domingo, julho 29, 2007

Poetar

Eros2002: são dois em um
Psiques: como?
Eros2002: ora, lê os dois separadamente.
Psique: como?
Eros2002: relês o poema e encontras dois poemas
Psique: nós fizemos dois poemas?
Eros2002: sim
Psique: mas não é gostoso?
Eros2002: claro que sim
Eros2002: mas de fato são dois poemas
Psique: eu chamo isso de poetar!
Eros2002: podem ser apresentados separadamente ou em conjunto
Eros2002: poetar!
Eros2002: bonito!
Psique: é verdade!
Psique: poetar pode ser um título
Eros2002: sim, para uma ação de poesia ao desafio.
Psique: como está a noite aí?
Eros2002: ainda está escura
Psique: há estrelas?
Eros2002: há
Psique: frio?
Eros2002: nenhum
Eros2002: está até quente
Psique: quer parar já?
Eros2002: daqui a pouco
Eros2002: vou fumar enquanto imagino beber um vinho consigo...
Eros2002: brindemos!
Eros2002: tcim tcim
Psique: sim
Psique: brindemos
Psique: a quem?
Eros2002: à nossa
Psique: à nossa
Eros2002: e ao futuro melhor
Psique: cheio de poesia
Psique2002: e de alegria
Psique: Foi uma linda noite. Descanse agora. Obrigada
Eros2002: ok
Eros2002: boa noite
Psique: está bem, boa noite, então.
Eros2002: xau
Psique: xau
Psique: fique bem
Eros2002: você também
Psique: beijos
Eros2002: beijos para você também
Psique: cadê o sorriso?
Psique: agora pode ir
Eros2002: obrigadinhooo
Psique: poetar comigo fez você perder o sono?
Eros2002: não
Eros2002: sabe, eu gosto de falar com você e preciso falar com alguém
Psique: eu estou aqui
Eros2002: porque é diferente
Eros2002: ok
Eros2002: e o nosso poetar foi muito soft
Eros2002: obrigado
Eros2002: vou dormir
Psique: xau
Eros2002: bom é melhor eu ir

Mensagem para você

Aprender e nunca estar satisfeito é sabedoria; ensinar e nunca se cansar é amor.

Jô Petty

Madrugadas

Psique: estou pensando aqui.
Psique: acho que vou lhe mostrar um poema meu
Eros2002: sim?
Psique: o que acha?
Eros2002: até que enfim
Eros2002: já não era sem tempo
Psique: mas ele é simples
Eros2002: só querendo despir a mim...
Psique: eu não sou nenhum Drummond
Eros2002: e depois
Eros2002: até dará forças a mim para ir em frente
Psique: veja...
Eros2002: é bonito!
Psique: obrigada
Eros2002: publique
Psique: está brincando, é?
Psique: literariamente falando, isso não vale nada
Eros2002: por quê?
Eros2002: você aborda a noite de uma forma própria
Eros2002: eu me revejo nesse poema muitas vezes
Psique: é mesmo?
Eros2002: claro
Eros2002: a noite não é só diversão
Eros2002: é também alguma solidão e angústia
Psique: é reflexão, principalmente.
Eros2002: sim
Psique: o que você acha de escrevermos juntos?
Psique2002: ok
Psique: caminharemos juntos por alguns momentos.
Eros2002: sim
Psique: por algumas madrugadas,
Psique: está cansado?
Eros2002: estou a pensar
Psique: sobre...
Eros2002: a poesia a dois...
Psique: está tão silencioso
Eros2002: sim, estou calado.
Eros2002: mas gostei dos poemas
Psique: não fique tão calado
Eros2002: ok
Eros2002: você prefere escrever coletivamente
Psique: às vezes
Psique: quer escrever comigo?
Eros2002: agora?
Psique: quer tentar fazer um poema comigo agora?
Eros2002: vamos lá...

Proverbiando

Cansado de falar por aí provérbios e ditos populares sem saber o quê, às vezes, eles realmente querem dizer, sem saber também de sua origem ou quando foi usada pela primeira vez? A partir de agora o Clube de Poetas do Litoral apresenta o: Proverbiando. Toda semana reapresentando frases que estão na boca do povo há muito, muito tempo

Deus é grande, mas o mato é maior

Velho provérbio que tem curso principalmente no Nordeste do Brasil, em zonas assoladas pleo banditismo e onde há mais garantias para os que se escondem no mato do que para os que ficam em suas casas, à merce dos bandos facinorosos. A confirmar apenas em Deus, os caboclos, ameaçados, preferem invocar a proteção divina em um esconderijo que lhes parece seguro.
Visconde de Taunay, nas suas "Memórias", mostrava que esse dito já circulava no tempo da guerra contra Lopez.
Locução aproximada: Fia-te na Virgem e não corras!

Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL visite:http://cplitoral.blogspot.comhttp://cliquepoetico.blogspot.com

Poesia na rede

Angela Adonica

Hoje deitei-me junto a uma jovem puracomo se na margem de um oceano branco, como se no centro de uma ardente estrelade lento espaço. Do seu olhar largamente verdea luz caía como uma água seca,em transparentes e profundos círculosde fresca força. Seu peito como um fogo de duas chamas ardía em duas regiões levantado,e num duplo rio chegava a seus pés,grandes e claros. Um clima de ouro madrugava apenasas diurnas longitudes do seu corpoenchendo-o de frutas extendidase oculto fogo.

