domingo, novembro 25, 2007

Depoimento

Para os que não me conhecem sou FiL, um peregrino e andarilho tolo
que foi para o Caminho de Santiago e depois para o Caminho de Roma sem quase nada,
tendo de usar mochilas, sacos de dormir e outras coisas emprestadas.
Peregrino que hoje olha para traz e vê a diferença que o Caminho
Interno propiciou em sua vida.
Andar em jejum, fazer certas práticas de contrição, buscar ouvir a
Voz do Íntimo. Sentir a Harmonia do Altíssimo Se manifestando em
tudo e em todos.
Ah, que maravilhosos Caminhos percorri!
Escrevo para dar testemunho... escrevo como um ato de adoração.
Em meio ao Caminho de Santiago, eu levava umas meias velhas e
como havia feito um voto de pobreza e humildade para percorrer o
caminho eu levava apenas cinco meias finas sociais e duas meias grossas
para calçar.
(detesto passar mal ou sofrer agruras, amo comer e beber bem, dançar
(comecei a aprender... eheh)
Mas mesmo assim fiz meus votos de pobreza, humildade e castidade.
Antes do Caminho eu tinha um medo terrível de ter bolhas, torções,
ferimentos etc.
Até que alguns peregrinos me disseram:
- "Presta atenção nos seus pés." E meu Íntimo começou a me dizer:
- "Escutai-os... Escutai vossos pés e vosso ritmo. Sinta o ritmo da
vida no seu caminhar..." Eu me perguntava:
- E o meu tempo para caminhar? Tenho os dias contados.
E minha voz íntima respondia-me:
"O ritmo do peregrino não é o ritmo do cotidiano...
Entregue-se ao Ritmo do Peregrinar e terás o Domínio do Cotidiano."
E assim eu fiz... E ainda assim hoje ocorre em minha vida.
Caminhava sempre com duas meias: a fina e a grossa... Prestava
extrema atenção a cada passo...
Parava quando sentia uma leve dobradura na meia, quando sentia ser o
momento sentava-me ao lado da estrada fosse onde fosse. Sempre
surgia alguém ou uma lição naquele lugar.
E sempre me perguntava "O que esta pessoa tem para me ensinar?”, ou
ainda, "O que eu tenho para ensinar ou vivenciar para e com esta
pessoa ou situação? ”Então, como eu dizia... eu sentava na beira da
estrada tirava as meias, massageava meus pés com uma mistura que
levei do Brasil de arnica em álcool... Sentia meu corpo e o prazer de
tocar-me... Agradecia então a oportunidade única daqueles momentos.
Muitas vezes nesses momentos entrava em uma espécie de êxtase, de
uma alegria incomensurável. Um êxtase tão puro, intenso e forte que
tornava todas as outras alegrias que tive (inclusive o nascimento
dos meus filhos), coisas menores e banais. Ficava às vezes horas
assim quando então retornava para a lide. Calçava as meias que
haviam ficado penduradas pelo avesso para tomar um "arzinho", as
calçava com calma, prestando atenção a cada detalhe... (como se fosse
fazer amor com elas e com meus pés... sem pressa, com suavidade e
atenção a cada detalhe, sentindo... apreciando... deixando aquilo ser
a coisa mais importante do mundo naquele instante. Então começava a
seguir em meu ritmo torto... Focava cada troca de pernas; e a cada
série de passos entoava mantras ou orações ou frases, ou ainda e
mais importante, a cada série de passos mergulhava em Silêncio
Profundo... auscultava meu Íntimo e dele recebia bênçãos incríveis
em forma de orientação ou esclarecimentos.
Peregrinar não é fazer um trekking de longo percurso, tão pouco é o
simples caminhar seguindo o que outros escreveram em livros e guias
(tudo isso se pode fazer no Roteiro de Santiago) mas no Caminho de
Santiago o peregrinar pode ser algo especial e único. Basta ouvirmos
nossos pés e não o nosso Ego.
Meu Ego dizia: "Para que sofrer tanto? Pega um táxi ou ônibus..."
Meu Íntimo me dizia e questionava: "Tens a capacidade de vencer a
ti mesmo? De Superar teus limites? Vencer tuas paixões?"
Fiz então meu voto de apenas andar durante todo o caminho.
E quando fazemos votos, somos neles e por eles testados (isso eu
creio). Após os votos torci e rompi os ligamentos do tornozelo... E
apenas pela oração e por tudo o que acima mencionei é que terminei
meu caminho após 48 dias...
Perdi a concessão de vendas de seguros da minha corretora.
Perdi a concessão ao me recusar a cumprir meu tempo cotidiano; ao
me recusar a pegar um táxi ou ônibus. Perdi a concessão ao me
entregar ao Caminho... Ganhei o domínio de minha vida...
Se eu tivesse quebrado meus pés, sei que mesmo assim me
arrastaria... ou no Caminho permaneceria até que nele pudesse tornar
a caminhar... O que lhes proponho não é um ato de fanatismo ou
catarse religiosa... antes é um ato interno de iniciação. quando
estivermos em nossa hora de dor e sofrimento teremos a lembrança
das lições de Caminho... caso não as tenhamos seguido e praticado e
tenhamos pegado um táxi.
Bem, então me pergunto: Qual o táxi ou atalho que pegaremos na
vida real quando o sofrimento nos atingir?
O peregrinar, como sugiro, lhes dará recursos mentais, internos e
espirituais que os ajudarão na hora da dor no cotidiano.
Superar a si mesmo não por suas forças, mas pela sintonia com o
Altíssimo é a Arte Real do Peregrino.
Falei demais, perdoem...

