quinta-feira, setembro 06, 2007

Em francês

Psique: Eros?
Eros2002: yes!
Psique: fale em francês comigo. Você sabe?
Eros2002: oui
Psique: diga algo então, acho esse idioma muito sensual
Eros2002: je vai aimé t'embrasser
Psique: traduza agora
Eros2002: dnas botre rendez-vous je te vais fasir du plaisir
Eros2002: vou adorar te abraçar
Eros2002: e no nosso encontro te dar prazer
Psique: fale mais
Eros2002: oh!
Psique: fale
Eros2002: não!
Psique: ah!
Eros2002: não escrevo há muito tempo
Eros2002: je vais te faire voir les etoiles
Psique: trate de aprender
Eros2002: de heureuz
Eros2002: reaprender
Psique: quero que sussurre em francês no meu ouvido
Eros2002: ok
Eros2002: depois
Psique: quando me telefonar
Eros2002: se você me morder todinho
Psique: pelo telefone?
Eros2002: experimentemos
Eros2002: amanhã
Eros2002: d'accord
Psique: vai ser uma delícia!
Eros2002: sim
Psique: sim
Eros2002: e como vai ser?
Psique: o quê?
Eros2002: a delícia
Psique: como?
Eros2002: você é que sabe
Psique: sim
Eros2002: como vai me deliciar?
Psique: sei lá
Eros2002: não sabe?
Eros: não
Eros2002: invente, imagine
Psique: não sei
Psique: se fosse pessoalmente ainda vá lá
Eros2002: esta acanhada agora?
Psique2002: experimente
Psique: não
Eros2002: oohhhhhhhhhhhhh
Eros2002: que pena
Eros2002: vou beber água
Psique: tá
Eros2002: então?
Psique: vou dormir boa noite
Eros2002: já?
Psique: sim, beijos

Missa em Uruguaiana

Na cidade de Uruguaiana, bem na divisa do Brasil e Argentina, a Igreja da praça Barão do Rio Branco fica cheia para a missa das 10h: argentinos, brasileiros, o prefeito, delegado, comerciantes...
O padre começa o sermão:
- Irmãos estamos hoje aqui reunidos para falar dos Fariseus...
Aquele povo desgraçado como esses argentinos que estão aqui...
- Ohhhhhhh !!!!
O maior tumulto tomou conta da igreja.
Os argentinos saíram xingando o padre, houve briga na porta da igreja. O prefeito
levou a mão à cabeça, indignado.
Acabada a confusão, o prefeito foi falar com o padre na sacristia:
- Padre, controle-se por favor, os argentinos vêm para este lado, gastam nas lojas, nos restaurantes, trazem divisas para a cidade.
Não faça mais isso.
Durante a semana a conversa entre todos era a mesma: o padre e o sermão do domingo. Aquele zum-zum-zum todo foi fazendo as pessoas ficarem curiosas e querendo saber mais sobre o que tinha acontecido.
Finalmente, chega o domingo. O prefeito chega na sacristia e fala com o padre:
- Padre, o senhor lembra do que conversamos antes, não? Por favor, não arrume nenhuma encrenca hoje, certo?
Vem a missa e o padre começa o sermão:
- Irmãos... Estamos aqui reunidos, hoje, para falar de uma pessoa da Bíblia: Maria Madalena. Aquela mulher, a prostituta que tentou Jesus, como essas argentinas que estão aqui...
Não deu outra : pancadaria na igreja, quebraram velas nos corredores, tapas, socos e algumas internações na Santa Casa da cidade.
O prefeito novamente foi ao encontro do padre: - Padre, o senhor não me disse que iria pegar leve? Padre, se o senhor não amansar, vou escrever uma carta à Congregação e pedir a sua retirada imediata.
Naquela semana, o tumulto era maior ainda. As conversas eram maiores ainda e todos não perderiam a missa do próximo domingo nem por decreto.
Na manhã do domingo, o prefeito entra na sacristia com a polícia e adverte o padre:
- Padre, pega leve desta vez, senão te levo em cana !!
A igreja estava abarrotada. Quase não se conseguia respirar de tanta gente, tinha moleque vendendo água, pirulito, gente recolhendo lata de alumínio, garrafas pet, vendedores de rifas...
Começa o sermão: - Irmãos.... Estamos aqui reunidos, hoje, para falar do momento mais importante da vida de Cristo: a Santa Ceia...
O prefeito então respirou aliviado.
Jesus, naquele momento, disse aos apóstolos :"Esta noite, um de vocês irá me trair".
Então João pergunta:
- Mestre, sou eu?
E Jesus responde:
- Não, João, não é você.
Pedro pergunta:
- Mestre, sou eu?
E Cristo responde:
- Não, Pedro, não é você.
Então Judas pergunta:
Mestre, soy yo?

