmmmmm
Eros2002: ok
Psique: desmaiou?
Eros2002: com quê?
Psique: você sumiu
Eros2002: não, estava a ver a foto com lupa, para ver os pormenores...
Psique: o que está fazendo?
Eros2002: estava brincando
Psique: eu sei
Eros2002: estava a tirar a roupa à foto, mas não consegui
Psique: ahahahahah
Eros2002: vou buscar um cigarro
Psique: tá
Psique: traga o vinho
Eros2002: não trouxe, não vi a mensagem a tempo
Psique: que pena
Eros2002: teremos tempo
Psique: de quê?
Eros2002: de beber o vinho
Eros2002: e quero que você o beba, enfim, você sabe...
Psique: por que não?
Eros2002: claro que sim
Psique: mas hoje, beba por mim, brinde a nossa amizade
Eros2002: ok, mas queria também um pouco da sugestão
Psique: diga
Eros2002: que você o beba em mim
Eros2002: e me dê um mordidinha
Psique: com certeza, vou beber você inteirinho...
Eros2002: sim?
Eros2002: que bom!
Psique: molhar a sua boca com vinho
Eros2002: e...
Psique: e morder os seus lábios
Eros2002: sim, hummmmmmmmmmmmm
Eros2002: e...
Psique: e, chega, está muito assanhado
Eros2002: estou?
Psique: yes!
Eros2002: no!

Trocando sons por cores

- Vamos parar um pouco. Não agüento esta cor laranja!

Onde está a cor de laranja? Estamos no Trastevere, em Roma, e tudo

que vejo são os bares, as pessoas na rua neste começo de primavera

gelado, e os sinos da igreja tocando. Já é quase noite de um dia

nublado, de modo que sequer podemos culpar o sol pela ilusão de

ótica.

Caminho com uma atriz que conheço já há algum tempo, mas que nunca

antes tivemos oportunidade de conversar o suficiente. Paro como

pediu, mas apenas por educação, já que aquela mulher equilibrada,

profissional, deve ser mais louca do que eu pensava.

Entramos em um restaurante para jantar. Pedimos risoto com trufas,

e um bom vinho. Conversamos sobre a vida, e de novo um comentário

absurdo:

- Esta comida está retangular!

Ela nota minha cara de espanto. Comida retangular?

- Você deve achar que estou louca; não estou. Houve um momento de

minha vida em que pensei que era daltônica (pessoa que confunde

uma cor com outra). Fui ao médico, e descobri que tenho um

distúrbio neurológico comum.

Depois que voltei para casa e imediatamente comecei a pesquisar no

computador, fiquei surpreso com algo que jamais tinha ouvido falar

em minha vida: sinestesia. Uma condição em que um estímulo de

determinado sentido provoca a percepção em outro. A pessoa que

sofre deste tipo de distúrbio, confunde sons com cheiros, visão

com paladar, cores com tato (não necessariamente nesta lógica).

Alguns estudos científicos alegam que a visão de auras em seres

humanos nasceu daí; discordo destes estudos, penso que todos nós

temos realmente um corpo astral que pode ser visto quando

alteramos a percepção. Mas o que mais me atraiu na pesquisa foi

saber que o que percebemos através de nossos cinco sentidos não é

uma verdade absoluta. As pessoas sinestésicas têm uma noção do

mundo completamente distinta da nossa, embora isso não os impeça

de levarem uma vida relativamente normal. Minha amiga atriz

trabalha na TV italiana todos os dias, e diz que terminou por se

acostumar.

Indo mais adiante na pesquisa, descobri um estudo na revista

britânica Cognitive Neuropsychology. Uma equipe de pesquisadores

do University College de Londres, chefiada pelo Dr. Jamie Ward,

foi mais além: alguns sinestésicos podem perceber cores em

palavras carregadas de emoção, como “amor” ou “filho”. A grande

maioria deles termina associando o nome de alguém à determinada

tonalidade. Ward descreve o caso de uma moça identificada por

G.W., que simplesmente pelo fato de escutar determinados nomes,

tinha seu campo de visão inteiramente coberto por determinada cor

associada àquela palavra.

Em uma revista de arte, aprendo que as aureolas que vemos em torno

das cabeças dos santos podem ter sido criadas por algum pintor

sinestésico na antiguidade, sendo repetidas pelos outros sem que

ninguém se perguntasse à razão daquele círculo de luz. O prêmio

Nobel de Física de 1965, certa vez disse em uma entrevista:

“quando escrevo equações no quadro-negro, noto os números e as

letras em cores diferentes”.Diz um artigo que Feynman faz parte de

um grupo de pessoas para quem o número dois pode ser amarelo, a

palavra carro tem gosto de geléia de morango, e certa nota musical

evoca a imagem do círculo.

Ward diz que a sinestesia não é absolutamente uma doença: “ao

contrário dos transtornos psiquiátricos, o sinestésico não tem

nenhuma função básica comprometida, e sim um sintoma positivo,

ausente na maioria dos outros seres humanos”.O grande problema

está em crianças em idade escolar, que não conseguem entender por

que sentem as coisas de maneira diferente dos outros.

Para minha grande surpresa, alguns estudos apontam que uma em cada

300 pessoas é sinestésica (embora a maioria diga que a relação é

de uma em 2.000).

No dia seguinte telefonei para a minha amiga e perguntei que

sensação ela sempre associava comigo. “Suave” foi sua resposta.

Bem, nem sempre a sinestesia tem lógica.

Paulo Coelho

Coisas

A máscara cai

O sorriso aparece

A ironia vence



O véu se rasga

A nudez se mostra

O pecado encanta



As cortinas se abrem

O espetáculo começa

O público se espanta



A mortalha se rebela

O rosto não é mais cadavérico

A morte não convence.



Ludimar Gomes Molina



Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL
visite:
http://cplitoral.blogspot.com
http://cliquepoetico.blogspot.com

Sexo e rock roll

Eros2002: saudades?
Psique: oi?
Psique: não quer ler sobre alfabetização comigo?
Eros2002: não, desculpe
Eros2002: estou ouvindo música, rock da pesada
Psique: tenho muita coisa para ler ainda
Eros2002: Aerosmith
Psique: você?
Eros2002: sim, adoro
Psique: esse tipo de música?
Psique: não acredito!
Eros2002: pode acreditar
Psique: pensei que gostasse de Beatles
Eros2002: também
Eros2002: quando era jovem era hippie
Psique: você era hippie?
Psique: não acredito!
Eros2002: sim!
Psique: essa eu preciso saber!
Psique: conte-me
Psique: fiquei curiosa
Eros2002: sim?
Eros2002: mas é verdade
Psique: usava cabelos longos?
Eros2002: sempre usei
Eros2002: mas como são meio encaracolados
Psique: viajava de carona?
Eros2002: e barba
Eros2002: yes
Psique: com mochila?
Eros2002: yes
Psique: uauaua
Eros2002: e botas couro
Psique: que legal!
Psique: acampava?
Eros2002: claro
Psique: botas de couro?
Psique: adoraria ver
Psique: você devia ficar muito alto
Eros2002: mas trepei pouco nessa altura,as mulheres eram muito tímidas
Psique: ahahahahahaha
Psique: que azar, não?
Eros2002: alto?
Eros2002: eu era alto para a época
Eros2002: 1,95
Psique: homens altos me deixam emocionada
Eros2002: excitada quer você dizer
Psique: é...
Psique: que mais?
Psique: conte-me
Psique: estou adorando
Psique: usava drogas?
Eros2002: não
Psique: todo hippie que se preza usava
Eros2002: sempre fui contra as drogas
Eros2002: eles, os que usavam drogas eram violentos
Psique: nem que fosse a básica maconha
Eros2002: não me agradava muito
Psique: que mais
Eros2002: mais?
Psique: sim, conte-me
Psique: tinha uma turma?
Eros2002: nada mais de especial
Psique: andava de moto?
Eros2002: não, tenho e sempre tive medo
Eros2002: andei por muitos lugares de corona
Psique: adoro isso!
Psique: viajei muito de carona, mas para trabalhar
Psique: existe uma associação de andarilhos aqui, ainda quero conhecê-los
Eros2002: ia a festivais de música e concentrações do contra
Psique: que legal
Eros2002: mas agora não estou muito a fim
Psique: o que mais gosta em termos de música?
Psique2002: tudo que for bom
Psique: exemplo
Eros2002: desde Mozart ou Beethoven, a Chico ou, outros
Psique: rapaz versátil...
Eros2002: e eclético
Psique: está sozinho?
Psique: ahahaha
Psique: eclético??????
Eros2002: completamente sozinho em casa
Psique: oh!
Eros2002: por quê?
Psique: por nada
Eros2002: quer que eu telefone?
Psique: não, preciso voltar para as minhas leituras

O Jardim e a Noite

Atravessei o jardim solitário e sem lua,
Correndo ao vento pelos caminhos fora,
Para tentar como outrora
Unir a minha alma à tua,
Ó grande noite solitária e sonhadora.

Entre os canteiros cercados de buxo,
Sorri à sombra tremendo de medo.
De joelhos na terra abri o repuxo,
E os meus gestos dessa encantação,
Que devia acordar do seu inquieto sono
A terra negra canteiros
E os meus sonhos sepultados
Vivos e inteiros.

Mas sob o peso dos narcisos floridos
Calou-se a terra,
E sob o peso dos frutos ressequidos
Do presente,
Calaram-se os meus sonhos perdidos.

Entre os canteiros cercados de buxo,
Enquanto subia e caía a água do repuxo,
Murmurei as palavras em que outrora
Para mim sempre existia
O gesto dum impulso.

Palavras que eu despi da sua literatura,
Para lhes dar a sua forma primitiva e pura,
De fórmulas de magia.

Docemente a sonhar entra a folhagem
A noite solitária e pura
Continuou distante e inatingível
Sem me deixar penetrar no seu segredo
E eu senti quebrar-se, cair desfeita,
A minha ânsia carregada de impossível,
Contra a sua harmonia perfeita.

Tomei nas minhas mãos a sombra escura
E embalei o silêncio nos meus ombros.
Tudo em minha volta estava vivo
Mas nada pôde acordar dos seus escombros
O meu grande êxtase perdido.