Pablo Neruda

Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL visite:http://cplitoral.blogspot.com/http://cliquepoetico.blogspot.com/

Mensagem para você

Não se escala uma montanha a passos largos, mas a passos lentos e com perseverança.

Pedro Casaldáliga

quinta-feira, julho 26, 2007

Mensagem para você

Olhe a proposta para hoje: se cair, levante-se; se atrasar, não desanime; se outros forem à sua frente, siga-os, mas vá sempre caminhando em direção aos horizontes do bem e da verdade.

Renato Zanolla

terça-feira, julho 24, 2007

Strip-tease

Psique: Você abriu a concha, esta noite.
Eros2002: eu?
Psique: sim
Eros2002: não percebi
Psique: eu estou em desvantagem
Eros2002: por quê?
Psique: agora você sabe mais de mim do que eu de você
Eros2002: será?
Psique: vá tirando a "roupa”... rs
Eros2002: você é muito perspicaz
Eros2002: você sabe tirar, perguntando.
Psique: não se esqueça que estamos falando de alma e não de corpo
Eros2002: eu estou a falar também disso, claro.
Eros2002: perguntando, mas não é de hoje.
Psique: como?
Eros2002: para eu conhecer um pouco de si, você foi-me conhecendo.
Psique: não sei
Eros2002: não sabe?
Eros2002: agora quem se ri sou eu
Psique: ainda acho que estou em desvantagem
Eros2002: claro, não esperava que dissesse outra coisa.
Psique: abaixe a sua defesa
Eros2002: eu aqui nem ataco nem defendo
Psique: como se sente agora? Quero conhecer suas emoções
Eros2002: mas diga o que falta saber?
Psique: as suas emoções
Eros2002: feliz por estar a ter esta conversa, cansado por ser 4h30 e, interessado em continuar a conversar consigo.
Psique: acho que tivemos esta noite a nossa melhor conversa, não?
Psique: quer ir embora?
Eros2002: estou a ficar um pouco cansado fisicamente
Eros2002: mas, tenho ainda alento para mais um pouco.
Eros2002: você me está a dar um pouco desse alento
Eros2002: e sei, eu não falei com ninguém sobre a minha mudança.
Eros2002: e nem sei como lhe fui contar
Eros2002: mas se o fiz foi porque achei bem
Eros2002: e não estou arrependido
Psique: mas uma boa amizade só vale quando há troca, não se esqueça.
Eros2002: por isso lhe digo que você sabe tirar "a roupa"
Psique: eu?
Eros2002: sim
Psique: ?
Eros2002: você soube fazer com que eu falasse num assunto tabu
Eros2002: pois a maioria das pessoas nem imagina
Psique: o que é tabu para você?
Eros2002: a mudança profissional
Psique: é um desafio
Psique: e vai ser maravilhoso
Psique: e você é corajoso
Eros2002: sim, mas tenho sempre medo antes de entrar na água.
Psique: vencerá, com certeza.
Eros2002: obrigado pelo apoio
Psique: o medo a gente vence
Eros2002: eu sei
Eros2002: amanhã vou dar um mergulho ao fim do dia
Eros2002: eu sou sempre assim antes
Psique: tem consciência das suas qualidades?
Psique: do pode fazer?
Psique: se estiver seguro de si, vencerá.
Eros2002: ok, obrigado
Psique: diga-me algo bonito para encerrarmos esta linda conversa que tivemos
Eros2002: estou ansioso por nos encontramos para bebermos um cálice de vinho
Psique: vai ser bárbaro!
Psique: vai ter música!
Eros2002: sim
Psique: legal!
Psique: é bom sonhar
Psique: aquece a alma
Psique: quer ir descansar, agora?
Eros2002: mais um pouco...

