terça-feira, dezembro 19, 2006

A festa pagã

Com certeza Jesus não nasceu no Natal. Nessa data comemorava-se o culto ao deus Mitra, muito popular em Roma, no século II. Mas a história do Natal começa bem antes, há aproximadamente 7000 anos antes de Cristo. Celebrava-se o solstício de inverno, que era a noite mais longa do hemisfério norte, no final de dezembro. A partir daí os dias ficavam mais longos, facilitando o plantio e a colheita. A festa durava dias, regada a muito comida e vinho.
O Papai Noel realmente existiu, chamava-se Nicolau de Myra e era um bispo. Diz a lenda que ele era um homem muito rico e que gostava de ajudar as pessoas. Viveu no século IV, na Ásia Menor. A imagem do religioso bonzinho só mudou no século XIX com o surgimento da publicidade natalina. Nessa época a imagem do religioso foi modernizada e substituída pelo Papai Noel que conhecemos hoje: gorducho, com roupas vermelhas e que mora no Pólo Norte. Na década de 30, sua imagem foi usada pela Coca-Cola e fez tanto sucesso, que passou a ser a figura mais popular do Natal. Além das compras, claro.
Hoje, o Natal é símbolo de todos os excessos: o comer de mais, beber sem limites, afundar-se no cartão de crédito, estourar o cheque especial. Sem falar na loucura que é entrar em um supermercado ou andar pelo centro comercial.
Alguém se lembra de Jesus? Aqueles que freqüentam alguma igreja, sim. Mas, a grande massa, ignara e frenética, que compra compulsivamente, só pensa em gastar. O que faz a alegria do comércio e da indústria. Aí, aparece na mídia aquelas campanhas, feitas por gente tão abnegada, recolhendo brinquedos, roupas e alimentos e, que não tem consciência de que estão só inflacionando as vendas, dando grandes lucros aos comerciantes.
Pergunto: se a civilização ocidental não tivesse o hábito de dar presentes, alguma criança ficaria infeliz? A própria sociedade cria vícios, hábitos e depois não é capaz de perceber seus resultados nefastos. E, ironicamente, tenta neutralizá-los com campanhas , ditas fraternais.
O Natal, para a maioria da população, já não é mais usado para lembrar o nascimento de Cristo. Mas sim, para uma frenética e consumista ilusão de fraternidade. Uma verdadeira farra pagã. Voltamos ao começo....

Feliz Natal


Embora eu saiba muito bem e digo parafraseando, que o homem (Andros) é o ser que é capaz de ler a mensagem do mundo. Jamais é um analfabeto. É sempre aquele que, na multiplicidade de linguagem, pode ler e interpretar. Viver é ler e interpretar. No efêmero pode ler o permanente; no temporal, o Eterno; no mundo, Deus. Então o efêmero se transfigura em sinal de presença do Permanente; o temporal em símbolo da realidade do Eterno; o mundo em grande sacramento de Deus. Então, como se diz: Nada acontece por acaso. Tudo tem um propósito. Mas Deus não nos faz de marionetes. Ele não brinca conosco. Ele nos respeita naquilo que escolhermos. Pode ser a VIDA. Mas pode ser também a MORTE. Pode ser a FELICIDADE, mas pode ser também o contrário. Não é um Deus violento ou autoritário. Que usa do poder arbitrariamente. Por isso Ele respeita a vontade do ser criado. Ainda mais, somos um nó de relações e pulsões orientadas para todas as direções. Não estamos fixados nesse ou naquele objeto, mas na totalidade dos objetos. Por causa disto somos permanentes desertores de tudo que é estanque e limitados e eternos protestantes e contestadores dos mundos fechados. Em nós não há somente o ser, mas principalmente um poder-ser. Somos projeção e tendência para um sempre mais, para um Incógnito, para o novum e para o ainda-não. Não temos nada a temer. Aproveito a oportunidade para desejar a todos um FELIZ E SANTO NATAL! Que Deus confundido na realidade do Cristo que vem e nasce na manjedoura, encontre nos nossos corações o aconchego. Que o projeto de Deus exaurido nos ditos e fatos de Jesus, seja absorvido por nós de tal forma, que o resultado imediato seja traduzido através do amor e da bondade, explícitos nas relações de nós estabelecemos com o mundo e com as pessoas. Que o ano que se inicia, seja de fato novo e cheio de boas realizações. Que a vida se torne mais plena e abundante para todos.
Padre Carlos F. da Silva

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Para refletir

Vimos a morte de um ditador que matou, torturou e pilhou, para não dizer roubou (rico não rouba, desvia). Estou falando de Pinochet. Foi tarde. E infelizmente a igreja católica esteve lá, celebrando o quê? Somos a favor da vida. Há momentos na vida em que a consciência cristã deve anunciar e denunciar, ou peca diante de Deus, atraiçoando a verdade do homem e de Cristo. O cristão é chamado a testemunhar, no meio do mundo, o mistério sagrado do homem que foi assumido por Deus e, a defender o direito divino,identificado com o direito inviolável de cada homem de ser respeitado como pessoa. O calar diante das injustiças e violações, a sacralidade de cada homem significa cumplicidade; é mais cômodo e fácil; razões de ordem, de disciplina, de (falsa) unidade, de não-intromissão em questões políticas, são invocadas para justificar o absentismo. Arrostar todos os perigos, assumir as conseqüências da ousadia, superar medo inibidor, anunciar com destemor e denunciar com desassombro: isso é graça de Deus. Pinochet morreu sem ser penalizado pelos danos que causou. E mais, não restituiu aos cofres públicos tudo pilhou. Que pena!

sexta-feira, dezembro 08, 2006

O espanto

Tentando reler a obra moderna do filósofo francês Michel Foucault, "As Palavras e as Coisas", quis aplicá-la na atualidade dos acontecimentos e confesso que fiquei espantado! Não é que estamos vivendo um "fervilhão" de acontecimentos e às vezes, nem sequer damos conta da real importância de tudo? Fatos marcantes estão acontecendo e estão mudando o eixo da história, das relações no mundo. Somos testemunhas de um tempo impar na composição de uma era histórica nova e, temos dificuldades em perceber e quantificar tudo isso. As palavras, às vezes não traduzem o que dizem as coisas. Observem o que acontece da parte dos Estados Unidos em relação ao "resto" do mundo, mais precisamente o poder desastroso que exercem sobre o Iraque e o Afeganistão! Lá eles pilham, matam e destroem em nome da paz e do amor! O mundo assiste a tudo impassível. Paz e amor para quem? E, às vezes, interpretando os acontecimentos como sendo a única possibilidade de paz e ainda pior, incorporando um messianismo, "divino", disponibilizado da parte do próprio Deus, ao grande governo daquele país, como pretende uma grande corrente evangélica! E tudo fica como o governo daquele país quer. Nem a ONU exerce a sua função quando se trata ao menos de fiscalizar o que fazem. Meu Deus! No mais ainda temos que viver, sobretudo aqui no ocidente, com a invasão cultural programada e premeditada através dos seus "enlatados" e do “sonho americano", diga-se de passagem. Americano aqui, parece ser absolutizado em quem nasceu nos Estados Unidos, e não nas Américas, como a lógica sugere. Isso não é um espanto! E o caso da homérica briga entre Israel e Palestina? Outra vez verificamos a intromissão do Norte, sobretudo daqueles que continuam na diáspora, mas bancam economicamente a guerra e a matança sem fim entre judeus e palestinos. Vejam a ilusão do destino! Os mesmos que foram mortos aos milhões nas mãos de um louco chamado Hitler. No Chile, até hoje não conseguiram prender um criminoso da humanidade, Augusto Pinochet. Engraçado que nem o fruto da pilhagem, que ele fez naquele país, conseguiu-se rastrear e incorporá-lo aos cofres públicos. Mas o General está "ferido de morte." Agora não tem mais como escapar! Será que não vai tarde? Tantas mortes, tanta violência! Por ironia ele continua sendo querido, acolhido e protegido por muitos partidários. Não é à toa que vivem querendo ressuscitar o nazismo. Aqui no Brasil, alguns choram de saudades do tempo da ditadura militar. Alguns outros fatos marcantes, alegres, como consolo. No Brasil os pobres regozijam com a vitória do ex-operário do ABC paulista. Significa a vitória dos pobres contra uma "elite" privilegiada, que sempre fez de tudo para se manter no poder e nos privilégios. É um sinal de esperança! Precisa urgentemente incorporar as minorias, no processo de participação na história desse país - às vezes com políticas afirmativas, por que não? O que não se realiza pelo amor ou pela compreensão natural de que o mundo é de todos, então vai pela lei. Os negros, os índios, os que vieram mais recentemente para esse país. É preciso iniciar o processo progressivo de desconcentração de renda, criando um país de todos, eliminando os "sem" (sem terra, sem teto, sem comida, sem saúde, sem escola...) Nesse mesmo caminho podemos notar outros paises na caminhada. Evo Morales na Bolívia, Hugo Chávez na Venezuela, sendo eleito com mais de 60 por cento dos votos e, José Agenor na Colômbia. Tudo isso indica que as elites estão com o seu tempo contado no que se diz respeito aos seus privilégios. Podem gritar, podem espernear. A massa popular não quer mais permitir que as relações entre os diferentes, produzam desigualdade. Não tem cabimento. Sob essa ótica tenho procurado ler a obra prima do filósofo e olhar a realidade. As surpresas são muitas! Abre-se a possibilidade de ver nas entre linhas, de ver as coisas e as palavras como um "novum", como um eterno “porvir".
P Carlos Ferreira da Silva
Guarai-TO 03 de dezembro de 2006