Só o vento passou e quente
E à sua volta todo o jardim cantou
E a água do tanque tremendo
Se maravilhou
Em círculos, longamente.

Sophia de Mello Breyner Andresen



Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL
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domingo, agosto 19, 2007

Nem todos os homens são Herbert Vianna

Vaidade - HERBERT VIANNA
Cirurgia de lipoaspiração?Pelo amor de Deus, eu não quero usar nada nem ninguém, nem falar do que não sei, nem procurar culpados, nem acusar ou apontar pessoas, mas ninguém está percebendo que toda essa busca insana pela estética ideal é muito menos lipo-as e muito mais piração? Uma coisa é saúde outra é obsessão. O mundo pirou, enlouqueceu.Hoje, Deus é a auto imagem.Religião, é dieta.Fé, só na estética. Ritual é malhação.Amor é cafona, sinceridade é careta, pudor é ridículo, sentimento é bobagem. Gordura é pecado mortal.Ruga é contravenção.Roubar pode, envelhecer, não.Estria é caso de polícia.Celulite é falta de educação.Filho da puta bem sucedido é exemplo de sucesso.A máxima moderna é uma só: pagando bem, que mal tem?
A sociedade consumidora, a que tem dinheiro, a que produz, não pensa em mais nada além da imagem, imagem, imagem.Imagem, estética, medidas, beleza. Nada mais importa. Não importam os sentimentos, não importa a cultura, a sabedoria, o relacionamento, a amizade, a ajuda, nada mais importa. Não importa o outro, o a volta, o coletivo. Jovens não tem mais fé, nem idealismo, nem posição política. Adultos perdem o senso em busca da juventude fabricada.Ok, eu também quero me sentir bem, quero caber nas roupas, quero ficar legal, quero caminhar correr, viver muito, ter uma aparência legal mas... uma sociedade de adolescentes anoréxicas e bulímicas, de jovens lipoaspirados, turbinados, aos vinte anos não é natural. Não é, não pode ser.
Que as pessoas discutam o assunto. Que alguém acorde. Que o mundo mude. Que eu me acalme. Que o amor sobreviva."
" Cuide bem do seu amor, seja quem for " Herbert Vianna


Antigamente a gente dizia:"nossa como vc está bonita, está gorda!"Nos dias atuais, chamar alguém de gordo é quase um sacrilégio, é ofensivo.Mudam-se as épocas, mudam-se os hábitos.O que está acontecendo hoje é que simplesmente há uma indústria milionária por trás de tudo isso ganhando rios de dinheiro. E, numa sociedade capitalista, em que o ter é muito, mas muito mesmo, mais importante do que o ser, é preciso ter corpo dentro da métrica da moda, isto é, ser magra, mas ter busto grande, sem celulite de preferência e, estria nem pensar.Em contrapartida é preciso consumir todas as batatas fritas que o estômago possa aguentar, todos os sanduíches 'macs', sorvetes, chicletes e balas. Sempre com refrigerante light, claro.Há uma absoluta e total incoerência entre o que se come e o peso que o modismo exige das pessoas. E, o homens também já sofrem dessa epidemia da magreza e da burrice estética.Infelizmente, a mídia contribui e muito para essa alienaçãoda beleza e, os artistas que precisam mostrar que são "belos e saudáveis", contribuem mais ainda para míopia da beleza.E olha que não é fácil fugir de tais esteriótipos, eu que o diga, uma saudável senhora cinquentona e ...gorda. As pessoas discrimimam a gente nas lojas e, encontrar roupas para gordos quase que só em lojas especializadas. Gordo tem problemas com o banco do ônibus, para entrar no carro, é piada entre os amigos e, os homens muitas vezes 'preferem' as magras. Na verdade os objetos são feitos para magros e destros. Certa vez, um amigo - homem - me disse a seguinte pérola: "E aí casou?", respondi que não. Então ele me saiu com essa : "deve ser porque vc está muito gorda". Detalhe: somos amigos há 30 anos e ele me adora. Mas, ele tem a ótica e a estética da moda imposta pela mídia.Eu não fiz lipo ou coisas afins mas, quem não tem uma cabeça centrada, é influenciável ou, acaba mesmo se sentindo feia por causa da influência dos modismos se envolve em tratamentos estéticos que na verdade não garantem a felicidade de ninguém. Nem um casamento perfeito e sequer que não se vai nunca perder o emprego.Sem querer radicalizar, há casos em que uma lipo ou outra atividade estética é necessária. E, às vezes, é até uma questão de vaidade, mas com moderação e bom senso vai mesmo fazer a pessoa se sentir melhor.Enfim, nem todos os homens são Herbert Vianna.

Quero-te

Eros2002: oi!
Eros2002: quero-te!
Psique: oi?
Psique: ahahahahahah
Eros2002: e ri?
Psique: mas que isso, Eros?
Eros2002: o quê?
Psique: isso é coisa que se fale?
Eros2002: é
Eros2002: e sabe por quê?
Psique: diga
Eros2002: porque você tem que ser minha
Psique: oh!
Psique: será?
Eros2002: falei ontem com um amigo para ver a possibilidade de você vir morar aqui.
Psique: é mesmo?
Psique: seria maravilhoso
Eros2002: calma
Psique: tá
Eros2002: porque há o componente do seu vencimento
Psique: humm
Psique: tem que dar para eu viver aí sozinha
Eros2002: ainda não há luz verde, digamos
Eros2002: claro
Eros2002: pelo menos
Psique: senão você vai ter que me sustentar
Eros2002: leitinho não faltará
Psique: ahahahahaha
Psique: só?
Eros2002: pelo menos
Psique: vamos aguardar
Psique: é uma boa notícia
Eros2002: pois
Eros2002: é alguma coisa
Psique: um presente para o dia de hoje
Eros2002: e o desejo de te amar fará o resto
Psique: ai meus deus
Eros2002: por quê?
Psique: só por isso, Eros?
Eros2002: não lhe agrada a idéia?
Psique: sei lá
Eros2002: já não sabe?
Psique: eu posso te decepcionar
Eros2002: duvido
Eros2002: você se empenhará e eu também
Eros2002: e, além disso, será uma etapa nova nas nossas vidas
Psique: mas é só por causa de sexo?
Eros2002: claro que não
Psique: ainda bem
Eros2002: mas, também
Eros2002: e, provavelmente será o início de uma grande amizade
Psique: ahahahaha
Eros2002: ri-te?
Psique: se emende Eros
Eros2002: como?
Eros2002: comendo-te?
Psique: é bom ter alguém que goste da gente
Psique: e não é só para me comer
Psique: claro que isso é importante
Psique: mas, o amor também
Eros2002: e o meu...?
Psique: ai Eros!
Psique: o que é que tem?
Eros2002: diga!
Psique: o que quer que eu diga?
Eros2002: a idéia de..., não a seduz?
Psique: e como!
Psique: mas, posso gostar ou não
Eros2002: arranjaremos uma forma
Psique: ahahahah
Psique: você é doido mesmo
Eros2002: pelo menos uma vez vai ter de fazer
Eros2002: e se você gostar?
Psique: bem...
Psique: aí você vai ter que repetir
Eros2002: bem?
Eros2002: ok
Psique: mas me deixou contente
Eros2002: com todo o gosto
Eros2002: mas não faça já castelos no ar
Psique: vou voltar a fazer dieta
Eros2002: aguarde com calma
Psique: ok
Eros2002: não é importante
Eros2002: a dieta
Psique: você me ama mesmo, Eros?
Eros2002: amo
Psique: sinto-me feliz com isso
Eros2002: ok
Psique: preciso ter alguém
Eros2002: claro que sim
Eros2002: agora tem o meu... virtual, por enquanto

Louco!

Eros2002: oi
Eros2002: está zangada?
Psique: não, só estou escrevendo um pouco.
Eros2002: gostei muito da sua opinião sobre a violência
Psique: sim?
Eros2002: sim
Psique: é uma visão que na prática não apresenta soluções
Eros2002: há muita violência em quase tudo
Psique: onde será que está a solução?
Eros2002: sim, mas é difícil resolver o problema.
Psique: esse é o problema!
Psique: caríssimo, só procura esse caminho quem é fraco de valores.
Eros2002: ok
Eros2002: você nunca cometeu um erro?
Psique: desse tipo não
Eros2002: ainda bem
Psique: nunca vendi o meu corpo, por exemplo,
Psique: trabalhei muito na minha vida
Eros2002: sim, estou vendo.
Psique: e nunca precisei fazer nada de errado
Eros2002: certo
Psique: o pouco que consegui é fruto do meu trabalho
Eros2002: você acha então que apesar de toda a violência que há nas favelas é possível viver-se com dignidade nesses locais?
Psique: com certeza, trabalhei em favela durante muitos anos como professora.
Eros2002: ok
Psique: lá tem muita gente boa e que trabalha duro
Eros2002: certo
Psique: só segue o caminho errado quem quer
Eros2002: ok
Eros2002: entendi
Psique: às vezes o caminho poder ser difícil, mas...
Eros2002: não pode haver só histórias tristes
Psique: com certeza, e todas as histórias de luta digna e trabalho honesto são bonitas.
Eros2002: ok
Eros2002: são cinco da manhã, devo estar louco.
Psique: louco de sono?
Eros2002: sim
Psique: vá dormir então
Eros2002: pois vou
Psique: boa noite
Eros2002: boa noite
Psique: xau
Eros2002: xau
Eros2002: vou desligar
Psique: descanse