Mergulhar

Eros2002: oi
Psique: oi!
Eros2002: muito apaixonada hoje?
Psique: pela vida, pelos amigos, por Deus.
Eros2002: ai sim, mas o seu poema sugere outra coisa.
Psique: qual?
Eros2002: o da sociedade dos escritores
Psique: já leu Eros?
Eros2002: li e gostei
Psique: eu amo Drummond,
Eros2002: era de Drummond?
Psique: sim, pensou que era meu?
Eros2002: é como se fosse pela forma como o pôs
Psique: tenho vergonha de mostrar os meus poemas
Eros2002: ?
Psique: pois eles são muito simples
Eros2002: que disparate!
Psique: não estou pronta para desnudar meus sentimentos por aí
Eros2002: vai do começar
Psique: começar sempre é difícil
Eros2002: sim
Eros2002: a primeira vez é como mergulhar em uma piscina
Psique: sim?
Eros2002: primeiro concentro-me e reflito bastante
Eros2002: depois olho a água e mergulho com os olhos fechados, bem fundo...
Eros2002: e depois venho suavemente à tona
Psique: que delícia!
Eros2002: é mesmo
Psique: até senti o que você descreveu!
Eros2002: é bom, não é?
Psique: mas é diferente expor um poema ao público
Eros2002: você precisa dar um bom mergulho também
Eros2002: é a mesma coisa
Eros2002: eu sei que isso é o grande problema de todos nós
Psique: sim?
Eros2002: é dar o primeiro passo
Eros2002: e depois é que vamos realmente começar
Eros2002: foi assim sempre na minha vida
Eros2002: e sempre será, acho.
Psique: quer explicar melhor, por favor, em que pensa?
Eros2002: você pensa que as coisas são difíceis e tem receio
Psique: sim
Eros2002: depois arrisca um pouco e, olha... até que não foi mau
Eros2002: mas de fato ainda está a começar
Eros2002: e tudo irá mudar
Eros2002: mesmo a forma e o estilo de escrever
Eros2002: tudo muda e nada é como quando começou
Psique: você está filosofando!
Eros2002: não propriamente, estou lhe contando um pouco da minha experiência.
Eros2002: da minha vida
Psique: continue
Eros2002: é isto, não tem muito mais.
Psique: e o seu novo trabalho?
Eros2002: estou a preparar-me para mergulhar
Psique: que bom!
Eros2002: vamos ver como vai ser quando eu vier à tona
Psique: estarei aqui, torcendo por você.
Eros2002: vamos lá ver
Psique: vai dar certo!
Eros2002: xau
Psique: xau

Vinte anos depois - Paulo Coelho

Na próxima semana comemoramos (25 de julho) o dia de Santiago de Compostela. No ano passado, refiz a peregrinação de carro junto com minha mulher, para celebrar meus 20 anos de Caminho.

Me lembro de uma tarde, sentado em um jardim em Leon, olhando o rio que corre.

Ao meu lado, Christina – minha mulher – está lendo um livro. A primavera começa na Europa, já podemos colocar os agasalhos na mala. Andamos de carro todos estes dias, passando em alguns lugares que marcaram nossas vidas (Christina fez o Caminho de Santiago em 1990). Apesar de viajarmos sem pressa, cobrimos 500 kms. em menos de uma semana.

Agua mineral. Café.

Pessoas que conversam, pessoas que caminham.

Pessoas que também tomam seu café e sua água mineral.

Então volto vinte anos no tempo, uma tarde de julho ou agosto de 1986, um café, uma água mineral, pessoas conversando e caminhando – só que desta vez o cenário são as planícies que se estendem logo depois de Castrojeriz, meu aniversário se aproxima, já saí de Sant Jean Pied-de-Port faz tempo, e estou pouco além da metade do caminho que conduz a Santiago de Compostela.

Velocidade de caminhada: 20 kms por dia.

Olho para adiante, a paisagem monótona, o guia que também toma o seu café num bar que parece ter surgido de lugar nenhum. Olho para trás, a mesma paisagem monótona, com a única diferença que a poeira do chão tem as marcas das solas de meus sapatos – mas isso é temporário, o vento as apagará antes que chegue a noite.

Tudo me parece irreal.

O que estou fazendo aqui? Esta pergunta continua me acompanhando, embora várias semanas já se tenham passado.

Estou procurando uma espada. Estou cumprindo um ritual de RAM, uma pequena ordem dentro da Igreja Católica, sem segredos ou mistérios além da tentativa de compreender a linguagem simbólica do mundo. Estou pensando que fui enganado, que a busca espiritual não passa de uma coisa sem sentido ou lógica, e que seria melhor estar no Brasil, cuidando do que eu sempre cuidava.

Estou duvidando de minha sinceridade nesta busca, porque dá muito trabalho procurar um Deus que nunca se mostra, rezar nas horas certas, percorrer caminhos estranhos, ter disciplina, aceitar ordens que me parecem absurdas.

É isso: duvido da minha sinceridade. Por todos estes dias Petrus tem dito que o caminho é de todos, das pessoas comuns, o que me deixa muito decepcionado. Eu pensava que todo este esforço fosse me dar um lugar de destaque entre os poucos eleitos que se aproximam dos grandes arquétipos do universo. Eu pensava que ia finalmente descobrir que é verdade todas as histórias a respeito de governos secretos de sábios no Tibete, de porções mágicas capazes de provocar amor onde não existe atração, de rituais onde de repente as portas do Paraíso se abrem.

Mas é exatamente o contrário que Petrus me diz: não existem eleitos. Todos são escolhidos, se ao invés de se perguntarem “o que estou fazendo aqui”, resolverem fazer qualquer coisa que desperte o entusiasmo no coração. É no trabalho com entusiasmo que está a porta do paraíso, o amor que transforma, a escolha que nos leva até Deus.

É esse entusiasmo que nos conecta com O Espírito Santo, e não as centenas, milhares de leituras dos textos clássicos. É a vontade de acreditar que a vida é um milagre que permite que os milagres aconteçam, e não os chamados “rituais secretos” ou “ordens iniciáticas”. Enfim, é a decisão do homem de cumprir o seu destino que o faz ser realmente um homem – e não as teorias que ele desenvolve em torno do mistério da existência.

E aqui estou eu. Um pouco além do meio do caminho que me leva a Santiago de Compostela. Se as coisas são tão simples como ele diz, por que esta aventura inútil?