quinta-feira, novembro 16, 2006

Dia Nacional da Consciência Negra

Dia Nacional da Consciência Negra

Aproximamos-nos do dia 20 de novembro. Essa data celebramos aqui no Brasil uma figura importantíssima para todos os brasileiros e de um modo muito especial para o povo afro-descendente. Zumbi dos Palmares, hoje oficialmente posto como um herói nacional, embora ainda pouco lembrado e celebrado. Para nós afro-descendentes, esse é o verdadeiro dia para se celebrar e memorizar a consciência negra e não o 13 de maio, como pretende a legislação brasileira. Zumbi dos Palmares é um referencial de luta importante na nossa história. Foi perseverante até o fim, quando foi trucidado pela covardia dos seus algozes lá na Serra da Barriga. Ele vou esquartejado e seus companheiros e companheiras passados a fio de espada. A intenção era mesmo o de eliminar de vez todo e qualquer sonho de liberdade. Mas o “sonho não acabou” e a luta continua. Agora em outras “trincheiras” e em outros campos. Muito se tem conquistado mais ainda muito se tem por conquistar. Hoje por exemplo, está em discussão o tema das contas. O tema é polêmico e não poucas vezes pouco polarizado. Alguns doutores e doutoras pouco conhecedores da história e ou sem nenhuma simpatia por essa causa, jogam “areia” e se colocam como entraves no processo. Ilustremos um pouco a questão.

Tratando de um aspecto dessa luta, gostaria de apresentar uma pequena reflexão de Maria Querino S. Santos, relacionado com o problema das cotas.

EM DEFESA DAS COTAS

Segundo o Prof. Dr. Kabenguele Munanga, no livro “Educação e Ações Afirmativas”, as chamadas políticas de ação afirmativa são recentes na história da ideologia anti-racista. Nos países que foram implantadas (Estados Unidos, Inglaterra, Nova Zelândia, Alemanha, Áustria, Canadá e Malásia, entre outros), elas visam oferecer aos grupos discriminados e excluídos um tratamento diferenciado para compensar as desvantagens devidas à sua situação de vítimas do racismo e de outras formas de discriminação. Daí as terminologias de “equal opportunity policies”, ação afirmativa, ação positiva, discriminação positiva ou políticas compensatórias. Nos Estados Unidos, onde foram aplicadas desde a década de 60, elas pretendem oferecer aos afro-americanos as chances de participar da dinâmica da mobilidade social crescente [...]. Qualquer proposta de mudança em benefício dos excluídos receberia um apoio unânime, sobretudo quando se trata de uma sociedade racista. Nesse sentido, a política de ação afirmativa nos Estados unidos tem seus defensores e seus detratores. Foi graças a ela que se deve o crescimento da classe média afro-americana, que hoje atinge cerca de 3% de sua população, sua representação no Congresso Nacional e nas Assembléias estaduais; mais estudantes nos liceus e nas universidades... A pesar das críticas contra a ação afirmativa, a experiência das últimas quatro décadas nos países que implementaram não deixam dúvidas sobre as mudanças alcançadas. A questão fundamental que se coloca é como aumentar o continente negro no ensino universitário e superior de modo geral, tirando-o da situação de 2% em que se encontra depois de 114 anos de abolição em relação ao contingente branco que, sozinho, representa 97% de brasileiros universitários.
Assim, tratando-se do Brasil, um país que desde a abolição nunca assumiu seu racismo, condição sine qua non para pensar em políticas de ação afirmativa, os instrumentos devem ser criados pelos caminhos próprios ou pela inspiração dos caminhos trilhados por outros países em situação racial comparável ao Brasil.



FONTE: Educação e ações Afirmativas: entre a injustiça simbólica e a injustiça econômica. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2003, p. 117-128.

Sobre o Natal

NATAL: A revelação mais comovente e mais desafiadora de Deus.
Pro. Renold J. Blank


1. O que o Natal nos revela?

Ao falar de Deus, costumamos identifica-lo com o Onipotente, o Criador do cosmo e o Senhor do céu e da terra. Sim, ele também é isso, mas é infinitamente mais. Nele pode ser encontrada uma verdade tão chocante, que – apesar de todas as celebrações festivas do ano litúrgico – foi muito pouco assimilada pela fé das pessoas. É uma verdade que ultrapassa em muito o nosso conhecimento sobre a onipotência de Deus e a sua inimaginável glória. Na base dessa verdade, há aquele fato chocante e ao mesmo tempo maravilhoso que marca a sua revelação em Jesus Cristo: Deus é humilde e modesto.

Mas há mais! Tudo indica que Deus está mais interessado em ser conhecido exatamente assim - humilde e modesto – do que como criador e onipotente.

É essa verdade fundamental, aliás, que distingue essencialmente a nossa fé da professada pelas inúmeras outras religiões existentes. Na maioria delas também se cultua um Deus que de uma forma ou de outra, se apresenta como poderoso e cheio de glória. Mas é unicamente na religião cristã que esse Deus se revela na pequenez e na fragilidade de uma criança, no seu desamparo e na sua necessidade de ser amado.

2. No evento do NATAL, Deus se manifesta a nós como realmente é (cf. Hb 1,3)

O Concílio Vaticano II, na constituição dogmática Dei Verbum, formula de maneira magistral a verdade fundamental de que, em Jesus Cristo, Deus nos revelou, de maneira mais clara e direta, aquilo que realmente é.
Se acreditamos nessas palavras de Igreja – e não há razão para não faze-lo - , descobrimos, na festa do Natal, o conteúdo mais comovente e, ao mesmo tempo, mais feliz da nossa fé. Descobrimos que, diante de Deus, não precisamos ter medo, porque ele se aproxima de nós no sorriso de uma criança. Descobrimos a verdade de que Deus não se interessa em primeiro lugar pelo poder e não faz questão alguma de ser venerado como poderoso. O fato é que ele se fez pequeno e se aniquilou (cf. Fl 2,5-8), entregando-se a nós como criança que suplica pelo nosso amor.

Deus é e se revela assim! Torna-se criança para compreendermos, que há apenas uma coisa que conta: ser amado.

3. O Natal revela que Deus não se interessa pelos mecanismos de prestígio e de poder

Se Deus se revela dessa maneira, deixando de lado as instâncias de prestígio e de poder, como é que nós poderíamos recorrer a tais mecanismos na convivência social, na vida pública ou na práxis religiosa?

Deus manifestou-se como criança para compreendermos que os seus caminhos não são aqueles do poder, mais os da ternura e do amor.

Ao tornar-se homem não na figura de um imperador poderoso, mas na forma de uma criança indefesa, Deus nos informa, de maneira indiscutível, que ele não se interessa pelos mecanismos do poder. Com isso, porém, assume grande risco. Ele se põe em nossas mãos!

Em Jesus Cristo, Deus se entrega aos seres humanos e, com isso, está totalmente sujeito ao agir e às decisões das pessoas. Ele fica à nossa mercê, assim como qualquer criança. Entrega-se a nós, assumindo o risco de que essa sua confiança possa ser traída.
A decepção diante dessa traição pode ser verificada no decorrer da história e já transparece em diferentes passagens bíblicas. Tal decepção chega ao seu cume naquele acontecimento chocante em que criaturas humanas torturam e matam o Filho de Deus no pelourinho vergonhoso da cruz. Ninguém teria tido a ousadia de crucificar um Deus onipotente que se tivesse manifestado em seu poder de glória. Um Deus assim seria venerado por todos; mas, ao mesmo tempo, seria temido por todos. Exatamente esse medo, porém, Deus não quer!