Mordidinhas

Eros2002: oi
Psique: oi
Eros2002: como te sentes?
Psique: estou ótima!
Eros2002: sim?
Psique: e você?
Eros2002: quer uma mordidinha?
Eros2002: eu também
Psique: você é ótimo
Eros2002: sim
Psique: tá ficando muito assanhadinho
Eros2002: vou mandar a foto
Psique: agora?
Eros2002: sim
Eros2002: recebeu?
Psique: sim
Eros2002: ok
Psique: vou lhe enviar a minha
Eros2002: ok
Eros2002: já enviou?
Psique: sim
Psique: deve estar chegando
Eros2002: vou ver
Psique: não vá se assustar
Eros2002: com o quê?
Psique: a foto
Eros2002: oh!
Eros2002: assustar por quê?
Psique: aumente o tamanho dela
Eros2002: SIM
Eros2002: mas você cresce?...rsrs
Psique: heim?
Eros2002: está ok
Eros2002: estava a ver se dobrava a saia
Psique: pensou o que?
Psique: como?
Eros2002: desabotoar
Psique: tente quem sabe você consegue... rsrs
Eros2002: ok vou tentar
Psique: sonha Eros
Eros2002: sim, com quê?
Psique: com isso
Eros2002: com a saia?
Psique: simmmmmm
Eros2002: ok
Psique: desmaiou?
Eros2002: com quê?
Psique: você sumiu
Eros2002: não, estava a ver a foto com lupa, para ver os pormenores...
Psique: o que está fazendo?
Eros2002: estava brincando
Psique: eu sei
Eros2002: estava a tirar a roupa à foto, mas não consegui
Psique: ahahahahah
Eros2002: vou buscar um cigarro
Psique: tá
Psique: traga o vinho
Eros2002: não trouxe, não vi a mensagem a tempo
Psique: que pena
Eros2002: teremos tempo
Psique: de quê?
Eros2002: de beber o vinho
Eros2002: e quero que você o beba, enfim, você sabe...
Psique: por que não?
Eros2002: claro que sim
Psique: mas hoje, beba por mim, brinde a nossa amizade
Eros2002: ok, mas queria também um pouco da sugestão
Psique: diga
Eros2002: que você o beba em mim
Eros2002: e me dê um mordidinha
Psique: com certeza, vou beber você inteirinho...
Eros2002: sim?
Eros2002: que bom!
Psique: molhar a sua boca com vinho
Eros2002: e...
Psique: e morder os seus lábios
Eros2002: sim, hummmmmmmmmmmmm
Eros2002: e...
Psique: e, chega, está muito assanhado
Eros2002: estou?
Psique: yes!
Eros2002: no!

Trocando sons por cores

- Vamos parar um pouco. Não agüento esta cor laranja!

Onde está a cor de laranja? Estamos no Trastevere, em Roma, e tudo

que vejo são os bares, as pessoas na rua neste começo de primavera

gelado, e os sinos da igreja tocando. Já é quase noite de um dia

nublado, de modo que sequer podemos culpar o sol pela ilusão de

ótica.

Caminho com uma atriz que conheço já há algum tempo, mas que nunca

antes tivemos oportunidade de conversar o suficiente. Paro como

pediu, mas apenas por educação, já que aquela mulher equilibrada,

profissional, deve ser mais louca do que eu pensava.

Entramos em um restaurante para jantar. Pedimos risoto com trufas,

e um bom vinho. Conversamos sobre a vida, e de novo um comentário

absurdo:

- Esta comida está retangular!