Nesta tarde em Leon, no longínquo ano de 1986, eu ainda não sei que daqui a seis ou sete meses irei escrever um livro sobre esta minha experiência, que já caminha por minha alma o pastor Santiago em busca de um tesouro, que uma mulher chamada Veronika preparara-se para ingerir algumas pílulas e tentar cometer suicídio, que Pilar chegará diante do rio Piedra e escreverá, chorando, o seu diário.

Tudo que sei é que estou fazendo este absurdo e monótono Caminho. Não existe fax, celular, os refúgios são poucos, meu guia parece irritado o tempo inteiro, e não tenho como saber o que está acontecendo no Brasil.

Tudo que sei neste momento é estou tenso, nervoso, incapaz de conversar com Petrus, porque acabo de me dar conta de que não posso mais voltar a fazer o que vinha fazendo - mesmo que isso signifique abrir mão de um dinheiro razoável no final do mês, de uma certa estabilidade emocional, de um trabalho que já conheço e do qual domino algumas técnicas. Preciso mudar, seguir em direção ao meu sonho, um sonho que me parece infantil, ridículo, impossível de ser realizado: tornar-me o escritor que secretamente sempre desejei ser, mas que não tenho coragem de assumir.

Petrus termina de beber seu café, sua água mineral, pede que pague a despesa e que continuemos logo a andar, já que ainda faltam alguns quilômetros até a próxima cidade. As pessoas continuam passando e conversando, olhando com o canto dos olhos os dois peregrinos de meia-idade, pensando como há gente estranha neste mundo, sempre pronta a tentar reviver um passado que já está morto (*). A temperatura deve estar em torno de 27o C porque é o final da tarde, e eu me pergunto silenciosamente, pela milésima vez, se não tomei a decisão errada.

Eu queria mudar? Acho que não, mas no final das contas este caminho está me transformando. Eu queria conhecer os mistérios? Acho que sim, mas o caminho está me ensinando que não existem mistérios, que – como dizia Jesus Cristo – não há nada oculto que não tenha sido revelado. Enfim, tudo está acontecendo exatamente ao contrário do que eu esperava.

Nos levantamos, e começamos a andar em silêncio. Estou imerso em meus pensamentos, em minha insegurança, e Petrus deve estar pensando – imagino eu – no seu trabalho em Milão. Está aqui porque de alguma maneira foi obrigado pela Tradição, mas possivelmente espera que esta caminhada termine logo, para que possa voltar a fazer o que gosta.

Andamos por quase todo o resto da tarde sem conversar. Estamos isolados em nossa convivência forçada. Santiago de Compostela está adiante, e não posso imaginar que este caminho me conduz não apenas à esta cidade, mas a muitas outras cidades do mundo. Nem eu nem Petrus sabemos que nesta tarde, na planície de Leon, eu estou também caminhando para Milão, sua cidade, aonde chegarei quase dez anos depois, com um livro chamado “O Alquimista”. Eu estou caminhando para o meu destino, tantas vezes sonhado e outras tantas vezes negado.

Em alguns dias chegarei exatamente no lugar onde hoje, vinte anos depois, escrevo estas linhas. Eu estou caminhando em direção ao que sempre desejei, e não tenho fé, nem esperança, que minha vida se transforme.

Mas continuo em frente.Em um futuro longínquo, em um dos bares onde passarei daqui a alguns dias, já está sentada minha mulher lendo um livro, e ali estou eu, digitando este texto em um computador, que minutos depois o envia por internet até o jornal onde será publicado.

Estou caminhando em direção a este futuro – nesta tarde de agosto de 1986.

(*) no ano que fiz a peregrinação, apenas 400 pessoas tinham percorrido o Caminho de Santiago. No ano de 2005, segundo estatísticas não oficiais, 400 pessoas passavam – por dia – diante do bar mencionado no texto.

Poesia na rede

Fuga

Era isso nosso amor;

Falava, voltava, trazia-nos

Uma pálpebra baixa, infinitamente distante,

Um sorriso petrificado, perdido

Na relva da manhã;

Uma concha estranha que nossa alma

Tentava decifrar a todo instante.



Era isso nosso amor, progredia lentamente

Tateando por entre as coisas que nos envolvem,

Para explicar por que recusávamos a morte

Tão apaixonadamente.



Embora nos agarrássemos a outras cinturas,

Enlaçássemos outras nucas, loucamente

Confundíssemos nosso hálito

Ao hálito do outro,

Embora fechássemos os olhos, era isso nosso amor…

Nada mais que o profundíssimo desejo

De suspender nossa fuga.



Giorgio Seferis, pseudônimo de Gorge Seferiadis,

poeta grego – 1900/1971



Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL
visite:
http://cplitoral.blogspot.com
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Frei Beto - Adital

O que acontece quando crimes hediondos são praticados pelo governo de um país que se orgulha de ser o paladino da democracia e da liberdade? Seus admiradores emudecem de vergonha? Se tais atrocidades fossem cometidas pelos governos de Chávez ou de Fidel mereceriam manchetes garrafais. Seriam a prova contundente de que não têm escrúpulos, violam os mais elementares princípios de civilidade, agridem os direitos humanos...
Parte dessa história macabra, que envolve o conluio entre o Estado e o crime organizado, começa a vir à tona. Pressionado pela opinião pública, o governo dos EUA divulgou, na última semana de junho, o documento de 693 páginas curiosamente intitulado "Jóias da família", concernente às operações da CIA entre 1950 e 1970. É de estarrecer. A agência de informação e espionagem aparece como uma sucursal do sindicato do crime, dedicada a praticar assassinatos; escutas telefônicas e violação de correspondência ilegais; uso de seres humanos como cobaias involuntárias em testes de medicamentos; vigilância de jornalistas e personalidades, como Jane Fonda, contrárias à guerra do Vietnã.