A ti Musa

Eros2002: então diga, por favor,
Psique: conte-me sobre a sua noite ontem, onde foi?
Psique: onde foi passear?
Eros2002: foi de conversa de amigos
Eros2002: a um centro comercial e a um bar
Psique: mas foi a algum lugar bonito?
Eros2002: não muito
Psique: como são os seus amigos?
Eros2002: já não estava com eles há uns tempos e eles é que marcaram o lugar
Eros2002: são financeiros
Psique: o que é isso?
Eros2002: são pessoas da área financeira, logo muito cerebrais.
Eros2002: frios de análise
Psique: racionais?
Eros2002: sim
Eros2002: mais do que isso
Eros2002: muito virados para ouvir e contarem pouco
Psique: gosta de conviver com essas pessoas?
Eros2002: mas também tem piada
Psique: ah!
Eros2002: não estavam a trabalhar
Psique: e por que se reuniram?
Eros2002: era sexta-feira à noite
Eros2002: para por as conversas em dia
Eros2002: o grupo até já foi grande, só homens, mas eram jantares divertidos
Psique: não havia mulheres?
Eros2002: não
Eros2002: não calhou
Psique: como assim?
Eros2002: são meus conhecidos do mundo dos negócios, e não há ainda muitas mulheres no setor por aqui.
Psique: é pena
Eros2002: é
Eros2002: seria bem mais divertido
Psique: aqui, quando reúnem as professoras, é só mulher
Eros2002: cá, professoras também.
Psique também faz parte desse universo?
Eros2002: não faço muito parte desse grupo
Psique: não?
Eros2002: mas estes até são boas pessoas, mas muito cerebrais
Ero2002: eu é que lhes mostro o outro lado da vida
Psique: cerebrais = racionais?
Psique: o que mostra a eles, Eros?
Eros2002: alegria, humanidade, e uma visão mais otimista.
Eros2002: e de negócios
Psique: não sabem aproveitar a vida mesmo
Eros2002: mas ontem o local era acolhedor e propício a um bom vinho
Psique: ah!
Eros2002: beber um bom vinho deve ser na companhia de uma bela musa
Psique: brindou a mim?
Eros2002: sim, claro
Psique: legal
Eros2002: poetei para mim sobre o assunto
Psique: é mesmo?
Psique: conte-me
Eros2002: sim
Eros2002: pego no copo como se pegasse em ti
Eros2002: e brindo aos teus lábios com os meus
Psique: como é que é?
Eros2002: brindo aos teus lábios com os meus
Eros2002: e bebo imaginando o teu olhar
Eros2002: e ouço o teu riso alegre
Eros2002: e pouso de novo o copo
Eros2002: e lembro oceano azul e longo
Eros2002: a ti minha musa
Eros2002: fim
Psique: obrigada, Eros
Eros2002: de nada
Eros2002: o título é “A ti musa”
Psique: até onde nós vamos com tudo isso, Eros?
Eros2002: daqui a pouco vou para a cama...
Eros2002: acho que a uma bela amizade
Eros2002: sem complexos
Psique: Eros, boa noite!
Eros2002: que aconteceu?
Psique: nada
Eros2002: sério?
Eros2002: ofendi-a?
Eros2002: não acredito!
Psique: boa noite, não me ofendeu
Eros2002: ok, boa noite
Eros2002: você fugiu assim de repente
Psique: quero ficar um pouco sozinha, é só isso. Amanhã conversaremos com certeza
Eros2002: de certeza que é só isso?
Psique: sim, Eros
Eros2002: não me parece
Psique: o que quer que eu lhe diga então?
Eros2002: nada que seja contrariada
Psique: posso ir-me?
Eros2002: ok xau
Eros2002: boa noite
Psique: boa noite
Psique: xau
Eros2002: xau

domingo, agosto 12, 2007

Ócio
















líria porto

quão bom é dormir
numa cama à toa

qual uma canoa
a alisar o rio

a nos transportar
para outra margem

a sentir no dorso
o frescor da brisa

o corpo do amado
dar-nos arrepios

a fazer-nos gratos
grávidos

espíritos

*

http://liriaporto.blogspot.com/

domingo, agosto 05, 2007

Mensagem para você

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

Antoine de Saint-Exupéry

Proverbiando

Quem tudo quer tudo perde

Registrado por Mário Lamenza, em "Provérbios", parece ter origem espanhola. Pelo menos é citada em língua castelhana nesta passagem da famosa "Arte de Furtar": "Medraríamos todos se houvesse lei, que perca tudo quem abarcar tudo; e seria justa pela rega: que quien todo lo quiere todo lo pierde".-- Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL visite:http://cplitoral.blogspot.comhttp://cliquepoetico.blogspot.com

Poesia na rede caiçara

LEGADO

Valdir Alvarenga livro: Plenilúnio


Deus me deu o dom da poesia a luz da lucidez Deus me deu o entendimento do coração o silêncio da solidão e a sabedoria de se perder e se achar. Deus me deu a chave. Eu que encontre a porta!


AS GAIVOTAS

Narciso de Andrade - Santos

Ninguém interfere no destino das gaivotas. Sua vida azul é toda de altitudes e diálogos com o vento e as nuvens. Voando, elas bicam o sol e pousam suaves no espelho das marolas. Não cantam porque não querem; que sua voz se reserva para os segredos que murmuram entre si quando a tarde cai. A grande paisagem que é o mar só se completa quando as gaivotas rompem a linha do horizonte e saem do infinito com um peixe na boca. São belas, são fáceis, são lúcidas as gaivotas – ninguém interfere no seu destino.

Para Serafim

Gizelda Bassi

Guerreiro que em tantas batalhas lutastes o fiel combate, repousa tua mente, teu coração Busca em mim, tua paz.

Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL visite:http://cplitoral.blogspot.com/http://cliquepoetico.blogspot.com/

Papel (Hârtie)

Anunciou-se, creio, no apocalipse,
não me lembro muito bem,
que um grande furacão de papel
se aproxima da direção NO
e de todas as direções.

O furacão destruirá tudo no seu caminho,
convertendo tudo em papel.

As árvores se transformarão em papel,
os animais em papel,
o ouro em papel.

Os homens gritarão horrorizados,
e seus gritos
se tornarão cobras de papel.
Depois eles próprios se vão desfazer em papel:

papel de embrulho, papel de envelopes,
papel de sacos, papel de bíblia,
papel de cigarros.
E, sobretudo, de jornais.

Alguns se tornarão artigos de fundo,
outros entrarão nos problemas
industriais ou agrários,
outros passarão à página externa.
Os escritores que ainda não falharam
por falta de espaço,
falharão nos primeiros cinco quadrados.
Pra que falar em demasia:
haverá um furacão e um papel
mundial.

E no fim,
perdendo a paciência,
se entreabrirá a terra.
Engolirá tudo com apetite
e limpará a boca
com os homens que se tinham transformado
em guardanapos.

Marin Sorescu
poeta romeno

trad. Luciano Maia

Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL visite:http://cplitoral.blogspot.comhttp://cliquepoetico.blogspot.com

A mais bela

Eros2002: oi
Psique: oi
Eros2002: então a festa foi boa?
Psique: foi maravilhosa!
Eros2002: ótimo!
Psique: e eu fiz um brinde para você à mesa
Eros2002: obrigado
Psique: ontem tudo foi lindo, o baile, o jantar, tudo mesmo.
Eros2002: sim
Eros2002: e você a mais bela da sala
Psique: obrigada, você é gentil.
Eros2002: o convívio foi bom?
Psique: com os amigos?
Eros2002: sim
Eros2002: aqui também saí, e conversei até com gente que não conheço, foi muito proveitoso
Psique: ainda bem que superou o dia de ontem
Eros2002: sim, acabou bem
Eros2002: quase bem
Psique: eu hoje me sinto estranha
Eros2002: por quê?
Psique: não sei, desde cedo sinto vontade de ficar sozinha, até na praia fui caminhar só.
Eros2002: sim?
Eros2002: oh!
Eros2002: eu já te liguei três vezes hoje
Eros2002: e nada
Psique: fazia tempo que não me sentia assim
Eros2002: tive azar
Eros2002: será por causa de ontem?
Psique: é como se eu precisasse conversar comigo mesma
Eros2002: serei eu a desestabilizar?
Psique: não é você não, sou eu mesma.
Eros2002: mas o que se passa?
Psique: não sei
Eros2002: o que é que sente?
Psique: Desculpe, mas preciso atender minha amiga que chegou. Volto logo
Eros2002: ok até logo
Psique: ainda está aí, Eros?
Eros2002: oui
Psique: desculpe, mas não podia deixar a minha amiga
Eros2002: sim
Psique: e eu ganhei um chocolate
Eros2002: linda menina
Psique: ela sempre me traz algo
Eros2002: simpática
Psique: eu?
Eros2002: também
Psique: onde estávamos mesmo?
Eros2002: você se sente estranha
Psique: é, às vezes quero ficar sozinha, conversar comigo mesma
Psique: e hoje passei o dia inteiro assim
Eros2002: sim, não quer conversar comigo?
Psique: quero!