Ela nota minha cara de espanto. Comida retangular?

- Você deve achar que estou louca; não estou. Houve um momento de

minha vida em que pensei que era daltônica (pessoa que confunde

uma cor com outra). Fui ao médico, e descobri que tenho um

distúrbio neurológico comum.

Depois que voltei para casa e imediatamente comecei a pesquisar no

computador, fiquei surpreso com algo que jamais tinha ouvido falar

em minha vida: sinestesia. Uma condição em que um estímulo de

determinado sentido provoca a percepção em outro. A pessoa que

sofre deste tipo de distúrbio, confunde sons com cheiros, visão

com paladar, cores com tato (não necessariamente nesta lógica).

Alguns estudos científicos alegam que a visão de auras em seres

humanos nasceu daí; discordo destes estudos, penso que todos nós

temos realmente um corpo astral que pode ser visto quando

alteramos a percepção. Mas o que mais me atraiu na pesquisa foi

saber que o que percebemos através de nossos cinco sentidos não é

uma verdade absoluta. As pessoas sinestésicas têm uma noção do

mundo completamente distinta da nossa, embora isso não os impeça

de levarem uma vida relativamente normal. Minha amiga atriz

trabalha na TV italiana todos os dias, e diz que terminou por se

acostumar.

Indo mais adiante na pesquisa, descobri um estudo na revista

britânica Cognitive Neuropsychology. Uma equipe de pesquisadores

do University College de Londres, chefiada pelo Dr. Jamie Ward,

foi mais além: alguns sinestésicos podem perceber cores em

palavras carregadas de emoção, como “amor” ou “filho”. A grande

maioria deles termina associando o nome de alguém à determinada

tonalidade. Ward descreve o caso de uma moça identificada por

G.W., que simplesmente pelo fato de escutar determinados nomes,

tinha seu campo de visão inteiramente coberto por determinada cor

associada àquela palavra.

Em uma revista de arte, aprendo que as aureolas que vemos em torno

das cabeças dos santos podem ter sido criadas por algum pintor

sinestésico na antiguidade, sendo repetidas pelos outros sem que

ninguém se perguntasse à razão daquele círculo de luz. O prêmio

Nobel de Física de 1965, certa vez disse em uma entrevista:

“quando escrevo equações no quadro-negro, noto os números e as

letras em cores diferentes”.Diz um artigo que Feynman faz parte de

um grupo de pessoas para quem o número dois pode ser amarelo, a

palavra carro tem gosto de geléia de morango, e certa nota musical

evoca a imagem do círculo.

Ward diz que a sinestesia não é absolutamente uma doença: “ao

contrário dos transtornos psiquiátricos, o sinestésico não tem

nenhuma função básica comprometida, e sim um sintoma positivo,

ausente na maioria dos outros seres humanos”.O grande problema

está em crianças em idade escolar, que não conseguem entender por

que sentem as coisas de maneira diferente dos outros.

Para minha grande surpresa, alguns estudos apontam que uma em cada

300 pessoas é sinestésica (embora a maioria diga que a relação é

de uma em 2.000).

No dia seguinte telefonei para a minha amiga e perguntei que

sensação ela sempre associava comigo. “Suave” foi sua resposta.

Bem, nem sempre a sinestesia tem lógica.

Paulo Coelho

Coisas

A máscara cai

O sorriso aparece

A ironia vence



O véu se rasga

A nudez se mostra

O pecado encanta



As cortinas se abrem

O espetáculo começa

O público se espanta



A mortalha se rebela

O rosto não é mais cadavérico

A morte não convence.



Ludimar Gomes Molina



Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL
visite:
http://cplitoral.blogspot.com
http://cliquepoetico.blogspot.com