Em 1960, a CIA decidiu assassinar Fidel Castro, o que já é grave por tratar-se de iniciativa de uma instituição do Estado. Contratou, para tanto, um mafioso, Johnny Roselli. A CIA prometeu a Roselli US$ 150 mil pela morte de Fidel, pois a Revolução afetava os interesses dos EUA na Ilha. O mafioso usou "laranjas" para envenenar Fidel. Todas as tentativas fracassaram.

A CIA planejou também o assassinato de Patrice Lumumba, líder anticolonialista do Congo, em janeiro de 1971. Ele havia sido eleito primeiro-ministro em 1960. Recorreu ao apoio da União Soviética quando a província de Katanga, rica em minérios, declarou sua independência, num movimento separatista apoiado pelas potências ocidentais. Um golpe de Estado o derrubou. Ao fugir da prisão domiciliar, Lumumba foi capturado, espancado, levado de avião para Katanga, fuzilado, e seu corpo derretido em ácido.

A CIA preparou ainda a emboscada que, numa estrada da República Dominicana, metralhou o ditador Rafael Trujillo, em maio de 1961. Participou também da eliminação, em 1970, do general chileno René Schneider, como parte de uma conspiração no intento de impedir a posse do presidente Salvador Allende. Tudo isso revelado no relatório do governo dos EUA!

A CIA e seus métodos criminosos prosseguem ativos, sob as bênçãos de Bush: seqüestros de supostos terroristas pelo mundo afora, levados para prisões secretas na Europa Central e no Egito, onde sofrem torturas; a utilização da base naval de Guantánamo como cárcere vedado a qualquer norma jurídica; a eliminação de líderes populares no Iraque e no Afeganistão etc.

O documento "Jóias da família" revela ainda que, no Brasil, a CIA espionou, nos anos 60, a Igreja Católica, mapeando as tendências ideológicas de padres e bispos. Após o golpe de 1964, acusou Brizola de ter recebido dinheiro da China e de Cuba para implantar guerrilha no sul do país.

"Jóias da família" comprova ainda o que todos já sabiam: o governo dos EUA deu apoio político, bélico e material ao golpe militar de 1964. Lincoln Gordon, então embaixador no Brasil, recebeu o respaldo direto do presidente Lyndon Johnson, e recomendou à Casa Branca "tomar medidas o mais brevemente possível para a entrega clandestina de armas, que não sejam de origem dos EUA, para forças partidárias de Castello Branco em São Paulo". As armas, a serem desembarcadas de um submarino, seriam utilizadas por "unidades paramilitares trabalhando com grupos militares democráticos, ou por militares amigos contra militares hostis, se necessário".

Se o documento da CIA mereceu pouco destaque na mídia, por que tanto alarde frente ao fato de Chávez decidir, respaldado pelas leis venezuelanas, não renovar a concessão de RCTV, e tanto silêncio quando a FCC (sigla em inglês de Administração Federal de Comunicações), órgão do governo dos EUA, fechou 141 concessionárias de rádio e TV entre 1934 e 1987? Em pelo menos 40 casos, a FCC sequer aguardou expirar o prazo da concessão, ao contrário do que fez Chávez na Venezuela.

Em julho de 1969, a FCC revogou a concessão da WLBT-TV; em 1981, da WLNS-TV; em abril de 1998, da rádio Daily Digest. Só na década de 80 ocorreram dez casos de não renovação.

Na Inglaterra, a autoridade estatal decretou, em março de 1999, o fechamento temporário do MED TV, canal 22; em agosto de 2006, revogou a licença da ONE TV; em janeiro de 2004, da Look 4 Love 2; em novembro de 2006, da StarDate TV 24; e em dezembro de 2006, do canal de televendas Auctionworld.

Em nenhum desses casos se ouviram protestos semelhantes aos causados pela decisão de Chávez.

A União Internacional de Telecomunicações (UIT) reconhece o direito soberano de cada governo "regulamentar suas telecomunicações, tendo em conta a importância crescente das telecomunicações para a salvaguarda da paz e do desenvolvimento econômico e social dos Estados".

(Autor de "A obra do Artista - uma visão holística do Universo", Ática, entre outros livros).


* Frei dominicano. Escritor.

sexta-feira, julho 13, 2007

Legado

Deus me deu
o dom da poesia
a luz da lucidez

Deus me deu
o entendimento do coração
o silêncio da solidão
e a sabedoria
de se perder e se achar.

Deus me deu
a chave.

Eu que encontre a porta!