Gostosa

Eros2002: o que é para si madrugada?
Eros2002: Quatro ou 5 da manhã?
Eros2002: mas que horas?
Psique: é sobre telefonar para mim?
Eros2002: isso
Psique: me acorde uma madrugada dessas, vou adorar, use sua sensibilidade e “sinta" em que momento estarei dormindo.
Eros2002: ok, boa!
Psique: vai fazer isso?
Eros2002: sim, amanhã talvez não, mas brevemente.
Psique: não quero saber o dia, senão perde a graça.
Eros2002: ok
Eros2002: gostei muito de ouvir a sua voz
Psique: obrigada, você é muito gentil.
Eros2002: não, é verdade apenas.
Psique: fui à igreja rezar.
Eros2002: sim?
Psique: eu tinha prometido ir, achei chato faltar, estamos estudando os Atos dos Apóstolos.
Eros2002: sim, era chato.
Psique: mas agora vamos falar sério
Eros2002: de...
Psique: desculpe, mas acho que não vou dizer.
Psique: deixe para lá
Eros2002: diga
Psique: não, aquela "voz” interior disse ‘não’.
Eros2002: por que ela comanda?
Psique: é a minha intuição
Psique: às vezes eu não a ouço, mas me dano
Eros2002: não sei...
Psique: você me parece racional demais, Eros.
Psique: pelo menos me deu essa impressão
Eros2002: olhe que não, sou mesmo #open mind#
Eros2002: com limites, claro.
Psique: o que é isso?
Eros2002: mente aberta
Psique: isso é bom, e até onde vai essa sua mente aberta?
Eros2002: não sei
Eros2002: mas não é ilimitada
Psique: e quais são os seus limites?
Eros2002: não entra na área das drogas, por exemplo,
Eros2002: e os seus?
Eros2002: na violência
Psique: os meus limites são dados pelo meu coração
Psique: você ainda não sentiu isso?
Eros2002: um pouco
Psique: então,
Psique: não quero ter um homem só pela net
Eros2002: ah, ok
Psique: quero ter alguém aqui, ao vivo e em cores.
Eros2002: certo
Psique: essas nossa brincadeiras vão acabar me machucando
Eros2002: então temos de mudar o rumo
Eros2002: nunca gostei de ver alguém se machucar
Psique: pois é, já pensou se eu me apego a você?
Eros2002: você é quem sabe, eu ficaria muito triste se você se machucasse comigo.
Psique: já tem um ‘alarme’ tocando dentro de mim
Eros2002: isso não seria muito mau
Psique: por isso é que não quero mais poetar com você, por exemplo.
Psique: nós já fugimos do campo da literatura e faz tempo, concorda?
Eros2002: não a quero machucar e tudo farei para que isso não aconteça
Psique: adoro conversar com você
Eros2002: e eu com você
Psique: mas quero que nossa amizade tenha limites saudáveis
Psique: concorda?
Eros2002: sim, dentro desses princípios acho uma ótima idéia.
Eros2002: mas a idéia de você já esqueceu seu ex namorado também me agrada
Psique: gracinha...
Eros2002: é mesmo, acho você muito doce para que se amarre ao passado.
Psique: podemos nos comunicar pela net ou por telefone, mas vamos nos policiar.
Psique: você compreende o que eu quero dizer?
Eros2002: se você quiser me usar para largar o passado e conseguir partir para um futuro harmonioso, pode contar comigo.
Psique: usar você? Mas como?Nem posso tocá-lo?
Eros2002: não sei
Eros2002: mas o passado amargura-a muito
Eros2002: e acho que você não merece isso
Psique: eu ainda sofro muito por isso, mas...
Eros2002: mas...
Psique: não vou morrer por isso
Eros2002: ok
Eros2002: você é que sabe
Psique: e de um modo geral eu estou bem
Eros2002: ótimo
Psique: mas não posso amar alguém que não esteja dentro dos meus sonhos. Isto é loucura, Eros?
Eros2002: não
Eros2002: você é gostosa
Psique: eu!?
Eros2002: sim
Psique: você não sabe
Eros2002: mentalmente, e pelo que escreve é.
Eros2002: e pela voz
Psique: você me mata de rir
Eros2002: mato???
Psique: sim, me faz rir muito.
Eros2002: e é bom para a saúde
Psique: com certeza
Eros2002: então tudo bem.

Brasil - Por quem os sinos (não) dobram

Brasil - Por quem os sinos (não) dobram?
O Brasil padece sob o impacto do maior acidente aéreo da história do país, com pelo menos 200 vítimas fatais. A morte de todos nós é uma tragédia inevitável. Não tanto para quem parte, sim para quem fica. Se ao nascermos todos riem enquanto choramos, ao morrermos choram eles e nós sorrimos. É a certeza da fé. Porém, doem os laços afetivos que nos ligam àqueles que se foram. Já não mais podemos vê-los, ouvi-los, abraçá-los, partilhar com eles dificuldades e alegrias da vida. Agora restam o silêncio, a lembrança, a saudade doída. A nossa mão se estende no vazio…
Há que tratar a morte com solene seriedade. Para quem sofre a perda do outro, não é um fenômeno descartável. Em princípio, nossa sensibilidade deveria reagir toda vez que, por alguém, os sinos dobram. Se considerarmos que apenas no século XX o ser humano eliminou, pela violência, 100 milhões de semelhantes, então se pode entender por que somos insensíveis à morte alheia. Blindamos a sensibilidade para nos preservar. Já é sofrido chorar a perda do parente e do amigo; por que admitir que a morte do estranho fira o nosso coração?
A morte, no entanto, exige solene reverência. O rito de passagem precisa, de algum modo, ser celebrado: a identificação do morto, o velório, o enterro ou a incineração, as condolências, a liturgia religiosa, o luto. Caso contrário, somos condenados ao drama das famílias de desaparecidos sob a ditadura - não mudam de endereço na expectativa de que, um dia, eles reapareçam. Pois não há arbítrio capaz de enterrar a esperança de um coração materno ou paterno.
Tchekhov, no conto "Angústia", narra a triste solidão de um cocheiro que, tendo perdido o filho, não encontra nenhum ouvido disposto a escutá-lo. "Logo vai fazer uma semana que o filho morreu - diz o narrador - e ele ainda não conversou direito com ninguém... É preciso conversar com vagar, com calma... É preciso contar como o filho ficou doente, como sofreu, o que disse antes de morrer, como morreu. É preciso descrever o enterro e a viagem ao hospital para buscar a roupa do defunto".
Familiares e amigos dos passageiros e tripulantes do Airbus-A320 sentem-se como o cocheiro de Tchekhov em se tratando de nossas autoridades públicas. O cocheiro encontrou o consolo de, afinal, desabafar com a égua que lhe movia a carroça.
Mas nossas autoridades, à exceção do governador paulista e do prefeito da capital, excetuando escalões inferiores, não compareceram aos hotéis em que os familiares se hospedam em São Paulo, nem às celebrações litúrgicas, nem ao enterro de corpos identificados. Ainda que o fizessem, seria um consolo? Jamais. Porém, seria um gesto de grandeza cívica, de quem representa a nação e, em nome dela, sabe irmanar-se na dor, assim como não perde a oportunidade de irmanar-se na alegria.
E seria um gesto de que a tragédia do dia 17 de julho não se reduz a um mero acidente que exime os órgãos públicos de qualquer responsabilidade.
Quando o poder se coloca do lado das vítimas, ele aprende a mudar seu modo de proceder. E se humaniza. (Autor de "Treze contos diabólicos e um angélico", Planeta, entre outros livros).
*Frei Betto
* Frei dominicano. Escritor.

sexta-feira, agosto 03, 2007

A eleição que não terminou

A saída do ministro Waldir Pires trouxe à tona a verdade sobre a cobertura dita jornalística da tragédia de São Paulo: a imprensa não admite que perdeu as eleições. Não foi o candidato do PSDB, nem o partido que não o apoiou, nem o Estado que ele governou. Quem perdeu as eleições foi a mídia. E não assimilou a derrota. A cada tentativa de derrubar o presidente, euripidianamente, nova frustração. A cada expectativa de um índice que dê esperança à sanha, nova derrota com o resultado das pesquisas. Desesperada, abriu os microfones para a classe média contrariada, que usou o espaço com um discurso agressivo, vaiou na abertura dos Jogos e culpou o presidente pela tragédia. Aumentou a solidão.
Como se trata de paixão e a opinião pública não assumiu o discurso iconoclasta, pessoal e hidrofórico, a mídia ficou cada vez mais solitária, falando para menos gente e sem encontrar eco ao seu discurso. Com os déficits, o desespero aumentou, enquanto as verbas governamentais seguiram outro destino. O descontrole dos colunistas ganhou espaço em editoriais agressivos, em suspeitas infundadas, em acusações levianas. Algumas o governo sequer contestou, como demonstrou Mauro Carrara.
O "animus furiandi" resultante da rejeição afetiva a fez sofrer a ameaça de perda de espaço e de "status", com a estruturação da TV pública. O caos está deixando o país sem alternativa. Emir Sader divulgou uma lista de jornais virtuais, em diversas línguas, inclusive espanhol, para quem quer se informar. Ou se cansou da ilusão de ética da mídia controlada pelas grandes empresas, preterida pelo grande público e sem verbas de comunicação do governo. Mesmo a informação democratizada pela internet não conteve a raiva da derrota acachapante.
O movimento migratório de telespectadores, ouvintes e leitores das emissoras de Rádio e TV comerciais para as públicas pode ser saudável. Esse fato que acontece aqui é o mesmo ocorrido com as TVs em diversos países da Europa. Ele se acentua com a internet e se alimenta do cansaço com o consumo de informação controlada, distorcida e maquiada. Sem saber, essa mídia está ajudando no amadurecimento do público consumidor de informação. A mais dura lição da derrota eleitoral da mídia, não foi a maior votação da história do país, dada pela população, mas quando ela, sentindo-se ofendida e usada, transferiu milhões de votos do seu candidato ao presidente eleito, no segundo turno.
A raiva intensa, explosiva como em qualquer paixão antiga quando a relação se esgarça, avança no mesmo ritmo da perda de credibilidade. Como em abraço de afogado, juntam-se as mídias concentradas no eixo Rio-São Paulo, para punir a sociedade por sua escolha. A última forma foi o acidente aéreo. Nem o momento de dor imensurável das famílias, da sociedade e de um setor da economia, obteve trégua. Pires tem razão, é uma sanha que não leva nada em consideração, um desejo indômito de atingir o governo, mesmo que acabe com a sociedade que o elegeu.
Aos 80 anos Pires sabe identificar a insanidade. Especialmente quem exerce funções públicas há 50. O humor do noticiário se altera com a acentuação da crise. Agora jornalistas de expressão precisam rir ao anunciar as vaias ao presidente, não escondem a raiva, mesmo sofrendo desgastes na imagem e enfrentando perda de credibilidade. Não se sabe se crêem no que escrevem. Nem na recompensa salarial.
Como no caso de amor não correspondido, a maior dor é o novo amor do ser amado. Mesmo que a rejeição cause dor intensa, que cresça com os gestos espetaculares em troca da atenção, em vão, e sofra tal desgaste no desespero da conquista impossível, por fim não suporta o sofrimento e acaba. Paixão é mortal. No caso dessa, o que a mídia não consegue aceitar é a popularidade do presidente, nem que os ciclos se encerrem e, mais desastroso, que surjam novos modelos de mídia e informação, e se inaugurem formas civilizadas de relacionamento com os poderes. Eis o drama, que a tragédia acabou por mostrar.

* Antonio Carlos Ribeiro - Adital
* Teólogo e jornalista

Mensagem para você

Não basta dizer que amo a Deus; eu tenho de amar o meu próximo.