Sexo e rock roll

Eros2002: saudades?
Psique: oi?
Psique: não quer ler sobre alfabetização comigo?
Eros2002: não, desculpe
Eros2002: estou ouvindo música, rock da pesada
Psique: tenho muita coisa para ler ainda
Eros2002: Aerosmith
Psique: você?
Eros2002: sim, adoro
Psique: esse tipo de música?
Psique: não acredito!
Eros2002: pode acreditar
Psique: pensei que gostasse de Beatles
Eros2002: também
Eros2002: quando era jovem era hippie
Psique: você era hippie?
Psique: não acredito!
Eros2002: sim!
Psique: essa eu preciso saber!
Psique: conte-me
Psique: fiquei curiosa
Eros2002: sim?
Eros2002: mas é verdade
Psique: usava cabelos longos?
Eros2002: sempre usei
Eros2002: mas como são meio encaracolados
Psique: viajava de carona?
Eros2002: e barba
Eros2002: yes
Psique: com mochila?
Eros2002: yes
Psique: uauaua
Eros2002: e botas couro
Psique: que legal!
Psique: acampava?
Eros2002: claro
Psique: botas de couro?
Psique: adoraria ver
Psique: você devia ficar muito alto
Eros2002: mas trepei pouco nessa altura,as mulheres eram muito tímidas
Psique: ahahahahahaha
Psique: que azar, não?
Eros2002: alto?
Eros2002: eu era alto para a época
Eros2002: 1,95
Psique: homens altos me deixam emocionada
Eros2002: excitada quer você dizer
Psique: é...
Psique: que mais?
Psique: conte-me
Psique: estou adorando
Psique: usava drogas?
Eros2002: não
Psique: todo hippie que se preza usava
Eros2002: sempre fui contra as drogas
Eros2002: eles, os que usavam drogas eram violentos
Psique: nem que fosse a básica maconha
Eros2002: não me agradava muito
Psique: que mais
Eros2002: mais?
Psique: sim, conte-me
Psique: tinha uma turma?
Eros2002: nada mais de especial
Psique: andava de moto?
Eros2002: não, tenho e sempre tive medo
Eros2002: andei por muitos lugares de corona
Psique: adoro isso!
Psique: viajei muito de carona, mas para trabalhar
Psique: existe uma associação de andarilhos aqui, ainda quero conhecê-los
Eros2002: ia a festivais de música e concentrações do contra
Psique: que legal
Eros2002: mas agora não estou muito a fim
Psique: o que mais gosta em termos de música?
Psique2002: tudo que for bom
Psique: exemplo
Eros2002: desde Mozart ou Beethoven, a Chico ou, outros
Psique: rapaz versátil...
Eros2002: e eclético
Psique: está sozinho?
Psique: ahahaha
Psique: eclético??????
Eros2002: completamente sozinho em casa
Psique: oh!
Eros2002: por quê?
Psique: por nada
Eros2002: quer que eu telefone?
Psique: não, preciso voltar para as minhas leituras

O Jardim e a Noite

Atravessei o jardim solitário e sem lua,
Correndo ao vento pelos caminhos fora,
Para tentar como outrora
Unir a minha alma à tua,
Ó grande noite solitária e sonhadora.

Entre os canteiros cercados de buxo,
Sorri à sombra tremendo de medo.
De joelhos na terra abri o repuxo,
E os meus gestos dessa encantação,
Que devia acordar do seu inquieto sono
A terra negra canteiros
E os meus sonhos sepultados
Vivos e inteiros.

Mas sob o peso dos narcisos floridos
Calou-se a terra,
E sob o peso dos frutos ressequidos
Do presente,
Calaram-se os meus sonhos perdidos.

Entre os canteiros cercados de buxo,
Enquanto subia e caía a água do repuxo,
Murmurei as palavras em que outrora
Para mim sempre existia
O gesto dum impulso.

Palavras que eu despi da sua literatura,
Para lhes dar a sua forma primitiva e pura,
De fórmulas de magia.

Docemente a sonhar entra a folhagem
A noite solitária e pura
Continuou distante e inatingível
Sem me deixar penetrar no seu segredo
E eu senti quebrar-se, cair desfeita,
A minha ânsia carregada de impossível,
Contra a sua harmonia perfeita.

Tomei nas minhas mãos a sombra escura
E embalei o silêncio nos meus ombros.
Tudo em minha volta estava vivo
Mas nada pôde acordar dos seus escombros
O meu grande êxtase perdido.

Só o vento passou e quente
E à sua volta todo o jardim cantou
E a água do tanque tremendo
Se maravilhou
Em círculos, longamente.

Sophia de Mello Breyner Andresen



Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL
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