4. Não o temor, mas o amor

Deus não quer que o temamos, mas o amemos. O evento da Natal nos mostra que ele não está interessado em nos intimidar. Em vez disso, espera que o amemos. Para que tal fato se torne visível da maneira mais palpável, ele se revela a nós como criança indefesa que implora nosso amor. Deu um Deus que se apresenta na forma de uma criança, ninguém tem medo. Um Deus assim só pode ser amado de coração aberto. Só pode encontrar amparo em nossos braços e coração. É exatamente isso que Deus deseja.

5. Um Deus que se manifesta como criança pode ser amado; mas essa criança também pode ser rejeitada e pisada

Deus se nos mostra como criança para que percamos o medo dele e o amemos Mas, em vez de amá-lo, também é possível outra atitude. Se esse Deus revela-se indefeso como criança, então pode ser rejeitado. É possível jogá-lo no chão, pisar nele e até matá-lo.

A festa do Natal também nos confronta com essa alternativa. Além de todo romantismo sentimental e emocional e de todo o barulho da indústria da propaganda comercial, descobrimos, nessa criança na manjedoura, um desafio sem igual. Descobrimos a alternativa do amor. Mas será que nós amamos efetivamente essa criança e lhe abrimos o coração? Ou será que nos fechamos diante de suas súplicas por amor e o jogamos no chão, pisando-o e até o matando?

Certamente ninguém de nós jamais pensaria em bater naquela criança ou matá-la. Sobre isso há consenso total entre nós que vivenciamos o Natal e estamos felizes porque Deus se tornou homem. Mas exatamente pelo fato de Deus ter se manifestado a nós numa manjedoura, por não ter permanecido distante, oculto no interior de céus distantes, ele se torna desafio constante para nós.

O desafio é este: fazemos às pessoas tudo aquilo que gostaríamos de fazer a ele? É importante lembrar: tudo aquilo que fazemos a qualquer pessoa, nós fazemos a Deus. Com isso, porém, o fazemos também à criança que veneramos no Natal (cf. Mt 25,40-45).

Eis a grande e chocante verdade que tantas vezes, no decorrer da história, foi esquecida.

6. Deus, que se manifesta como criança, identifica-se de maneira plena com as pessoas

Pensar que cada um dos nossos atos para com qualquer ser humano se dirige a Jesus Cristo pode desencadear conseqüências que dificultem cantar as velhas músicas de Natal. Estas só dizem a verdade quando externam o amor que praticamos em favor dos nossos irmãos e irmãs, quando começamos a abrir-lhes o coração e respondemos aos seus anseios com amor.

À luz da identificação direta entre Jesus Cristo e as pessoas que encontramos no dia-a-dia, o Natal se torna um desafio para nós, indagação inquietante para a nossa consciência e vocação renovada cada vez mais urgente. Isso porque tudo aquilo que fazemos às pessoas, seja no bem, seja no mal, nós o fazemos à criança que veneramos no Natal.

À medida que, como cristãos e como igreja, tomarmos a sério esse fato, nossa religião se tornará fermento e sal da terra. Á medida que o Natal readquirir seu sentido original para nós, começaremos a transformar as inúmeras situações e estrutura nas quais seres humanos se encontram pisados, excluídos e desprezados. Agiremos assim por estarmos conscientes de que, em toda pessoa humana maltratada, a criança divina na manjedoura está sendo maltratada.

Tomando a sério o que nos é revelado no Natal, passaremos a trabalhar para construir situações e estruturas que estaremos em sintonia com tal revelação. Seremos colaboradores de situações onde reine o amor, a justiça e a solidariedade entre os seres humanos. Deus solidarizou-se, identificando-se conosco, de maneira direta e concreta no Natal.


Texto extraído da Revista Vida Pastoral (Outubro/Dezembro)

sábado, novembro 11, 2006

Lula e a derrota da Casa Grande

Lula e a derrota da Casa Grande - Leonardo Boff*
"Casa-Grande & Senzala" (1933), de Gilberto Freyre representa mais que um dos textos fundadores da moderna interpretação do Brasil. Os dois termos dão corpo a um paradigma e a uma forma de habitar o mundo. Habitar na forma da Casa-Grande significa estabelecer uma relação patriarcal de dominação social, de criação de privilégios e hierarquias. Habitar na forma da Senzala é ser expoliado como ser humano, seja na forma do escravo negro, feito "peça" a ser vendida e comprada no mercado, seja do trabalhador, usado como "carvão a ser consumido" (Darcy Ribeiro) na máquina produtiva. Estas duas figuras sociais superadas historicamente, ainda perduram introjetadas nas mentes e nos hábitos, especialmente de nossas holigarquias e elites dominantes. Elas ainda se consideram as donas do Brasil com exigua sensibilidade pelo drama dos pobres.
A Casa-Grande se transformou em poderosa realidade virtual que se manifesta na forma como age o grande capital nacional, como se fazem alianças entre donos da imprensa empresarial, como se manejam os fatos e se cria o imaginário pela televisão para que a Senzala continue Senzala, seu lugar na sub-história.
Ocorre que os da Senzala sempre resistiram, se revoltaram, criaram seus milhares de quilombos, se fundiram com os demais pobres e marginalizados e conseguiram, especialmente a partir de 1950, se organizar num sem-número de movimentos sociais populares. Conquistaram aliados de outras classes, intelectuais e setores importantes das Igrejas. Criaram o poder social popular que, num dado momento, se afunilou em poder político e com outras forças deram origem ao Partido dos Trabalhadores (PT). De dentro desse povo irrompeu Lula como legítimo representante destes destituidos da Casa Grande, com carisma e rara inteligência. Dou meu testemunho pessoal: corri quase todo o planeta, encontrei-me com nomes notáveis da política, das ciências, do pensamento e das artes. Dentre os mais inteligentes que encontrei, está Luiz Inácio Lula da Silva, agora nosso Presidente. Somente ignorantes podem chamá-lo de ignorante. Sua inteligência pertence ao seu carisma: desperta, arguta, indo logo ao coração dos problemas e sabendo formulá-los do seu jeito próprio, sem passar pelo jargão científico.
Sua vitória é de magnitude histórica, pois por duas vezes a Senzala venceu a Casa Grande. Os continuadores da Casa Grande fizeram tudo e tentarão ainda tudo para atravancar essa vitória. Como não têm tradição democrática e parco senso ético, costumam usar todas as armas, armar "maracutaias", como fizeram em eleições anteriores. Apenas esperamos que não utilizem o expediente do assassinato.
O desafio agora é consolidar a vitória da Senzala e dar sustentabilidade a um projeto que supere historicamente esta divisão perversa da Casa-Grande & Senzala para se inaugurar um novo tempo de uma "democracia sem fim" (Boaventura de Sousa Santos), de cunho popular e participativo.
Esse projeto só ganhará curso se Lula realimentar continuamente suas raízes numa articulação orgânica com as bases de onde veio. São elas as portadores do sonho de um outro Brasil e infundirão força ao Presidente. As feridas que a Casa Grande abriu no tecido social e ecológico de nosso pais são sanáveis. Uma política que tem o povo como centro fará bem até a estas elites. Agora não tem lugar a revanche mas a magnanimidade, o pais unido ao redor de um projeto includente.
* Teólogo. Membro da Comissão da Carta da Terra