Madre Teresa de Calcutá

Tocar-te os lábios

Psique: oi
Eros2002: oi
Eros2002: diga minha musa
Psique: está tudo muito confuso, não?
Eros2002: não faz mal
Psique: você queria conversar sobre futebol na conferência?
Eros2002: não
Psique: sim
Eros2002: só lhe quis fazer uma pergunta
Eros2002: sobre o goleiro, que ainda não lhe havia posto
Psique: de qual time?
Eros2002: do salgueiros
Psique: lindo nome, aqui é uma escola de samba.
Eros2002: sim?
Eros2002: aqui um pequeno clube, mas da 1ª Liga
Psique: gosta de futebol, não?
Eros2002: sim
Psique: joga em algum time?
Eros2002: não agora com 55
Psique2002: parece que estamos a falar as escondidas
Psique: adoro isso!
Eros2002: você é demais!
Eros2002: e gosta de poetar
Psique: você também
Eros2002: sim, e com você.
Psique: hoje não, estou com dor de cabeça... rsrs
Eros2002: passava-lhe logo
Eros2002: ...o sol espelhava no rio
Psique: não!
Eros2002: e cintilava nos cálices de vinho
Psique: não!
Eros2002: o líquido avermelhado do néctar
Psique: eu fico nervosa quando você fala de amor comigo
Eros2002: é bom, depois relaxa.
Eros2002: está a gostar?
Psique: você sabe que sim
Eros2002: ainda bem
Eros2002: eu também
Eros2002: ...que teus lábios beberam.
Psique: não quero escrever hoje
Eros2002: posso escrever para si?
Psique: pode claro, adoro!
Eros2002: obrigado, musa
Psique: de nada, meu bem
Eros2002: ...e que a tua linda boca adoçaram
Eros2002: ...abria-se para mim quando sorrias
Psique: e...
Eros2002: ...e a mesa nos separava
Psique: que pena!
Eros2002: ...e uma gaivota nos vigiava
Psique: ela não é louca... rs rs
Psique: você me mata de rir, sabia?
Eros2002: ...e tu sorrias
Eros2002: ...e os lábios me seduziam
Eros2002: ...e lá ao fundo, no rio
Psique: vou ficar vermelha!
Eros2002: ...um barco apitava
Eros2002: e então peguei-te na mão
Psique: e eu fugi... rsrs
Eros2002: se estava presa pela minha mão?
Psique: adoro você, Eros
Eros2002: eu, você
Psique: mas estou com preguiça de poetar
Eros2002: ok
Eros2002: e a dor de cabeça, está a passar?
Psique: falei dor de cabeça para brincar com você... rs rs
Eros2002: ahahahaha
Psique: agora você entendeu, né?
Eros2002: claro!
Eros2002: é, mas eu hoje estou virado para a poesia
Eros2002: para poetar com você
Psique: sabe fazer massagem, Eros?
Eros2002: acho que sim, e você?
Psique: eu sou ótima nisso
Eros2002: sim?
Eros2002: nos pés, claro
Psique: não
Eros2002: não?
Psique: massagem é boa no corpo inteiro, meu bem
Eros2002: imaginava...
Psique: nós estamos deixando o grupo sozinho, na conferência
Eros2002: não, eu vou comentando também,
Psique: vamos voltar para lá?
Eros2002: não sei, são três da manhã
Psique: o que quer fazer?
Eros2002: vou ter de ir embora
Psique: conversar até o dia amanhecer?
Eros2002: pelo menos
Psique: lindo!
Eros2002: musa!
Eros2002: você é doce
Psique: você não imagina o quanto!
Psique: hoje não quero poetar, mas quero estar com você.
Eros2002: sim?
Psique: gosto de tocar nas pessoas
Eros2002: e eu também
Psique: quando não posso fazer isso com as mãos, faço com as palavras
Eros2002: sim, é bom, é...
Eros2002: e você toca-me bem
Psique: é?
Eros2002: sim
Eros2002: mas agora é má altura, pois vou ter de me ir deitar
Psique: boa noite então
Eros2002: calma!
Eros2002: mais 15 minutos, pode ser?
Psique: sim, já que está tão romântico hoje, continue a sua poesia
Eros2002: ok
Psique: solte-se
Eros2002: como me quer solto?
Psique: diga o que sente, fale-me de suas emoções
Eros2002: SIM
Psique: termine a sua poesia
Eros2002: ok
Eros2002:...e eu sonhando com um cálice de vinho
Psique: vamos acabar ficando bêbados pela net mesmo... rsrs
Eros2002: ...tocar-te os lábios, ainda umedecidos...

A quatro mãos

Eros2002: oi
Psique: oi
Eros2002: o Brasil ganhou
Psique: assistiu ao jogo também?
Eros2002: não, me disseram agora
Psique: o Brasil não jogou bem
Eros2002: mas ganhou
Psique: o espetáculo não foi bonito
Eros2002: não?
Psique: não
Eros2002: e de resto, tudo bem?
Eros2002: tem o poema ainda?
Psique: qual?
Psique: o último que escrevemos?
Eros2002: esse...
Psique: esqueci de salvar, infelizmente.
Psique: estava tão lindo!
Eros2002: ok
Psique: e você?
Eros2002: também não
Psique: que pena!
Eros2002: é
Psique: o primeiro que fizemos eu salvei, você se importa?
Eros2002: nada
Psique: não sei se faremos outros
Eros2002: como?
Psique: nada
Eros2002: nada?
Psique: eu disse que não sei se faremos outros...
Eros2002: por quê?
Psique: fiquei confusa, você já sabe, expliquei-lhe.
Eros2002: ok, mas ainda está?
Psique: e, depois, poema a quatro mãos não é daquele jeito.
Eros2002: a quatro mãos?
Psique: você precisa aprender a compartilhar
Psique: não fazíamos juntos?
Eros2002: ok
Psique: ou pelo menos deveríamos ter feito
Eros2002: está bem
Eros2002: mas você não gostou do último?
Psique: adorei!
Eros2002: então, continuemos não acha?
Psique: é o que quer?
Eros2002: oui
Eros2002: vou-me xau
Eros2002: beijos
Psique: beijos
Eros2002: e amanhã inspirado, poetaremos se você estiver a fim.

domingo, julho 29, 2007

Poetar

Eros2002: são dois em um
Psiques: como?
Eros2002: ora, lê os dois separadamente.
Psique: como?
Eros2002: relês o poema e encontras dois poemas
Psique: nós fizemos dois poemas?
Eros2002: sim
Psique: mas não é gostoso?
Eros2002: claro que sim
Eros2002: mas de fato são dois poemas
Psique: eu chamo isso de poetar!
Eros2002: podem ser apresentados separadamente ou em conjunto
Eros2002: poetar!
Eros2002: bonito!
Psique: é verdade!
Psique: poetar pode ser um título
Eros2002: sim, para uma ação de poesia ao desafio.
Psique: como está a noite aí?
Eros2002: ainda está escura
Psique: há estrelas?
Eros2002: há
Psique: frio?
Eros2002: nenhum
Eros2002: está até quente
Psique: quer parar já?
Eros2002: daqui a pouco
Eros2002: vou fumar enquanto imagino beber um vinho consigo...
Eros2002: brindemos!
Eros2002: tcim tcim
Psique: sim
Psique: brindemos
Psique: a quem?
Eros2002: à nossa
Psique: à nossa
Eros2002: e ao futuro melhor
Psique: cheio de poesia
Psique2002: e de alegria
Psique: Foi uma linda noite. Descanse agora. Obrigada
Eros2002: ok
Eros2002: boa noite
Psique: está bem, boa noite, então.
Eros2002: xau
Psique: xau
Psique: fique bem
Eros2002: você também
Psique: beijos
Eros2002: beijos para você também
Psique: cadê o sorriso?
Psique: agora pode ir
Eros2002: obrigadinhooo
Psique: poetar comigo fez você perder o sono?
Eros2002: não
Eros2002: sabe, eu gosto de falar com você e preciso falar com alguém
Psique: eu estou aqui
Eros2002: porque é diferente
Eros2002: ok
Eros2002: e o nosso poetar foi muito soft
Eros2002: obrigado
Eros2002: vou dormir
Psique: xau
Eros2002: bom é melhor eu ir

Mensagem para você

Aprender e nunca estar satisfeito é sabedoria; ensinar e nunca se cansar é amor.

Jô Petty

Madrugadas

Psique: estou pensando aqui.
Psique: acho que vou lhe mostrar um poema meu
Eros2002: sim?
Psique: o que acha?
Eros2002: até que enfim
Eros2002: já não era sem tempo
Psique: mas ele é simples
Eros2002: só querendo despir a mim...
Psique: eu não sou nenhum Drummond
Eros2002: e depois
Eros2002: até dará forças a mim para ir em frente
Psique: veja...
Eros2002: é bonito!
Psique: obrigada
Eros2002: publique
Psique: está brincando, é?
Psique: literariamente falando, isso não vale nada
Eros2002: por quê?
Eros2002: você aborda a noite de uma forma própria
Eros2002: eu me revejo nesse poema muitas vezes
Psique: é mesmo?
Eros2002: claro
Eros2002: a noite não é só diversão
Eros2002: é também alguma solidão e angústia
Psique: é reflexão, principalmente.
Eros2002: sim
Psique: o que você acha de escrevermos juntos?
Psique2002: ok
Psique: caminharemos juntos por alguns momentos.
Eros2002: sim
Psique: por algumas madrugadas,
Psique: está cansado?
Eros2002: estou a pensar
Psique: sobre...
Eros2002: a poesia a dois...
Psique: está tão silencioso
Eros2002: sim, estou calado.
Eros2002: mas gostei dos poemas
Psique: não fique tão calado
Eros2002: ok
Eros2002: você prefere escrever coletivamente
Psique: às vezes
Psique: quer escrever comigo?
Eros2002: agora?
Psique: quer tentar fazer um poema comigo agora?
Eros2002: vamos lá...