L.C. Filardi

sábado, novembro 03, 2007

Como escolher um nome

Uma amiga achou um papagaio perdido embaixo de uma árvore e levou o bichinho para casa. Agora está preocupada em escolher um nome para ele e, se vai ter problemas com o IBAMA. Não tenho certeza até que ponto ajudou, mas contei-lhe a história do “meu” Loro.
Aos cinco anos, ganhei do meu pai um papagaio. Foi um dos presentes mais lindos da minha vida. Loro, durou 30 anos e morreu bem velho.Como minha mãe tinha que se ocupar do trabalho doméstico, alimentar o Loro era trabalho meu.Ele chegou em casa ainda bebê e, eu tinha que dar a comida na boca, com uma pequena colher.De manhã, ele tomava sopinha de café com leite e pão.Nas outras refeições, o cardápio para ele era o mesmo da família.Lorinho, ficou tão mal acostumado que, quando a gente colocava, na gaiola, a vasilha com a sua refeição, com o biquinho, ele procurava a...mistura.Então, ele aprendeu a comer carne, verduras, enfim ,tudo.
O papagaio é um bichinho muito alegre. O meu imitava o cachorro da casa, ria como nós ríamos, chorava como as crianças choravam, assobiava e até cantava. Mas seu canto era só na língua no "tá". Como em casa me chamavam de Tata, ele não só aprendeu o meu nome, como aprendeu a cantar nessa "língua". Suas canções eram muito desafinadas e engraçadas: ta-ta-ti-tooo. Realmente era hilário.
Já adolescente fui trabalhar e, quando estava no horário de chegar em casa para almoçar, Loro gritava feito um louco: Tataaaaaaaaa. Aí minha sabia que eu estava chegando.
Ele vivia trepado no meu ombro e adorava mordiscar o lóbulo da minha orelha, mas jamais me machucou.
Anos mais tarde quando terminei a faculdade e fui trabalhar em outra cidade, Loro ficou um pouco calado, só ria quando alguém falava com ele, depois, se aquietava. Com certeza, sentia a minha falta.
Ele sempre morou em uma gaiola aberta, em forma de L. Na minha casa não se escraviza animal. Mas, suas asinhas eram cortadas regularmente para que ele não fugisse para longe.Muitas vezes, ele voava até o chão para dar um passeio.
Quando éramos pequenos, às vezes, eu brigava com o meu irmão e gritava para a minha mãe: Ô mãe, olha o Toninho aqui! Loro olhava com a cabecinha enviesada a briga e gritava: Ô mãeeeeeeeee. E depois caia na gargalhada.E quando a briga terminava em choro, primeiro Loro chorava junto, depois era só gargalhada.
Em casa sempre tivemos gato e cachorro, quando morria um, logo arrumávamos outro. Mas, nenhum animal marcou tanto a minha vida como o meu querido e amado Lorinho.
Como escolher o nome? É tão simples olhe para ele e escolha com o coração, com amor.
Quanto ao IBAMA, as últimas notícias que eu tive sobre os animais em extinção, caso do papagaio, é que o IBAMA permite que se crie em casa desde que a pessoa tenha a autorização desse Órgão.
Não custa se informar, sem dizer que já tem um em casa.
Loro nunca foi legalizado até porque nem sabíamos que algo assim existia. Ele veio para mim quando eu tinha cinco anos, hoje tenho 53. Mas uma coisa eu garanto, ele foi muito amado, muito bem cuidado. E é isso o que realmente importa.