Decretos de Natal

Fica decretado que, neste Natal, em vez de dar presentes, nos faremos presentes junto aos famintos, carentes e excluídos. Papai Noel será malhado como Judas e, lacradas as chaminés, abriremos corações e portas à chegada salvífica do Menino Jesus. Por trazer a muitos mais constrangimentos que alegrias, fica decretado que o Natal não mais nos travestirá no que não somos: neste verão escaldante, arrancaremos da árvore de Natal todos os algodões de falsas neves; trocaremos nozes e castanhas por frutas tropicais; renas e trenós por carroças repletas de alimentos não perecíveis; e se algum Papai Noel sobrar por aí, que apareça de bermuda e chinelas. Fica decretado que cartas de crianças só as endereçadas ao Menino Jesus, como a do Lucas, que escreveu convencido de que Caim e Abel não teriam brigado se dormissem em quartos separados; propôs ao Criador ninguém mais nascer nem morrer, e todos nós vivermos para sempre; e, ao ver o presépio, prometeu enviar seu agasalho ao filho desnudo de Maria e José. Fica decretado que as crianças, em vez de brinquedos e bolas, pedirão bênçãos e graças, abrindo seus corações para destinar aos pobres todo o supérfluo que entulha armários e gavetas. A sobra de um é a necessidade de outro, e quem reparte bens partilha Deus. Fica decretado que, pelo menos um dia, desligaremos toda a parafernália eletrônica, inclusive o telefone e, recolhidos à solidão, faremos uma viagem ao interior de nosso espírito, lá onde habita Aquele que, distinto de nós, funda a nossa verdadeira identidade. Entregues à meditação, fecharemos os olhos para ver melhor. Fica decretado que, despidas de pudores, as famílias farão ao menos um momento de oração, lerão um texto bíblico, agradecendo ao Pai de Amor o dom da vida, as alegrias do ano que finda, e até dores que exacerbam a emoção sem que se possa entender com a razão. Finita, a vida é um rio que sabe ter o mar como destino, mas jamais quantas curvas, cachoeiras e pedras haverá de encontrar em seu percurso. Fica decretado que arrancaremos a espada das mãos de Herodes e nenhuma criança será mais condenada ao trabalho precoce, violentada, surrada ou humilhada. Todas terão direito à ternura e à alegria, à saúde e à escola, ao pão e à paz, ao sonho e à beleza. Fica decretado que, nos locais de trabalho, as festas de fim de ano terão o dobro de seus custos convertido em cestas básicas a famílias carentes. E será considerado grave pecado abrir uma bebida de valor superior ao salário mensal do empregado que a serve. Como Deus não tem religião, fica decretado que nenhum fiel considerará a sua mais perfeita que a do outro, nem fará rastejar a sua língua, qual serpente venenosa, nas trilhas da injúria e da perfídia. O Menino do presépio veio para todos, indistintamente, e não há como professar o "Pai Nosso" se o pão também não for nosso, mas privilégio da minoria abastada. Fica decretado que toda dieta se reverterá em benefício do prato vazio de quem tem fome, e que ninguém dará ao outro um presente embrulhado em bajulação ou escusas intenções. O tempo gasto em fazer laços seja muito inferior ao dedicado a dar abraços. Fica decretado que as mesas de Natal estarão cobertas de afeto e, dispostos a renascer com o Menino, trataremos de sepultar iras e invejas, amarguras e ambições desmedidas, para que o nosso coração seja acolhedor como a manjedoura de Belém. Fica decretado que, como os reis magos, todos daremos um voto de confiança à estrela, para que ela conduza este país a dias melhores. Não buscaremos o nosso próprio interesse, mas o da maioria, sobretudo dos que, à semelhança de José e Maria, foram excluídos da cidade e, como uma família sem-terra, obrigados a ocupar um pasto, onde brilhou a esperança. Frei Betto, Site: http://br.geocities.com/mcrost10/index.htm

Para pensar

O homem é bem mais que um número, um dado de pesquisa ou uma questão para as ciências. Ele é, uma "parábola de Deus". é "a melhor floração do mundo", e está sempre em busca de uma exaustiva hominização. O homem perfeito só nasceu uma vez em Jesus Cristo; depois disso, ele continua sendo gestado "na grande placenta da história-processo que ascende e converge para Deus". Embora reconhecendo e testemunhando verdades tão consoladoras, a antropologia é a do não-homem e, por isso, uma antropologia profética denunciando as estruturas injustas da sociedade que agridem e discriminam as pessoas. Mas mesmo assim, vale a pena ser homem, "porque Deus quis ser um deles".
Padre Carlos F. da Silva