Proverbiando

Cansado de falar por aí provérbios e ditos populares sem saber o quê, às vezes, eles realmente querem dizer, sem saber também de sua origem ou quando foi usada pela primeira vez? A partir de agora o Clube de Poetas do Litoral apresenta o: Proverbiando. Toda semana reapresentando frases que estão na boca do povo há muito, muito tempo

Deus é grande, mas o mato é maior

Velho provérbio que tem curso principalmente no Nordeste do Brasil, em zonas assoladas pleo banditismo e onde há mais garantias para os que se escondem no mato do que para os que ficam em suas casas, à merce dos bandos facinorosos. A confirmar apenas em Deus, os caboclos, ameaçados, preferem invocar a proteção divina em um esconderijo que lhes parece seguro.
Visconde de Taunay, nas suas "Memórias", mostrava que esse dito já circulava no tempo da guerra contra Lopez.
Locução aproximada: Fia-te na Virgem e não corras!

Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL visite:http://cplitoral.blogspot.comhttp://cliquepoetico.blogspot.com

Poesia na rede

Angela Adonica

Hoje deitei-me junto a uma jovem puracomo se na margem de um oceano branco, como se no centro de uma ardente estrelade lento espaço. Do seu olhar largamente verdea luz caía como uma água seca,em transparentes e profundos círculosde fresca força. Seu peito como um fogo de duas chamas ardía em duas regiões levantado,e num duplo rio chegava a seus pés,grandes e claros. Um clima de ouro madrugava apenasas diurnas longitudes do seu corpoenchendo-o de frutas extendidase oculto fogo.

Pablo Neruda

Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL visite:http://cplitoral.blogspot.com/http://cliquepoetico.blogspot.com/

Mensagem para você

Não se escala uma montanha a passos largos, mas a passos lentos e com perseverança.

Pedro Casaldáliga

quinta-feira, julho 26, 2007

Mensagem para você

Olhe a proposta para hoje: se cair, levante-se; se atrasar, não desanime; se outros forem à sua frente, siga-os, mas vá sempre caminhando em direção aos horizontes do bem e da verdade.

Renato Zanolla

terça-feira, julho 24, 2007

Strip-tease

Psique: Você abriu a concha, esta noite.
Eros2002: eu?
Psique: sim
Eros2002: não percebi
Psique: eu estou em desvantagem
Eros2002: por quê?
Psique: agora você sabe mais de mim do que eu de você
Eros2002: será?
Psique: vá tirando a "roupa”... rs
Eros2002: você é muito perspicaz
Eros2002: você sabe tirar, perguntando.
Psique: não se esqueça que estamos falando de alma e não de corpo
Eros2002: eu estou a falar também disso, claro.
Eros2002: perguntando, mas não é de hoje.
Psique: como?
Eros2002: para eu conhecer um pouco de si, você foi-me conhecendo.
Psique: não sei
Eros2002: não sabe?
Eros2002: agora quem se ri sou eu
Psique: ainda acho que estou em desvantagem
Eros2002: claro, não esperava que dissesse outra coisa.
Psique: abaixe a sua defesa
Eros2002: eu aqui nem ataco nem defendo
Psique: como se sente agora? Quero conhecer suas emoções
Eros2002: mas diga o que falta saber?
Psique: as suas emoções
Eros2002: feliz por estar a ter esta conversa, cansado por ser 4h30 e, interessado em continuar a conversar consigo.
Psique: acho que tivemos esta noite a nossa melhor conversa, não?
Psique: quer ir embora?
Eros2002: estou a ficar um pouco cansado fisicamente
Eros2002: mas, tenho ainda alento para mais um pouco.
Eros2002: você me está a dar um pouco desse alento
Eros2002: e sei, eu não falei com ninguém sobre a minha mudança.
Eros2002: e nem sei como lhe fui contar
Eros2002: mas se o fiz foi porque achei bem
Eros2002: e não estou arrependido
Psique: mas uma boa amizade só vale quando há troca, não se esqueça.
Eros2002: por isso lhe digo que você sabe tirar "a roupa"
Psique: eu?
Eros2002: sim
Psique: ?
Eros2002: você soube fazer com que eu falasse num assunto tabu
Eros2002: pois a maioria das pessoas nem imagina
Psique: o que é tabu para você?
Eros2002: a mudança profissional
Psique: é um desafio
Psique: e vai ser maravilhoso
Psique: e você é corajoso
Eros2002: sim, mas tenho sempre medo antes de entrar na água.
Psique: vencerá, com certeza.
Eros2002: obrigado pelo apoio
Psique: o medo a gente vence
Eros2002: eu sei
Eros2002: amanhã vou dar um mergulho ao fim do dia
Eros2002: eu sou sempre assim antes
Psique: tem consciência das suas qualidades?
Psique: do pode fazer?
Psique: se estiver seguro de si, vencerá.
Eros2002: ok, obrigado
Psique: diga-me algo bonito para encerrarmos esta linda conversa que tivemos
Eros2002: estou ansioso por nos encontramos para bebermos um cálice de vinho
Psique: vai ser bárbaro!
Psique: vai ter música!
Eros2002: sim
Psique: legal!
Psique: é bom sonhar
Psique: aquece a alma
Psique: quer ir descansar, agora?
Eros2002: mais um pouco...

Mergulhar

Eros2002: oi
Psique: oi!
Eros2002: muito apaixonada hoje?
Psique: pela vida, pelos amigos, por Deus.
Eros2002: ai sim, mas o seu poema sugere outra coisa.
Psique: qual?
Eros2002: o da sociedade dos escritores
Psique: já leu Eros?
Eros2002: li e gostei
Psique: eu amo Drummond,
Eros2002: era de Drummond?
Psique: sim, pensou que era meu?
Eros2002: é como se fosse pela forma como o pôs
Psique: tenho vergonha de mostrar os meus poemas
Eros2002: ?
Psique: pois eles são muito simples
Eros2002: que disparate!
Psique: não estou pronta para desnudar meus sentimentos por aí
Eros2002: vai do começar
Psique: começar sempre é difícil
Eros2002: sim
Eros2002: a primeira vez é como mergulhar em uma piscina
Psique: sim?
Eros2002: primeiro concentro-me e reflito bastante
Eros2002: depois olho a água e mergulho com os olhos fechados, bem fundo...
Eros2002: e depois venho suavemente à tona
Psique: que delícia!
Eros2002: é mesmo
Psique: até senti o que você descreveu!
Eros2002: é bom, não é?
Psique: mas é diferente expor um poema ao público
Eros2002: você precisa dar um bom mergulho também
Eros2002: é a mesma coisa
Eros2002: eu sei que isso é o grande problema de todos nós
Psique: sim?
Eros2002: é dar o primeiro passo
Eros2002: e depois é que vamos realmente começar
Eros2002: foi assim sempre na minha vida
Eros2002: e sempre será, acho.
Psique: quer explicar melhor, por favor, em que pensa?
Eros2002: você pensa que as coisas são difíceis e tem receio
Psique: sim
Eros2002: depois arrisca um pouco e, olha... até que não foi mau
Eros2002: mas de fato ainda está a começar
Eros2002: e tudo irá mudar
Eros2002: mesmo a forma e o estilo de escrever
Eros2002: tudo muda e nada é como quando começou
Psique: você está filosofando!
Eros2002: não propriamente, estou lhe contando um pouco da minha experiência.
Eros2002: da minha vida
Psique: continue
Eros2002: é isto, não tem muito mais.
Psique: e o seu novo trabalho?
Eros2002: estou a preparar-me para mergulhar
Psique: que bom!
Eros2002: vamos ver como vai ser quando eu vier à tona
Psique: estarei aqui, torcendo por você.
Eros2002: vamos lá ver
Psique: vai dar certo!
Eros2002: xau
Psique: xau

Vinte anos depois - Paulo Coelho

Na próxima semana comemoramos (25 de julho) o dia de Santiago de Compostela. No ano passado, refiz a peregrinação de carro junto com minha mulher, para celebrar meus 20 anos de Caminho.

Me lembro de uma tarde, sentado em um jardim em Leon, olhando o rio que corre.

Ao meu lado, Christina – minha mulher – está lendo um livro. A primavera começa na Europa, já podemos colocar os agasalhos na mala. Andamos de carro todos estes dias, passando em alguns lugares que marcaram nossas vidas (Christina fez o Caminho de Santiago em 1990). Apesar de viajarmos sem pressa, cobrimos 500 kms. em menos de uma semana.

Agua mineral. Café.

Pessoas que conversam, pessoas que caminham.

Pessoas que também tomam seu café e sua água mineral.

Então volto vinte anos no tempo, uma tarde de julho ou agosto de 1986, um café, uma água mineral, pessoas conversando e caminhando – só que desta vez o cenário são as planícies que se estendem logo depois de Castrojeriz, meu aniversário se aproxima, já saí de Sant Jean Pied-de-Port faz tempo, e estou pouco além da metade do caminho que conduz a Santiago de Compostela.

Velocidade de caminhada: 20 kms por dia.

Olho para adiante, a paisagem monótona, o guia que também toma o seu café num bar que parece ter surgido de lugar nenhum. Olho para trás, a mesma paisagem monótona, com a única diferença que a poeira do chão tem as marcas das solas de meus sapatos – mas isso é temporário, o vento as apagará antes que chegue a noite.

Tudo me parece irreal.

O que estou fazendo aqui? Esta pergunta continua me acompanhando, embora várias semanas já se tenham passado.

Estou procurando uma espada. Estou cumprindo um ritual de RAM, uma pequena ordem dentro da Igreja Católica, sem segredos ou mistérios além da tentativa de compreender a linguagem simbólica do mundo. Estou pensando que fui enganado, que a busca espiritual não passa de uma coisa sem sentido ou lógica, e que seria melhor estar no Brasil, cuidando do que eu sempre cuidava.

Estou duvidando de minha sinceridade nesta busca, porque dá muito trabalho procurar um Deus que nunca se mostra, rezar nas horas certas, percorrer caminhos estranhos, ter disciplina, aceitar ordens que me parecem absurdas.

É isso: duvido da minha sinceridade. Por todos estes dias Petrus tem dito que o caminho é de todos, das pessoas comuns, o que me deixa muito decepcionado. Eu pensava que todo este esforço fosse me dar um lugar de destaque entre os poucos eleitos que se aproximam dos grandes arquétipos do universo. Eu pensava que ia finalmente descobrir que é verdade todas as histórias a respeito de governos secretos de sábios no Tibete, de porções mágicas capazes de provocar amor onde não existe atração, de rituais onde de repente as portas do Paraíso se abrem.