Valdir Alvarenga
livro: Plenilúnio

quinta-feira, julho 12, 2007

Proverbiando

Cansado de falar por aí provérbios e ditos populares sem saber o quê, às vezes, eles realmente querem dizer, sem saber também de sua origem ou quando foi usada pela primeira vez? A partir de agora o Clube de Poetas do Litoral apresenta o: Proverbiando. Toda semana reapresentando frases que estão na boca do povo há muito, muito tempo


Lágrimas de crocodilo


Esta locução que é muito antiga, tem tido aplicação literária frequente. Entende-se por lágrimas de crocodilo qualquer manifestação de hipocrisia e de insincero pesar. Segundo Plínio o Antigo, os crodocilos das margens do Nilo choravam e faziam ruidosas manifestações de desespero, tal como as pessoas enlutadas, tudo isso para despertar a piedade e a atenção dos passantes, que iam ver do que se tratava e eram devorados. A lenda tem algo parecido com a do canto das sereias, de que fala Homero.
Shakespeare faz uma alusão às lágrimas de crocodilo na cena I do quarto ato de "Otelo", quando fala o mouro de Veneza, incetivando Desdêmona: " O devill, o devill, / If the earth could teeem with woman's tears,/ Each drop she falls would prove a crocodile" (Ó demônio, ó demônio,/ Se a terra estivesse cheia de lágrimas femininas,/ Cada gota que tombasse comprovaria um crocodilo).
Francis Bacon, filósofo e estadistas inglês, em seus ensaios e La Fontaine em suas poesias também usaram esta expressão.

-- Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL visite:http://cplitoral.blogspot.com/http://cliquepoetico.blogspot.com/

Proverbiando

Cansado de falar por aí provérbios e ditos populares sem saber o
quê, às vezes, eles realmente querem dizer, sem saber também de
sua origem ou quando foi usada pela primeira vez? A partir de
agora o Clube de Poetas do Litoral apresenta o: Proverbiando. Toda
semana reapresentando frases que estão na boca do povo há muito,
muito tempo


AO DEUS DARÁ


Locução surgida de uma resposta tradicionalmente dada pelos homens
de coração duro aos que estendiam a mão à caridade pública. Ao
rogo: "uma esmolinha pelo amor de Deus" - esses espíritos poucos
caritativos respondiam invariavelmente " Deus dará", depois
transformada em "Deus o favoreça". Os autores portugueses Gomes Monteiro e Costa Leão, em "A Vida
Misteriosa da Palavra", dizem que, no século XVII, viveu em Recife
um negociante português que, de tanto proferir aquelas duas
palavras, teve seu nome acrescentado para Manuel Alvares Deus
Dará, com o que não se irritou e antes, por favorecimento real,
pode usar a alcunha como "apelido d' armas". O nome passou ao seus
descendentes. Seu filho, Simão Alvares Deus Dára, exerceu o cargo
de provedor-mor da Fazenda do Brasil. Estar ao Deus dára é estar na penúria, em desolaradora miséria,
entregue à própria sorte, sem nenhuma ajuda terrena e apenas com a
problemática proteção celestial.


Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL visite:http://cplitoral.blogspot.com/http://cliquepoetico.blogspot.com/