domingo, outubro 29, 2006

Declaração de voto

Ao longo dos anos de ministério pastoral, mais de trinta na periferia deSão Paulo e na Baixada Fluminense, sempre procurei caminhar atento esolidário ao clamor do povo pela vida com dignidade e esperança. Na Páscoa de 2005, após grave acidente e longa recuperação, o papa JoãoPaulo II dispensou-me das obrigações de bispo diocesano, a meu pedido, parapoder dedicar minha vida à defesa e à promoção do direito humano básico aoalimento e à nutrição. Sonho com um mundo em que crianças não sejamconcebidas e geradas para viver uns poucos dias (Isaias 65,20). Ao lado de Betinho, de Bizeh e de dom Luciano, seguindo as pegadas deJosué de Castro, do Padre Cícero e de dom Helder, desde a primeira horaparticipo da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Através da mobilização social e da solidariedade queremos criar acultura do direito humano básico ao alimento e à nutrição. Cremos que asolidariedade somente é virtude quando a justiça é honrada, por issobuscamos dotar o país de diretrizes e estruturas de segurança alimentar enutricional sustentável.A Política de Segurança Alimentar e Nutricional tem o direito comofundamento, a preservação do meio ambiente como determinante, a saúde dopovo como objetivo e a nutrição materno infantil como urgência. Com João Paulo II afirmamos, ainda, que somente através de açãoorquestrada entre família, sociedade e governos, pode-se efetivamentegarantir a cada habitante de nosso país e do mundo o acesso à alimentaçãoadequada em qualidade e quantidade. Neste processo ressalto a importância da parceria do Presidente ItamarFranco com o Movimento pela Ética na Política. Com a criação de o Conselhode Segurança Alimentar - CONSEA, a realização da primeira ConferênciaNacional de Segurança Alimentar, em julho de 1994, e outras medidas cujaenumeração este espaço não comporta, bases foram assentadas e diretrizesdefinidas para o desenvolvimento do Brasil, tendo a segurança alimentarcomo um de seus eixos. Com a extinção do CONSEA pelo presidente FHC, o direito à alimentaçãoadequada perde espaço e proeminência na agenda política. A ruptura daparceria entre governo e sociedade retardou o processo de superação dosmales da fome. Posteriormente, o Senador Antônio Carlos Magalhães recoloca o problemada fome na agenda política do Congresso Nacional. Na reta final do atualmandato presidencial, o mesmo senador contribui para a aprovação da Lei11.346 que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.Aliás, uma iniciativa e tarefa inacabada do Governo Lula. Apesar da presença constante do Senador Suplicy, o Partido dosTrabalhadores, tendo priorizado a busca de solução para o problema da fomeno Governo Paralelo, efetivamente não deu respaldo ao Presidente Itamar eao CONSEA. No Instituto da Cidadania, porém, o combate à fome tornou-se umde seus principais temas. Com o surgimento do Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar, em 1998,desencadeia-se nos Estados nova etapa da luta contra a miséria e os malesda fome. O Presidente Itamar Franco, então Governador do Estado de Minas>Gerais, em parceria com o Fórum Mineiro de Segurança Alimentar, cria eestrutura o primeiro CONSEA Estadual. Desde o final de 1998 acompanho cada passo que levou Minas Gerais a sero Estado pioneiro em Segurança Alimentar e Nutricional, criando comissõesregionais, realizando programa de projetos associativos de segurançaalimentar e construindo a Lei 15.982/2006 que define as Diretrizes edetermina a implantação do Sistema Estadual de Segurança Alimentar eNutricional Sustentável.Com a sabedoria política do Governador Aécio Neves, honrando e dandocontinuidade e maior abrangência ao legado de Itamar Franco, Minas Geraisavança na abertura de caminhos para a superação da miséria e dos males dafome. Em seu novo mandato, como consta do plano de governo, o processo deregionalização e municipalização deverá se consolidar e novas metas serãoatingidas. Assim, Minas Gerais estará contribuindo para a gestação de umnovo modelo brasileiro de desenvolvimento. De não menor importância, relembro o Mutirão lançado pela 40ª.Assembléia Geral da CNBB, em 19 de abril de 2002, como resposta às"Exigências Evangélicas e Éticas de Superação da Miséria e da Fome" (Doc.CNBB. 69).Com a eleição de Lula para a Presidência da República, em 2002, o"combate à fome" ganha espaço e notoriedade mesmo além de nossasfronteiras. Porém, desde a primeira hora ficaram evidentes os limitesestruturais do Estado Brasileiro, comprometido com a cidadania de apenas umquarto de sua população, e os equívocos da compreensão e dosencaminhamentos do próprio governo.Aplaudindo o esforço despendido e o volume de recursos canalizados emprogramas de combate à fome, observo que sociedade e governos em geralainda tratam o problema da fome como questão de assistência social e decaridade ou favor! Nenhum direito humano deve ser tratado como uma questãode assistência social, embora em situações de grave risco ou geradas pelanegação de um direito sejam necessárias medidas de assistência social. A concepção das duas candidaturas que, em segundo turno, disputam aPresidência da República, sobre causas e soluções para a exclusão social, amiséria e a fome, pode ser semelhante, mas decididamente não é igual. São, porém, semelhantes na repetição da eterna cantilena de que odesenvolvimento econômico, pura e simplesmente, será o remédio que haveráde curar nossos males. Em verdade, enquanto o Mercado for o regente emandatário de nossas vidas haveremos de colher os frutos da voracidade quelhe é peculiar. Alguém acredita que o meio ambiente poderá continuarcorrespondendo aos desmandos de nosso desperdício? Além dos cortes e outrasmanipulações dos economistas, não seriam necessárias e urgentes outrasmudanças que nos tragam mais saúde e vida? Onde entram os objetivos e asmetas do milênio? Alguém mais teria coragem de afirmar que a frugalidade énossa vocação e destino?! O que nos desfigura é a riqueza e a miséria! Em 1992 o Movimento pela Ética na Política considerou a concentração derenda e o alimento transformado em moeda como as mais graves expressões decorrupção no país. O pecado persiste até hoje, sem qualquer indicação de mudança! Ao ladodas grandes riquezas que são produzidas, agrava-se a degradação ambiental ecresce a exclusão social gerando miséria e fome. Vivemos numa sociedadeabortiva e cada vez mais violenta e cínica. Grande desafio será garantir defato o direito à reprodução, à gestação, ao nascimento e a uma vida digna efeliz através da justiça social, da educação e da promoção da cidadania.Causa-me indignação saber que milhões de bois e vacas destinados àexportação sejam tão bem conhecidos e rastreados. Tudo se sabe sobre suagenealogia, gestação e nutrição. Vergonhosamente os governos, nos trêsníveis da federação, pouco ou quase nada sabem sobre a nutrição e a saúdede seu povo. Basta consultar o banco de dados do SISVAN e das SecretariasEstaduais e Municipais de Saúde. Desde que o INAN foi extinto nada foi criado em seu lugar. Proponho que,no Ministério da Saúde (não seria da Doença?) ou da Educação, seja criado oDepartamento ou a Secretaria Nacional de Alimentação e Nutrição paraarticular a efetiva implantação da Política Nacional de Alimentação eNutrição, com suas sete diretrizes. Fundamental que as estatísticas tenhamrosto, nome e endereço em se tratando da vida de nossa gente, especialmenteas crianças. Enquanto alimento for transformado em moeda e lastro da balançacomercial, não haverá "Fome Zero" e nem "Nutrição Dez", menos ainda um povosaudável, inteligente, criativo e bem humorado! Aliás, o povo simples emodesto em suas pretensões nada mais deseja do que casa para morar, escolapara as crianças e trabalho! Espero que a política agrária e a política agrícola, tendo a segurançaalimentar e nutricional como objetivo, sejam definidas a partir dasrespostas a estas perguntas: O que plantar? Por que plantar? Como plantar?Para quem plantar? Em geral são os pequenos e médios produtores queabastecem a mesa do povo em qualquer recanto da Terra. Aliás, o Brasil nãoé problema, mas solução para o problema da fome no mundo. Na mesma perspectiva e com o mesmo objetivo, a descentralização e odesenvolvimento local podem tornar-se as bases de um país próspero esaudável Igualmente, a preservação do meio ambiente não seja meraconcessão, nem a economia solidária considerada uma utopia. Finalmente, sem erradicar o analfabetismo o Brasil não sai do atoleiroda corrupção e da miséria. O Papa João Paulo II já nos advertia que oanalfabeto quase sempre é explorado econômica e politicamente! Em conclusão, não quero discutir virtudes e pecados dos governantes e deseus auxiliares. Arrogância, mediocridade, mesquinharia, futricas ecorrupção normalmente vicejam nos palácios. Recomendaria aos governantes,na escolha de seus colaboradores, que levassem em consideração os conselhosde Jetro a seu genro Moisés (Êxodo 18,21). Depois de dois anos de árdua e leal cooperação com o Governo Alckmin/Lembo, como conselheiro e presidente do CONSEA-SP, não coloco esperançaalguma na candidatura da coligação Por Um Brasil Decente em relação àdefesa e à promoção do direito humano ao alimento e à nutrição, pelocontrário temo retrocesso. Espero que o Presidente Lula receba mais um mandato e que possa superaras contradições que caracterizam o Estado Brasileiro e afetam seu governo.Não se trata apenas de combater a corrupção, mas cultivar uma propostaética de desenvolvimento. Impossível servir a dois senhores, o Mercado e oPovo. Voto por uma economia com mercado, justa e solidária. Reine a Ética,governe a Política e submeta-se o Mercado. Em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, em 16 de Outubro de 2006, DiaMundial da Alimentação, participo da inauguração de mais um centromunicipal de recuperação de crianças em estado grave de desnutrição parareafirmar meu compromisso com um Brasil livre da miséria e da fome.Presidente Lula, cultivando a sabedoria, a coragem, a ousadia e ahumildade, com a graça de Deus e a participação do povo, poderá fazer umgrande governo. Quando o pão é partilhado com o faminto e injustiçado, brilha a Luz!(Isaias 58, 6-8). Não tenha medo de ser feliz!
Dom Mauro Morelli Bispo Emérito da Diocese de Duque de Caxias
Indaiatuba, SP, 12 de Outubro de 2006 - Dia da Criança.

Reflexão

Queridos amigos, paz e bênçãos!
Estou desejando a todos um proveitoso final desemana. Tenham a presença do Deus na vida. Votem com responsabilidade,pensando mais nos outros que em si mesmo.Reflexão: Quem é o homem? É miséria e é grandeza. E sua grandeza é tantomais excelente quanto mais nasce de sua prória miséria. Fundamentalmente elesurge como uma interrogação em aberto. É ânsia de plenitude, uma saudadeinfinita e um grito lançado aos imensos espaços vazios. Quem responderá?Busca o Infinito e só encontra finitos. Procura um Amor absoluto e separacom ensaios que exasperam ainda mais a busca. No fundo, qual é o projeto dohomem? Ser como Deus: pleno, absoluto, eterno, infinitamente realizado. Vaise realizar esta utopia? Aquietar-se-á o coração incansado? Pode ser quesim. Pode ser que não. Depende de cada uma e de todos. A nossa liberdadeinclui nela o livre arbítrio. Diante da vida e da morte, teremos a vida, seescolhemos a vida. Mas se escolhemos a morte teremos a morte.
Pe. Carlos F. da Silva

sábado, outubro 28, 2006

Reflexão

Queridos amigos, paz e bênçãos! Estou desejando a todos um proveitoso final de semana. Tenham a presença do Deus na vida. Votem com responsabilidade, pensando mais nos outros que em si mesmo.
Reflexão: Quem é o homem? É miséria e é grandeza. E sua grandeza é tanto mais excelente quanto mais nasce de sua prória miséria. Fundamentalmente ele surge como uma interrogação em aberto. É ânsia de plenitude, uma saudade infinita e um grito lançado aos imensos espaços vazios. Quem responderá? Busca o Infinito e só encontra finitos. Procura um Amor absoluto e separa com ensaios que exasperam ainda mais a busca. No fundo, qual é o projeto do homem? Ser como Deus: pleno, absoluto, eterno, infinitamente realizado. Vai se realizar esta utopia? Aquietar-se-á o coração incansado? Pode ser que sim. Pode ser que não. Depende de cada uma e de todos. A nossa liberdade inclui nela o livre arbítrio. Diante da vida e da morte, teremos a vida, se escolhemos a vida. Mas se escolhemos a morte teremos a morte.

Reflexão

Queridos amigos, paz e bênçãos! Estou desejando a todos um proveitoso final de semana. Tenham a presença do Deus na vida. Votem com responsabilidade, pensando mais nos outros que em si mesmo.
Reflexão: Quem é o homem? É miséria e é grandeza. E sua grandeza é tanto mais excelente quanto mais nasce de sua prória miséria. Fundamentalmente ele surge como uma interrogação em aberto. É ânsia de plenitude, uma saudade infinita e um grito lançado aos imensos espaços vazios. Quem responderá? Busca o Infinito e só encontra finitos. Procura um Amor absoluto e separa com ensaios que exasperam ainda mais a busca. No fundo, qual é o projeto do homem? Ser como Deus: pleno, absoluto, eterno, infinitamente realizado. Vai se realizar esta utopia? Aquietar-se-á o coração incansado? Pode ser que sim. Pode ser que não. Depende de cada uma e de todos. A nossa liberdade inclui nela o livre arbítrio. Diante da vida e da morte, teremos a vida, se escolhemos a vida. Mas se escolhemos a morte teremos a morte.