Mas é exatamente o contrário que Petrus me diz: não existem eleitos. Todos são escolhidos, se ao invés de se perguntarem “o que estou fazendo aqui”, resolverem fazer qualquer coisa que desperte o entusiasmo no coração. É no trabalho com entusiasmo que está a porta do paraíso, o amor que transforma, a escolha que nos leva até Deus.

É esse entusiasmo que nos conecta com O Espírito Santo, e não as centenas, milhares de leituras dos textos clássicos. É a vontade de acreditar que a vida é um milagre que permite que os milagres aconteçam, e não os chamados “rituais secretos” ou “ordens iniciáticas”. Enfim, é a decisão do homem de cumprir o seu destino que o faz ser realmente um homem – e não as teorias que ele desenvolve em torno do mistério da existência.

E aqui estou eu. Um pouco além do meio do caminho que me leva a Santiago de Compostela. Se as coisas são tão simples como ele diz, por que esta aventura inútil?

Nesta tarde em Leon, no longínquo ano de 1986, eu ainda não sei que daqui a seis ou sete meses irei escrever um livro sobre esta minha experiência, que já caminha por minha alma o pastor Santiago em busca de um tesouro, que uma mulher chamada Veronika preparara-se para ingerir algumas pílulas e tentar cometer suicídio, que Pilar chegará diante do rio Piedra e escreverá, chorando, o seu diário.

Tudo que sei é que estou fazendo este absurdo e monótono Caminho. Não existe fax, celular, os refúgios são poucos, meu guia parece irritado o tempo inteiro, e não tenho como saber o que está acontecendo no Brasil.

Tudo que sei neste momento é estou tenso, nervoso, incapaz de conversar com Petrus, porque acabo de me dar conta de que não posso mais voltar a fazer o que vinha fazendo - mesmo que isso signifique abrir mão de um dinheiro razoável no final do mês, de uma certa estabilidade emocional, de um trabalho que já conheço e do qual domino algumas técnicas. Preciso mudar, seguir em direção ao meu sonho, um sonho que me parece infantil, ridículo, impossível de ser realizado: tornar-me o escritor que secretamente sempre desejei ser, mas que não tenho coragem de assumir.

Petrus termina de beber seu café, sua água mineral, pede que pague a despesa e que continuemos logo a andar, já que ainda faltam alguns quilômetros até a próxima cidade. As pessoas continuam passando e conversando, olhando com o canto dos olhos os dois peregrinos de meia-idade, pensando como há gente estranha neste mundo, sempre pronta a tentar reviver um passado que já está morto (*). A temperatura deve estar em torno de 27o C porque é o final da tarde, e eu me pergunto silenciosamente, pela milésima vez, se não tomei a decisão errada.

Eu queria mudar? Acho que não, mas no final das contas este caminho está me transformando. Eu queria conhecer os mistérios? Acho que sim, mas o caminho está me ensinando que não existem mistérios, que – como dizia Jesus Cristo – não há nada oculto que não tenha sido revelado. Enfim, tudo está acontecendo exatamente ao contrário do que eu esperava.

Nos levantamos, e começamos a andar em silêncio. Estou imerso em meus pensamentos, em minha insegurança, e Petrus deve estar pensando – imagino eu – no seu trabalho em Milão. Está aqui porque de alguma maneira foi obrigado pela Tradição, mas possivelmente espera que esta caminhada termine logo, para que possa voltar a fazer o que gosta.

Andamos por quase todo o resto da tarde sem conversar. Estamos isolados em nossa convivência forçada. Santiago de Compostela está adiante, e não posso imaginar que este caminho me conduz não apenas à esta cidade, mas a muitas outras cidades do mundo. Nem eu nem Petrus sabemos que nesta tarde, na planície de Leon, eu estou também caminhando para Milão, sua cidade, aonde chegarei quase dez anos depois, com um livro chamado “O Alquimista”. Eu estou caminhando para o meu destino, tantas vezes sonhado e outras tantas vezes negado.

Em alguns dias chegarei exatamente no lugar onde hoje, vinte anos depois, escrevo estas linhas. Eu estou caminhando em direção ao que sempre desejei, e não tenho fé, nem esperança, que minha vida se transforme.

Mas continuo em frente.Em um futuro longínquo, em um dos bares onde passarei daqui a alguns dias, já está sentada minha mulher lendo um livro, e ali estou eu, digitando este texto em um computador, que minutos depois o envia por internet até o jornal onde será publicado.

Estou caminhando em direção a este futuro – nesta tarde de agosto de 1986.

(*) no ano que fiz a peregrinação, apenas 400 pessoas tinham percorrido o Caminho de Santiago. No ano de 2005, segundo estatísticas não oficiais, 400 pessoas passavam – por dia – diante do bar mencionado no texto.

Poesia na rede

Fuga

Era isso nosso amor;

Falava, voltava, trazia-nos

Uma pálpebra baixa, infinitamente distante,

Um sorriso petrificado, perdido

Na relva da manhã;

Uma concha estranha que nossa alma

Tentava decifrar a todo instante.



Era isso nosso amor, progredia lentamente

Tateando por entre as coisas que nos envolvem,

Para explicar por que recusávamos a morte

Tão apaixonadamente.



Embora nos agarrássemos a outras cinturas,

Enlaçássemos outras nucas, loucamente

Confundíssemos nosso hálito

Ao hálito do outro,

Embora fechássemos os olhos, era isso nosso amor…

Nada mais que o profundíssimo desejo

De suspender nossa fuga.



Giorgio Seferis, pseudônimo de Gorge Seferiadis,

poeta grego – 1900/1971



Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL
visite:
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Frei Beto - Adital

O que acontece quando crimes hediondos são praticados pelo governo de um país que se orgulha de ser o paladino da democracia e da liberdade? Seus admiradores emudecem de vergonha? Se tais atrocidades fossem cometidas pelos governos de Chávez ou de Fidel mereceriam manchetes garrafais. Seriam a prova contundente de que não têm escrúpulos, violam os mais elementares princípios de civilidade, agridem os direitos humanos...
Parte dessa história macabra, que envolve o conluio entre o Estado e o crime organizado, começa a vir à tona. Pressionado pela opinião pública, o governo dos EUA divulgou, na última semana de junho, o documento de 693 páginas curiosamente intitulado "Jóias da família", concernente às operações da CIA entre 1950 e 1970. É de estarrecer. A agência de informação e espionagem aparece como uma sucursal do sindicato do crime, dedicada a praticar assassinatos; escutas telefônicas e violação de correspondência ilegais; uso de seres humanos como cobaias involuntárias em testes de medicamentos; vigilância de jornalistas e personalidades, como Jane Fonda, contrárias à guerra do Vietnã.

Em 1960, a CIA decidiu assassinar Fidel Castro, o que já é grave por tratar-se de iniciativa de uma instituição do Estado. Contratou, para tanto, um mafioso, Johnny Roselli. A CIA prometeu a Roselli US$ 150 mil pela morte de Fidel, pois a Revolução afetava os interesses dos EUA na Ilha. O mafioso usou "laranjas" para envenenar Fidel. Todas as tentativas fracassaram.

A CIA planejou também o assassinato de Patrice Lumumba, líder anticolonialista do Congo, em janeiro de 1971. Ele havia sido eleito primeiro-ministro em 1960. Recorreu ao apoio da União Soviética quando a província de Katanga, rica em minérios, declarou sua independência, num movimento separatista apoiado pelas potências ocidentais. Um golpe de Estado o derrubou. Ao fugir da prisão domiciliar, Lumumba foi capturado, espancado, levado de avião para Katanga, fuzilado, e seu corpo derretido em ácido.

A CIA preparou ainda a emboscada que, numa estrada da República Dominicana, metralhou o ditador Rafael Trujillo, em maio de 1961. Participou também da eliminação, em 1970, do general chileno René Schneider, como parte de uma conspiração no intento de impedir a posse do presidente Salvador Allende. Tudo isso revelado no relatório do governo dos EUA!

A CIA e seus métodos criminosos prosseguem ativos, sob as bênçãos de Bush: seqüestros de supostos terroristas pelo mundo afora, levados para prisões secretas na Europa Central e no Egito, onde sofrem torturas; a utilização da base naval de Guantánamo como cárcere vedado a qualquer norma jurídica; a eliminação de líderes populares no Iraque e no Afeganistão etc.

O documento "Jóias da família" revela ainda que, no Brasil, a CIA espionou, nos anos 60, a Igreja Católica, mapeando as tendências ideológicas de padres e bispos. Após o golpe de 1964, acusou Brizola de ter recebido dinheiro da China e de Cuba para implantar guerrilha no sul do país.

"Jóias da família" comprova ainda o que todos já sabiam: o governo dos EUA deu apoio político, bélico e material ao golpe militar de 1964. Lincoln Gordon, então embaixador no Brasil, recebeu o respaldo direto do presidente Lyndon Johnson, e recomendou à Casa Branca "tomar medidas o mais brevemente possível para a entrega clandestina de armas, que não sejam de origem dos EUA, para forças partidárias de Castello Branco em São Paulo". As armas, a serem desembarcadas de um submarino, seriam utilizadas por "unidades paramilitares trabalhando com grupos militares democráticos, ou por militares amigos contra militares hostis, se necessário".

Se o documento da CIA mereceu pouco destaque na mídia, por que tanto alarde frente ao fato de Chávez decidir, respaldado pelas leis venezuelanas, não renovar a concessão de RCTV, e tanto silêncio quando a FCC (sigla em inglês de Administração Federal de Comunicações), órgão do governo dos EUA, fechou 141 concessionárias de rádio e TV entre 1934 e 1987? Em pelo menos 40 casos, a FCC sequer aguardou expirar o prazo da concessão, ao contrário do que fez Chávez na Venezuela.

Em julho de 1969, a FCC revogou a concessão da WLBT-TV; em 1981, da WLNS-TV; em abril de 1998, da rádio Daily Digest. Só na década de 80 ocorreram dez casos de não renovação.