A única Igreja de Cristo? Jung Mo Sung*

Adital - A Sagrada Congregação da Doutrina da Fé (SCDF) publicou no dia 10
de julho o documento "Respostas a questões relativas a alguns
aspectos da doutrina sobre a Igreja" com o objetivo de "dar com
clareza a genuína interpretação de algumas afirmações
eclesiológicas do Magistério", para que "o correto debate
teológico não seja induzido em erro, por motivos de ambigüidade". Neste documento, a SCDF afirma que só na Igreja Católica
permaneceram e permanecem todos os elementos da Igreja constituída
por Cristo. E que por isso, há a "plena identidade da Igreja de
Cristo com a Igreja Católica", a Igreja "governada pelo Sucessor
de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele".
A partir desta premissa, o documento afirma que, embora as Igrejas
Orientais e as Igrejas Protestantes e Evangélicas - que o
documento chama de "Comunidades separadas" - possam servir de
instrumentos de salvação por parte do Espírito, estas careceriam
de elementos fundamentais presentes somente na Igreja Católica. As
Igrejas Orientais são reconhecidas como Igrejas porque teriam
verdadeiros sacramentos em virtude da sucessão apostólica, mas
lhes faltaria o reconhecimento do papado (que a SCDF considera um
dos princípios constitutivos da Igreja de Cristo). Quanto às
Igrejas Protestantes e Evangélicas, chamadas de "comunidades
eclesiais" pela SCDF, o documento diz: "segundo a doutrina
católica, tais comunidades não têm a sucessão apostólica no
sacramento da Ordem e, por isso, estão privadas de um elemento
essencial constitutivo da Igreja. Ditas comunidades eclesiais que,
sobretudo pela falta do sacerdócio sacramental, não conservam a
genuína e íntegra substância do Mistério eucarístico, não podem,
segundo a doutrina católica, ser chamadas ‘Igrejas’ em sentido
próprio".
Como próprio documento diz, esta é a doutrina católica
interpretada ou definida pelo Magistério do Vaticano. Esta
doutrina revela mais como este papado e a SCDF se vêem e vêem a
Igreja Católica e as outras igrejas cristãs, do que como Deus
salva a humanidade ou atua no meio de nós. Isto é, este documento
revela mais sobre os seus propositores do que sobre a "visão" de
Deus sobre a Igreja de Cristo. Afinal, como São Tomás de Aquino já
dizia, de Deus nós sabemos mais o que Deus não é do que o que Deus
é.
Eu não quero discutir aqui a validade teológica ou não desta
interpretação dada pela SCDF. Eu fiquei mais pensativo sobre o que
leva as pessoas escreverem e aprovarem este tipo de documento que
dificulta ainda mais o diálogo ecumênico que todos - inclusive a
Igreja Católica - dizem ser importante, tanto para o futuro do
cristianismo quanto para a construção de um mundo onde culturas e
religiões diferentes possam conviver sem conflitos. Talvez a
preocupação delas seja mais interna - a coesão e o fortalecimento
da Igreja Católica -, do que o diálogo com os diferentes e com o
futuro da humanidade. E, talvez, esta preocupação seja tão grande,
tão centrada em si, que não permita reconhecer a existência dos
outros e, assim, os seus próprios limites e ambigüidades. Pensando
sobre este desejo obsessivo de superar a ambigüidade da condição
humana e também da própria Igreja (que desde o início do
cristianismo sempre se assumiu como "santa e pecadora"), eu me
lembrei de algumas reflexões de Erich Fromm (no seu livro "A
anatomia da destrutividade humana").
Ele descreve "um estado da experiência em que só a própria pessoa,
seu corpo, suas necessidades, seus sentimentos, seus pensamentos,
seus atributos, tudo e todos que lhe pertençam são experimentados
como plenamente real, enquanto que tudo e todos que não formam
parte da sua pessoa ou não constituem objeto de suas necessidades
não são tidos como interessantes, não são plenamente reais, são
percebidos apenas por meio de um reconhecimento intelectual,
enquanto afetivamente sem peso e sem cor" como narcisismo.
E para ele o narcisismo não é um fenômeno somente individual. "O
narcisismo de grupo tem importantes funções. Em primeiro lugar,
incrementa a solidariedade e a coesão do grupo, e [...] Em segundo
lugar, é extremamente importante como elemento que dá satisfação
aos membros do grupo e em particular àqueles que tenham poucas
razões para se sentirem orgulhosos e de alguma valia". Além disso,
Fromm nos alerta que "o narcisismo de grupo é uma das fontes mais
importantes da agressão humana, e, ainda assim, esse fato, como
todas as outras formas de agressão defensiva, é uma reação a um
ataque a interesses vitais". Por isso, o narcisismo de grupo é tão
"popular" nos mais diversos setores da vida social, seja no campo
da economia, política ou da religião.
Eu não estou afirmando que este documento expressa um "quê" de
narcisismo, nem que este fenômeno não possa ocorrer em outras
Igrejas cristãs ou em outras religiões. É um assunto muito
complexo para afirmar algo assim. Eu só quis compartilhar estas
reflexões de Fromm que me surgiram ao ler o documento. Se esta
lembrança tem algum sentido, talvez ela possa nos ajudar
lembrando-nos que a missão das Igrejas cristãs não consiste em se
anunciar como algo pleno e absoluto, mas em servir como uma
comunidade onde as pessoas confirmam e fortalecem a fé para viver,
na ambigüidade das nossas vidas, a missão de anunciar a boa-nova
de Jesus Cristo. Só no trabalho conjunto, com pessoas e Igrejas
cristãs ou não, para anunciar o Reino de Deus, talvez nós possamos
ter uma pequena experiência do que é ou pode ser a verdadeira
Igreja de Cristo. Afinal, Deus não se encarnou como cristão, mas
como servo e se fez humano.
* Professor de pós-grad. em Ciências da Religião da Univ.
Metodista de S. Paulo e autor de Sementes de esperança: a fé em um
mundo em crise