Reflexão

Queridos amigos, paz e bênçãos! Estou desejando a todos um proveitoso final de semana. Tenham a presença do Deus na vida. Votem com responsabilidade, pensando mais nos outros que em si mesmo.
Reflexão: Quem é o homem? É miséria e é grandeza. E sua grandeza é tanto mais excelente quanto mais nasce de sua prória miséria. Fundamentalmente ele surge como uma interrogação em aberto. É ânsia de plenitude, uma saudade infinita e um grito lançado aos imensos espaços vazios. Quem responderá? Busca o Infinito e só encontra finitos. Procura um Amor absoluto e separa com ensaios que exasperam ainda mais a busca. No fundo, qual é o projeto do homem? Ser como Deus: pleno, absoluto, eterno, infinitamente realizado. Vai se realizar esta utopia? Aquietar-se-á o coração incansado? Pode ser que sim. Pode ser que não. Depende de cada uma e de todos. A nossa liberdade inclui nela o livre arbítrio. Diante da vida e da morte, teremos a vida, se escolhemos a vida. Mas se escolhemos a morte teremos a morte.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Pedro Casaldáliga

"Em nome do Pai de todos os Povos,Maíra de tudo, excelso TupãEm nome do Filho,Que a todos os homens nos faz ser irmãos.No sangue mesclado com todos os sangues.Em nome da Aliança da Libertação.Em nome da Luz de toda Cultura.Em nome do Amor que está em todo amor.Em nome da Terra Sem Males,Perdida no lucro, ganhada na dor,Em nome da Morte vencida,Em nome da Vida,Cantamos, Senhor"Trecho estraído da "Missa da Terra sem Males" de Pedro Casaldáliga,bispo emérito da Prelazia do Araguaia (São Félix do Araguaia - MT)

quarta-feira, setembro 06, 2006

Da liberdade

"A liberdade humana não é uma brincadeira. É um risco e um mistério que envolve a absoluta frustração no ódio ou a radical realização no amor. Com a liberdade tudo é possível, o céu mas também o inferno."Padre Carlos

sábado, setembro 02, 2006

É por amor!

Sim, é por amor à vida que cantamos. E, tantas vezes, choramos também. É por amor à vida, Que estamos lutando E vamos andando lentamente Para buscar a luz E a liberdade das manhãs de sol. É por amor à vida, Sim, é por amor à vida... que encaramos de frente Essa imensa dor que se nos impõe... É por amor à vida Que estamos nas ruas, nas praças, nas estradas... E gritando palavras de ordem, de uma nova ordem! Sim, é por amor, E por amor à vida Que marchamos nas madrugadas de lua nova Levando nos braços a fúria das tempestades, pronto a resgatar a terra que nos tomaram(...) Sim, é por amor à vida Que profundamente doloridos Recolhemos em nossos braços Os que foram brutalmente feridos E quando já não podemos Devolver-lhes a respiração Nós comungamos de seu sangue E os fazemos ressuscitar Em milhares de vidas e sorrisos! É por amor à vida Que escrevemos nas pedras Os poemas da esperança rebelde Que pichamos nos muros e nas portas As frases corajosas de um futuro novo, Qaue dançamos nas festas de sábado, No batuque do carnaval de um povo livre! É por amor Que nos abraçamos, que nos beijamos na esquina E já não tememos andar de braços dados seguindo a bandeira da paz E da ternura consequente! Sim, é por amor à vida Que desesperadamente amamos.
Texto de Zé Vicente, poeta e músico - Fortaleza-CE
Extraido do jornal Mundo Jovem de março de 2005

Trova do vento que passa - Manuel Alegre

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Paixão Nacional

Paixão Nacional - por Cristóvam Buarque - O Globo - 10/06/2006
Em cada dez dos melhores jogadores de futebol do mundo, pelo menos cinco são brasileiros. Entre todos os prêmios Nobel do mundo, nenhum é brasileiro. Entre os grandes jogadores brasileiros, quase todos têm origem pobre, enquanto quase todos os profissionais de nível superior vêm das camadas ricas e médias.Nestes tempos de Copa do Mundo, a TV e o rádio mostram, todos os dias, pequenas biografias dos nossos grandes jogadores. Em comum, todos têm o fato de terem começado a jogar futebol aos quatro anos de idade, em algum campo de pelada perto de casa, às vezes no quintal de um amigo. Todos continuaram, com persistência, o desenvolvimento de seus talentos. Transformaram-se em grandes craques, graças à oportunidade, ao talento e à persistência.No Brasil de hoje, 20 milhões de meninos jogam futebol. Se apenas um em cada dez mil tiver talento e persistência, nas próximas copas teremos dois mil ótimos jogadores; se for um em cada um milhão, ainda assim teremos dois times completos, formados por grandes craques.O mesmo não vai acontecer com a ciência, a tecnologia e a literatura no Brasil. Não teremos 20 prêmios Nobel, nem mesmo juntando, a esses meninos, os outros 20 milhões de meninas. Porque poucos entrarão na escola aos quatro anos. Não terão acesso a verdadeiras escolas, não poderão persistir no desenvolvimento de talento, não terão livros ou computadores como têm bolas.O Brasil tem grandes craques graças ao gosto pelo futebol, ao tamanho da nossa população e ao fato de que todos têm acesso à bola e ao campo de pelada.Nosso país não tem, até hoje, nenhum Prêmio Nobel de Literatura ou Física, porque poucos têm acesso a ensino de qualidade desde a primeira infância, com professores bem remunerados, preparados e dedicados, dispondo de livros e computadores na quantidade e qualidade necessárias.Os campos e as bolas surgem espontaneamente, ou pelo esforço da comunidade e dos próprios meninos. A escola e os computadores só estarão à disposição se houver um esforço deliberado do país inteiro.Ninguém vira craque por sorte, e sim por talento e persistência. Mas, no Brasil, o desenvolvimento intelectual depende, antes de tudo, da sorte de nascer em uma família rica, em uma cidade próspera, com um prefeito que dê prioridade à educação. O talento e a persistência vêm depois porque, antes, precisam de oportunidade: uma escola de qualidade. O desenvolvimento intelectual depende de condições criadas pelo Estado nacional: escolas, livros, computadores, professores.Se tivéssemos feito isso há cinqüenta anos, o Brasil seria o campeão do saber, e não o lanterninha, posição que ocupamos atualmente. Se o fizermos agora, daqui a 20 anos teremos recuperado terreno, e aí teremos a chance de vencer não só a Copa do Mundo, mas também a Copa do Saber, do conhecimento, da ciência, da tecnologia, da literatura. Ganharemos as medalhas do Nobel, além das taças da Copa.Além do mais, teremos o capital e as bases para construirmos o Brasil do século XXI. O futebol deslumbra, mas só o saber constrói.Tudo isso, porém, enfrenta um grave impedimento: os brasileiros têm paixão pelo futebol. As vitórias emocionam, as derrotas deixam todos abatidos. Mas não existe a mesma paixão pela educação. Há semanas, os meios de comunicação informaram que estamos perdendo para o Haiti em termos de repetência escolar. Nada aconteceu, ninguém se incomodou. Se tivéssemos perdido para o Haiti no futebol, nossos jogadores teriam sido muito mal recebidos na sua volta ao Brasil.Para que as medalhas intelectuais cheguem, é preciso ter pela escola a mesma paixão que o Brasil tem pelo futebol.