Na Inglaterra, a autoridade estatal decretou, em março de 1999, o fechamento temporário do MED TV, canal 22; em agosto de 2006, revogou a licença da ONE TV; em janeiro de 2004, da Look 4 Love 2; em novembro de 2006, da StarDate TV 24; e em dezembro de 2006, do canal de televendas Auctionworld.

Em nenhum desses casos se ouviram protestos semelhantes aos causados pela decisão de Chávez.

A União Internacional de Telecomunicações (UIT) reconhece o direito soberano de cada governo "regulamentar suas telecomunicações, tendo em conta a importância crescente das telecomunicações para a salvaguarda da paz e do desenvolvimento econômico e social dos Estados".

(Autor de "A obra do Artista - uma visão holística do Universo", Ática, entre outros livros).


* Frei dominicano. Escritor.

sexta-feira, julho 13, 2007

Legado

Deus me deu
o dom da poesia
a luz da lucidez

Deus me deu
o entendimento do coração
o silêncio da solidão
e a sabedoria
de se perder e se achar.

Deus me deu
a chave.

Eu que encontre a porta!

Valdir Alvarenga
livro: Plenilúnio

quinta-feira, julho 12, 2007

Proverbiando

Cansado de falar por aí provérbios e ditos populares sem saber o quê, às vezes, eles realmente querem dizer, sem saber também de sua origem ou quando foi usada pela primeira vez? A partir de agora o Clube de Poetas do Litoral apresenta o: Proverbiando. Toda semana reapresentando frases que estão na boca do povo há muito, muito tempo


Lágrimas de crocodilo


Esta locução que é muito antiga, tem tido aplicação literária frequente. Entende-se por lágrimas de crocodilo qualquer manifestação de hipocrisia e de insincero pesar. Segundo Plínio o Antigo, os crodocilos das margens do Nilo choravam e faziam ruidosas manifestações de desespero, tal como as pessoas enlutadas, tudo isso para despertar a piedade e a atenção dos passantes, que iam ver do que se tratava e eram devorados. A lenda tem algo parecido com a do canto das sereias, de que fala Homero.
Shakespeare faz uma alusão às lágrimas de crocodilo na cena I do quarto ato de "Otelo", quando fala o mouro de Veneza, incetivando Desdêmona: " O devill, o devill, / If the earth could teeem with woman's tears,/ Each drop she falls would prove a crocodile" (Ó demônio, ó demônio,/ Se a terra estivesse cheia de lágrimas femininas,/ Cada gota que tombasse comprovaria um crocodilo).
Francis Bacon, filósofo e estadistas inglês, em seus ensaios e La Fontaine em suas poesias também usaram esta expressão.

-- Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL visite:http://cplitoral.blogspot.com/http://cliquepoetico.blogspot.com/

Proverbiando

Cansado de falar por aí provérbios e ditos populares sem saber o
quê, às vezes, eles realmente querem dizer, sem saber também de
sua origem ou quando foi usada pela primeira vez? A partir de
agora o Clube de Poetas do Litoral apresenta o: Proverbiando. Toda
semana reapresentando frases que estão na boca do povo há muito,
muito tempo


AO DEUS DARÁ


Locução surgida de uma resposta tradicionalmente dada pelos homens
de coração duro aos que estendiam a mão à caridade pública. Ao
rogo: "uma esmolinha pelo amor de Deus" - esses espíritos poucos
caritativos respondiam invariavelmente " Deus dará", depois
transformada em "Deus o favoreça". Os autores portugueses Gomes Monteiro e Costa Leão, em "A Vida
Misteriosa da Palavra", dizem que, no século XVII, viveu em Recife
um negociante português que, de tanto proferir aquelas duas
palavras, teve seu nome acrescentado para Manuel Alvares Deus
Dará, com o que não se irritou e antes, por favorecimento real,
pode usar a alcunha como "apelido d' armas". O nome passou ao seus
descendentes. Seu filho, Simão Alvares Deus Dára, exerceu o cargo
de provedor-mor da Fazenda do Brasil. Estar ao Deus dára é estar na penúria, em desolaradora miséria,
entregue à própria sorte, sem nenhuma ajuda terrena e apenas com a
problemática proteção celestial.


Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL visite:http://cplitoral.blogspot.com/http://cliquepoetico.blogspot.com/

A única Igreja de Cristo? Jung Mo Sung*

Adital - A Sagrada Congregação da Doutrina da Fé (SCDF) publicou no dia 10
de julho o documento "Respostas a questões relativas a alguns
aspectos da doutrina sobre a Igreja" com o objetivo de "dar com
clareza a genuína interpretação de algumas afirmações
eclesiológicas do Magistério", para que "o correto debate
teológico não seja induzido em erro, por motivos de ambigüidade". Neste documento, a SCDF afirma que só na Igreja Católica
permaneceram e permanecem todos os elementos da Igreja constituída
por Cristo. E que por isso, há a "plena identidade da Igreja de
Cristo com a Igreja Católica", a Igreja "governada pelo Sucessor
de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele".
A partir desta premissa, o documento afirma que, embora as Igrejas
Orientais e as Igrejas Protestantes e Evangélicas - que o
documento chama de "Comunidades separadas" - possam servir de
instrumentos de salvação por parte do Espírito, estas careceriam
de elementos fundamentais presentes somente na Igreja Católica. As
Igrejas Orientais são reconhecidas como Igrejas porque teriam
verdadeiros sacramentos em virtude da sucessão apostólica, mas
lhes faltaria o reconhecimento do papado (que a SCDF considera um
dos princípios constitutivos da Igreja de Cristo). Quanto às
Igrejas Protestantes e Evangélicas, chamadas de "comunidades
eclesiais" pela SCDF, o documento diz: "segundo a doutrina
católica, tais comunidades não têm a sucessão apostólica no
sacramento da Ordem e, por isso, estão privadas de um elemento
essencial constitutivo da Igreja. Ditas comunidades eclesiais que,
sobretudo pela falta do sacerdócio sacramental, não conservam a
genuína e íntegra substância do Mistério eucarístico, não podem,
segundo a doutrina católica, ser chamadas ‘Igrejas’ em sentido
próprio".
Como próprio documento diz, esta é a doutrina católica
interpretada ou definida pelo Magistério do Vaticano. Esta
doutrina revela mais como este papado e a SCDF se vêem e vêem a
Igreja Católica e as outras igrejas cristãs, do que como Deus
salva a humanidade ou atua no meio de nós. Isto é, este documento
revela mais sobre os seus propositores do que sobre a "visão" de
Deus sobre a Igreja de Cristo. Afinal, como São Tomás de Aquino já
dizia, de Deus nós sabemos mais o que Deus não é do que o que Deus
é.
Eu não quero discutir aqui a validade teológica ou não desta
interpretação dada pela SCDF. Eu fiquei mais pensativo sobre o que
leva as pessoas escreverem e aprovarem este tipo de documento que
dificulta ainda mais o diálogo ecumênico que todos - inclusive a
Igreja Católica - dizem ser importante, tanto para o futuro do
cristianismo quanto para a construção de um mundo onde culturas e
religiões diferentes possam conviver sem conflitos. Talvez a
preocupação delas seja mais interna - a coesão e o fortalecimento
da Igreja Católica -, do que o diálogo com os diferentes e com o
futuro da humanidade. E, talvez, esta preocupação seja tão grande,
tão centrada em si, que não permita reconhecer a existência dos
outros e, assim, os seus próprios limites e ambigüidades. Pensando
sobre este desejo obsessivo de superar a ambigüidade da condição
humana e também da própria Igreja (que desde o início do
cristianismo sempre se assumiu como "santa e pecadora"), eu me
lembrei de algumas reflexões de Erich Fromm (no seu livro "A
anatomia da destrutividade humana").
Ele descreve "um estado da experiência em que só a própria pessoa,
seu corpo, suas necessidades, seus sentimentos, seus pensamentos,
seus atributos, tudo e todos que lhe pertençam são experimentados
como plenamente real, enquanto que tudo e todos que não formam
parte da sua pessoa ou não constituem objeto de suas necessidades
não são tidos como interessantes, não são plenamente reais, são
percebidos apenas por meio de um reconhecimento intelectual,
enquanto afetivamente sem peso e sem cor" como narcisismo.
E para ele o narcisismo não é um fenômeno somente individual. "O
narcisismo de grupo tem importantes funções. Em primeiro lugar,
incrementa a solidariedade e a coesão do grupo, e [...] Em segundo
lugar, é extremamente importante como elemento que dá satisfação
aos membros do grupo e em particular àqueles que tenham poucas
razões para se sentirem orgulhosos e de alguma valia". Além disso,
Fromm nos alerta que "o narcisismo de grupo é uma das fontes mais
importantes da agressão humana, e, ainda assim, esse fato, como
todas as outras formas de agressão defensiva, é uma reação a um
ataque a interesses vitais". Por isso, o narcisismo de grupo é tão
"popular" nos mais diversos setores da vida social, seja no campo
da economia, política ou da religião.
Eu não estou afirmando que este documento expressa um "quê" de
narcisismo, nem que este fenômeno não possa ocorrer em outras
Igrejas cristãs ou em outras religiões. É um assunto muito
complexo para afirmar algo assim. Eu só quis compartilhar estas
reflexões de Fromm que me surgiram ao ler o documento. Se esta
lembrança tem algum sentido, talvez ela possa nos ajudar
lembrando-nos que a missão das Igrejas cristãs não consiste em se
anunciar como algo pleno e absoluto, mas em servir como uma
comunidade onde as pessoas confirmam e fortalecem a fé para viver,
na ambigüidade das nossas vidas, a missão de anunciar a boa-nova
de Jesus Cristo. Só no trabalho conjunto, com pessoas e Igrejas
cristãs ou não, para anunciar o Reino de Deus, talvez nós possamos
ter uma pequena experiência do que é ou pode ser a verdadeira
Igreja de Cristo. Afinal, Deus não se encarnou como cristão, mas
como servo e se fez humano.
* Professor de pós-grad. em Ciências da Religião da Univ.
Metodista de S. Paulo e autor de Sementes de esperança: a fé em um
mundo em crise