domingo, agosto 20, 2006

Carta de Eduardo Galeano

Texto enviado por Eduardo Galeano à Via campesina Brasil, em homenagem àsmulheres camponesas. Para ser lido no ato politico de debate e solidariedadeàs mulheres, dia 16de agosto, salão de atos da UFRGS- Porto alegre.Salva-vidas de chumboEduardo Galeano, Montevideo. Pelo que diz a voz de comando, nossos países devem acreditar naliberdade do comércio (embora ela não exista), honrar os compromissos(embora eles sejam desonrosos), atrair investimentos (embora eles sejamindignos) e ingressar no cenário internacional (embora pela porta dosfundos). Ingressar no cenário internacional: o cenário internacional é omercado. O mercado mundial, onde compram-se países. Nada de novo. A AméricaLatina nasceu para obedecê-lo, quando o mercado mundial nem era chamadoassim, e de um jeito ou de outro continuamos atados ao dever de obediência. Esta triste rotina dos séculos começou com o ouro e a prata, econtinuou com o açúcar, o tabaco, o guano, o salitre, o cobre, o estanho, aborracha, o cacau, a banana, o café, o petróleo... O que esses esplendoresnos deixaram? Nos deixaram sem herança nem bonança. Jardins transformados emdesertos, campos abandonados, montanhas esburacadas, águas apodrecidas,longas caravanas de infelizes condenados à morte antecipada, palácios vaziosonde perambulam fantasmas... Agora, chegou a vez da soja transgênica e da celulose. E outravez repete-se a história das glórias fugazes, que ao som de seus clarins nosanunciam longas tristezas. Será que o passado ficou mudo? Nós nos negamos a escutar as vozes que nos alertam: os sonhos domercado mundial são os pesadelos dos países que se submetem aos seuscaprichos. Continuamos aplaudindo o seqüestro dos bens naturais que Deus, ouo Diabo, nos deu, e assim trabalhamos pela nossa própria perdição econtribuímos para o extermínio da pouca natureza que nos resta neste mundo. Argentina, Brasil e outros países latino-americanos estãovivendo a febre da soja transgênica. Preços tentadores, rendimentosmultiplicados. A Argentina é, e já faz tempo, o segundo maior produtormundial de transgênicos, depois dos Estados Unidos. No Brasil, o governo deLula executou uma dessas piruetas que pouco favor fazem à democracia, edisse sim à soja transgênica, embora seu partido tenha dito não durante todaa campanha eleitoral. Isso é pão hoje e fome amanhã, como denunciam alguns sindicatosrurais e organizações ecologistas. Mas já sabemos que os peões ignorantes senegam a entender as vantagens do pasto de plástico e da vaca a motor, e queos ecologistas são uns estraga-prazeres que não dizem coisa-com-coisa. Os advogados dos transgênicos afirmam que não está provado queprejudiquem a saúde humana. Em todo caso, também não está provado que não aprejudiquem. E já que são assim tão inofensivos, por que os fabricantes desoja transgênica se negam a esclarecer, nas embalagens, que vendem o quevendem? A etiqueta de soja transgênica não seria sua melhor publicidade? Acontece que existem evidências de que estas invenções do DoutorFrankenstein fazem mal à saúde do solo e reduzem a soberania nacional.Exportamos soja ou exportamos solo? Estamos ou não estamos presos nasgaiolas da Monsanto e de outras grandes empresas de cujas sementes,herbicidas e pesticidas passamos a depender? Terras que produziam de tudo para o mercado local agora seconsagram a um único produto para a demanda estrangeira. Nós nosdesenvolvemos para fora e nos esquecemos de dentro. O mono-cultivo é umaprisão, sempre foi, e agora, com os transgênicos, é muito mais. Adiversidade, por sua vez, liberta. A independência se reduz ao hino e àbandeira, se a soberania alimentar não é assentada. A autodeterminaçãocomeça pela boca. Só a diversidade produtiva pode nos defender das súbitasdespencadas de preços que são costume, mortífero costume, do mercadomundial. As imensas extensões destinadas à soja transgênica estãoarrasando os bosques nativos e expulsando os camponeses pobres. Poucosbraços ocupam essas explorações altamente mecanizadas, que ao mesmo tempoexterminam as plantações pequenas e as hortas familiares com os venenos quefumigam. Multiplica-se o êxodo rural às grandes cidades, onde se supõe queos expulsos vão consumir, se tiverem sorte, o que antes produziam. É aagrária reforma: a reforma agrária pelo avesso. A celulose também está na moda, em vários países. Agora, o Uruguai está querendo se transformar num centro mundialde produção de celulose para abastecer de matéria prima barata as longínquasfábricas de papel. Trata-se de monocultivos para a exportação, na mais puratradição colonial: imensas plantações artificiais que dizem ser bosques e seconvertem em celulose num processo industrial que arroja detritos químicosnos rios e torna o ar irrespirável. No Uruguai, começaram por duas fábricas enormes, uma das quaisjá está a meio construir. Depois surgiu outro projeto, e já se fala deoutro, e outro mais, enquanto mais e mais hectares estão sendo destinados àfabricação de eucaliptos em série. As grandes empresas internacionais nosdescobriram no mapa do mundo, e caíram de súbito amor por este Uruguai ondenão há tecnologia capaz de controlá-las, o estado outorga subsídios e evitaimpostos, os salários são raquíticos e as árvores brotam num piscar deolhos. Tudo indica que nosso país, pequenino, não irá agüentar oasfixiante abraço desses grandalhões. Como costuma acontecer, as bênçãos danatureza se transformam em maldições da história. Nossos eucaliptos crescemdez vezes mais depressa que os da Finlândia, e isso se traduz assim: asplantações industriais serão dez vezes mais devastadoras. No ritmo deprodução previsto, boa parte do território nacional está sendo espremida atéa última gota de água. Os gigantes sedentos vão secar nosso solo e nossosubsolo. Trágico paradoxo: este país foi o único lugar do mundo em que apropriedade da água foi submetida a plebiscito popular. Por esmagadoramaioria, os uruguaios decidiram, em 2004, que a água seria propriedadepública. Não haverá maneira de evitar o seqüestro dessa vontade popular? A celulose, é preciso reconhecer, transformou-se em algo assimcomo uma causa patriótica, e a defesa da natureza não desperta entusiasmo.Pior: em nosso país, algumas palavras que não eram palavrões, comoecologista e ambientalista, estão se transformando em insultos quecrucificam os inimigos do progresso e os sabotadores do trabalho. Celebra-se a desgraça como se fosse boa notícia. Mais valemorrer de contaminação do que morrer de fome: muitos desempregados acreditamque não existe outro remédio além de escolher entre duas calamidades, e osmercadores de ilusões desembarcam oferecendo milhares e milhares deempregos. Acontece que uma coisa é a publicidade, e outra é a realidade. OMST, movimento dos camponeses sem terra, divulgou dados eloqüentes, e quenão valem apenas para o Brasil: a celulose gera um emprego a cada 185hectares, e a agricultura familiar cria cinco empregos a cada dez hectares. As empresas prometem o melhor. Trabalho a rodo, investimentosmilionários, controles rígidos, ar puro, água limpa, terra intacta. E eu mepergunto: já que é assim, por que não instalam essas maravilhas em Punta delEste, para melhorar a qualidade de vida e estimular o turismo em nossobalneário principal?Tradução: Eric Nepomuceno, Rio de JaneiroDistribuição IPS- Inter-press-service, Italia. Dia 16 de agosto de 2006.

Abbá!

O Deus de Jesus é diferente!Sim, o Deus de Jesus quer fazer gente diferente neste mundo. Gente que tenhajeito de Deus e aja como ele. Assunto dificil não é? Se ainda não entrouprocure entrar nas fileiras dessa gente especial do Abbá de Jesus. Trata-sede gente revolucionária (sem violência de terroristas). Entender Deus comoAbbá é a maior revolução que houve na história das relações humanas e dareligião.Por que Deus é diferente? Houve muitas idéias sobre Deus no mundo, e a piorde todas é a dos que pensam um Deus a nossa imagem semelhança. Assim, em vezde Deus nos curar, transformando-nos à sua imagem e semelhança, temos aousadia de pensá-lo nossa imagem e semelhança, para defender velhacarias ecovardias em desfavor dos outros. Quando rezamos santificado seja o VossoNome, dejesemos que seja o nome de Deus, Abbá, não pensemos à nossa velhacae covarde imagem e semelhança de gente não convertida, nem o usemos comocampo de nosso prestígio a vantagem. É essa a revolução moral proposta àhumanidade, a revolução do Abbá e de Jesus que devemos lançar e promover nomundo. É uma revolução que esmaga ideologias que usam em vão o Nome de Deus.Você quer entrar nela? Viva você! E por causa de você, viva o mundo!

quarta-feira, agosto 16, 2006

Angústias e reflexões

Estamos vivendo um tempo atípico, que se repete a cada 4 anos. Tempo de preparação para as eleições. A minha impressão não é muita animadora, a partir da realidade com que lido. Meus Deus, eu pergunto, até quando tudo vai ser assim? Quanta mediocridade, falsidade e hipocrisia! O que verificamos hoje é constatado desde 500 anos atrás.
É daí que tiro algumas conclusões. Conclusões, dignas de apreciação e resalvas. As classes dominantes são, de certa forma, fatalistas, porque só conseguem conceber o futuro como prolongamento, progresso e melhoria do esquema em que elas estão (Privilégios). Vejam o que cobram os especialistas em economia, os Meios de Comunicação, o empresariado do nosso País! O futuro delas é para o enriquecimento ainda mais sofisticado, enriquecimento que elas ainda detêm e controlam seus mecanismos. Então elas são, por própria função histórica, fatalistas, gozadoras do próprio presente e vazias de um sentido mais transcendente do futuro, como criação do novo, do diferente. Querem perpetuar os privilégios e benesses.
Os pobres, não contando com o passado (veja os afros descendente e índios sobretudo) tem um presente sinistro. Vejam que os afros descendentes, embora sendo um número significativo de mais de 50 por cento neste País, continuam fazendo os piores trabalhos ( se é que podemos dizer assim) e não participando das grandes decisões desse País. E o pior, povoam os “morros da vida”.
Conclusão: essa gente, conta só com a possibilidade de um futuro e com mudanças que lhes poderão criar condições melhores de vida. Como a tais das “cotas” que além de uma alternativa (pode não ser a melhor) é um modo de devolver o que lhes foi impedido de ganha pela própria situação histórica.

terça-feira, agosto 01, 2006

Sexo frágil?

Alguém disse que a mulher é o sexo frágil? Provavelmente não foi uma brasileira indígena, que passou pela violência do processo de colonização. Vitimada pela exploração sexual dos colonizadores portugueses, tendo sua identidade ignorada pela história, tratada como não-humana e que, mesmo assim, viveu embalada por sonhos, atravessando os vales da escuridão.
Certamente também não foi uma mulher negra, arrancada da África e trazida para a América, e marcada a ferro quente. Nenhuma escrava “Anastácia” diria que mulher é sexo frágil.
Provavelmente não foi uma mulher branca, que também não escapou da opressão masculina do século XVII, XIX, do século passado ou do atual.
Essas que ocuparam ruas e praças reivindicando o direito ao voto ou as que deixaram de viver e amar, casado-se por obrigação, interesses capitais. Essas, que por décadas não tiveram direito ao estudo, servindo apenas para procriar... Não. Nenhuma dessas desmereceria suas companheiras dessa forma!
Nem mesmo hoje, uma mulher da Arábia Saudita, proibida de guiar automóvel; ou do Egito, sofrendo mutilações genitais; ou da Jordânia, onde o pai pode matar a filha se ela “transar” antes do casamento; ou do Afeganistão onde é obrigada a cobrir o corpo com o véu.
O que diria da fragilidade da mulher Anita Garibaldi, ao perder um filho nos braços, fugindo a cavalo dos seus inimigos? Ou Catarina Lemos, ao colonizar as terras gaúchas? E Joana D’Arc, a guerreira francesa que ardeu na fogueira como uma herege?
Mulheres que empunharam as enxadas no campo; as que ficaram em casa; que lavaram e passaram sem conseguir atenção; mulheres simples e humildes como Maria de Nazaré que foi mãe, amiga, trabalhadora, fiel a Deus, ao seu povo e ao seu companheiro José.
Mulheres santas que oraram, acenderam velas como a nossa padroeira? (Santa Catarina).
Mulheres que cantaram, dançaram, pintaram, bordaram, pecaram?
Mulheres modernas ocidentais que depois de muita luta, votam, trabalham, casam separam, têm filhos, viajam, lêem, fumam, usas decote, guiam automóveis, administram empresas, tingem o cabelo, sofrem, gargalham...
Como o homem, a mulher sente, com os mesmos cinco sentidos, tudo o que o mundo oferece. Frágeis as mulheres? O dualismo sexual não está na força Está nos preconceitos feministas e machistas que a humanidade criou e que agora todos, em especial a mulher, vêm tentando exterminar, desde a sua suposta origem bíblica, onde Eva derivou-se de uma simples costela de Adão.
Katiusa Stumpf (Chapecó-SC)
(Texto extraído do Jornal “Mundo Jovem” de março de 06)

quarta-feira, julho 19, 2006

Qual desenvolvimento?

O Brasil é vítima de política agrícola ligada à monocultura e às exportações


Qual desenvolvimento?

Nos projetos do agronegócio, constata-se que os pobres e, sobretudo os negros, como sempre, ficam de fora das preocupações dos governos e dos grandes empresários.


Ouve-se falar muito, nos dias de hoje, sobretudo da boca de alguns políticos e de grandes empresários, sobre a necessidade que o Brasil tem de voltar a crescer e crescer com segurança. Até ai estamos de acordo. Mas que modelo de crescimento adotar para que esse “milagre” se torne realidade sem gerar prejuízos? No campo, vimos que há bastante investimento no modelo agrícola do agronegócio, endeusado pela imprensa, que não poucas vezes deixa de considerar as reais conseqüências desse tipo de opção.
A abertura e incentivos demasiados, por parte dos governos ao agronegócio, aqui na nossa região do Tocantins e Maranhão, caracterizam atitudes irresponsáveis, por que não são discutidas num contexto mais amplo, com toda a sociedade e não considera a natureza, com todo o ecossistema e nem o aspecto cultural das pessoas que vivem aqui há mais tempo. Noto que da forma como esse processo vem sendo conduzido, sobretudo aqui, só serve para aumentar ainda mais a incomensurável distancia entre ricos e pobres produzindo e aprofundando mais a jurássica exclusão social.
É doloroso constatar que desde os tempos de colônia o Brasil vem. Não me restam dúvidas de que esse modelo só dá suporte para relações para relações de trabalho e renda profundamente desiguais e injustas. Aqui no norte e nordeste, precisamente sul do Tocantins e sul do Maranhão, se pode verificar por miúdo quão desastrosas são as conseqüências dessa política voltada aos grandes projetos do agronegócio. Constata-se que os pobres e, sobretudo os negros, como de praxe, ficam de fora das preocupações dos governos e grandes empresários. São massacrados pelo “rolo compressor” do grande e médio produtor que fortalecidos por esse modelo econômico, precisam plantar e plantar para exportar. E não poucas vezes ainda são estereotipados como gente preguiçosa e desqualificada. É esse o preço que essa gente pobre da terra deve pagar por esse dito desenvolvimento?
As terras por aqui, embora cultiváveis, não são as típicas de culturas. Trata-se na maior parte de um cerrado baixo demasiadamente arenoso. O povo daqui ainda costuma cultivar o solo de uma forma quase artesanal. Quase sempre só para a subsistência. Não há preocupação em criarem excedentes. Diante dessa situação, alguns político dizem por aqui que “é preciso dar passagem para o desenvolvimento que chega, custe o que custar”. Para chegar aqui essa gente teve que passar por inúmeras provações na vida.
Da parte dos que governam há despreocupações não só com a gente do lugar, mas também com o meio ambiente, que é desrespeitado de todas as formas. Os pobres na maioria afro-decendentes, sem a terra que é o seu “ganha pão” se vêem na necessidade de irem para as cidades. A serviço de que e para quem estão direcionados os objetivos dos grandes projetos do agronegócio?

Pe Carlos Ferreira da Silva é Missionário Redentorista em Guarai, no Tocantins.

sábado, junho 10, 2006

Papais esportistas



Eles são muitos e estão por toda parte. Adoram quando seus filhos, precoces, praticam atividades esportivas. Acompanham os meninos desde pequenos e deliram quando eles participam de competições.
Embora a maioria dos papais tenha vida sedentária, sabem que a atividade esportiva é saudável. Assim, orientam, incentivam, mostram que é importante praticar esporte.
Futebol, basquete, vôlei, judô ou natação, basta os meninos entrarem na primeira competição que para eles, executivos ou operários, transformem-se. De pais passam a ser a torcida dos atletas mirins. A eles, se junta a família, os amigos e vizinhos. Então os papais sentem o gostinho de serem “torcida organizada”: à beira da piscina, da quadra, do gramado, do tatame. Aí, eles vão à loucura tentando passar seus “conhecimentos esportivos” aos herdeiros.
Quando a TV transmite competições regionais, jogos escolares, a torcida familiar não decepciona!
A família é importante para o desenvolvimento da criança. Papais participativos, presentes, que têm uma palavra amiga na hora certa, são fundamentais para o desenvolvimento dos filhos. Se não são perfeitos, ou exageram de vez em quando, ao cobrar disciplina ou valores que os jovens nem sempre acham importantes, continuam tendo crédito, afinal, fazem tudo por amor.


Gizelda

Amigos para sempre


Este blog surgiu da conversa entre dois amigos, um iraniano e uma brasileira. Depois outros amigos foram convidados, um angolano e um padre brasileiro. É a vontade de amigos que vivem em países diferentes, de escrever notícias de sua pátria, além de crônicas, poesia.
Que este blog sirva para alegrar e unir pessoas de nações tão distintas.

Gizelda