Oui

Psique: oi
Eros2002: oi
Psique: tudo bem com você?
Eros2002: então a umas horas de seu aniversário?
Psique: você lembrou?
Eros2002: sim
Psique: você é um amor
Eros2002: obrigado, você merece.
Psique: meu pc resolveu pifar justo ontem
Eros2002: sim
Eros2002: e...
Psique: deu um trabalho
Eros2002: e...
Psique: o técnico ficou dois dias aqui, mexendo em tudo.
Eros2002: mexeu onde?
Psique: no pc
Eros2002: ah!
Psique: o que pensou?
Eros2002: nada
Eros2002: e bebeu vinho com você?
Psique: claro que não
Eros2002: ok
Eros2002: ótimo!
Psique: agora tenho que fazer minhas configurações pessoais de novo, no pc.
Psique: não acho a nave espacial azul que estava aqui
Eros2002: vai se configurar com quem?
Psique: as cores, tamanho de letra, papel de parede, etc., etc.,
Eros2002: etc.?
Psique: sim, amore
Eros2002: e o Drummond morde?
Psique: Dru é o meu PC
Eros2002: ah!
Psique: e você como está?
Eros2002: carente
Psique: telefone para mim
Eros2002: agora não dá
Eros2002: amanhã, você merece...
Psique: então continue carente
Eros2002: obrigado
Psique: vai telefonar pelo meu aniversário?
Eros2002: oui
Psique: de madrugada?
Eros2002: se possível sim, para ouvir a sua voz...
Psique: adoro você!
Eros2002: quero só ver quando for no real
Psique: isso vai acontecer?
Eros2002: nada é impossível
Psique: é verdade
Eros2002: eu penso assim
Psique: mas eu quero saber como está, conte-me...
Eros2002: ando um pouco estressado
Psique: sentiu a minha falta?
Eros2002: sim
Eros2002: e, sobretudo da sua voz...
Psique: muito ou só um pouquinho?
Eros2002: muito e um pouquinho também
Psique: como assim?
Eros2002: muito, mais um pouquinho.
Psique: ah!
Eros2002: é!
Psique: quando quiser ouvir a minha voz, sabe como fazer.
Eros2002: e a nossa última conversa foi muito interessante, e acalorada...
Psique: é me deixou com muito calor...
Eros2002: e gostou?
Psique: só lamento que seja dessa forma
Eros2002: também eu
Psique: você é ótimo!
Eros2002: oui?
Psique: aliás, quando estou feliz adoro o mundo todo!
Eros2002: ah!
Psique: você já me viu brava?
Eros2002: não
Psique: nem queira
Eros2002: ok
Psique: tem mais alguém on line da nossa turma?
Eros2002: tem dois amigos...
Psique: você demora...
Eros2002: estou lendo mensagens, sua ciumentinha...
Psique: está enganado
Psique: vamos fazer uma conferência?
Eros2002: não me apetece agora
Psique: por quê?
Eros2002: sinto-me cansado e daqui a pouco vou deitar
Psique: já?
Eros2002: daqui a pouco
Psique: gosto de estar com você, bobinho.
Eros2002: sim?
Eros2002: e...
Psique: vai me telefonar hoje de madrugada?
Eros2002: sim, já disse, só se me for impossível de tudo.
Psique: eu compreendo
Eros2002: e ouvir os seus suspiros matinais misturados...
Psique: vai falar francês no meu ouvido?
Eros2002: oui!
Psique: humm...
Psique: bobagens?
Eros2002: sim
Psique: é bom, não é?
Eros2002: sim
Psique: às vezes sinto-me só
Eros2002: está comigo aqui
Psique: você tem sido um bom companheiro, mesmo à distância.
Eros2002: ótimo
Psique: mas eu estou com vontade de chorar desde cedo
Eros2002: você é forte
Eros2002: e tem aqui um amigo
Eros2002: com vinho ou sem ele...
Psique: tem acontecido muita coisa nesta semana, mas, eu sou forte mesmo e isso passa.
Eros2002: você também tem sido minha amiga
Eros2002: pense em sexo, esqueça isso...
Psique: SEXO?
Eros2002: oui...
Eros2002: mon amouuuuuuuuurrrrrrrrr
Psique: estou rindo tão alto que o vizinho pode escutar
Eros2002: bom, vou-me deitar.
Psique: durma bem, boa noite.
Eros2002: e...
Psique: descanse meu bem.
Eros2002: só?
Psique: sonhe comigo
Eros2002: e...
Psique: beijos
Eros2002: onde?
Psique: na boca
Eros2002: para eu sonha melhor...
Psique: quero que imagine que estou deitada com a cabeça em seu ombro e dormindo em seus braços...
Eros2002: sóoooooooooooo?
Eros2002: não me quer para mais nada?
Psique: isso é tão bom!
Eros2002: ok
Psique: bem abraçadinha...
Eros2002: e...
Psique: só, assanhado!
Eros2002: e...
Psique: durma bem
Eros2002: e...
Psique: adoro você!
Eros2002: e...
Psique: e...
Eros2002: quero levar um sonho erótico comigo para dormir sobre ele...
Psique: não, pense em algo bem romântico.
Psique: simples e bonito
Eros2002: ok
Psique: como encostar a cabeça em seu peito e dormir
Eros2002: só dormir?
Psique: oui... boa noite...
Eros2002: beijos... boa noite

quarta-feira, julho 11, 2007

No recesso do coração - Paulo Coelho

Há alguns meses publiquei neste espaço uma coluna chamada “Os segredos do porão”, descrevendo um retiro que terminou em um mágico jantar nos subterrâneos da Abadia de Melk, na Áustria. No artigo, eu comentava que ao olhar os porões de minha alma, tudo que podia encontrar ali eram meus erros, e que procuraria organizá-los de modo que eles não me assustassem, e me ajudassem a compreender melhor as coisas que não devia repetir. Estava em companhia, entre outras pessoas, do Abade Dr. Burkhard Ellegast, OSB, que eu considero um mestre espiritual, embora não consigamos falar uma língua em comum (não consigo sequer pedir um copo d’água em alemão). Para minha surpresa, o abade Burkhard escreveu um texto a respeito de “Os segredos do porão”, e aqui adapto parte de suas reflexões.!
“Muitas vezes costumamos perguntar: como é que isso aconteceu conosco? De repente, me vi cercado de gente que estava disposta a refletir sobre o significado da vida. Que poderia eu dizer para estas pessoas, se tudo que aconteceu em minha existência foi entrar para um convento ainda jovem, e mais tarde ser encarregado de dirigir esta abadia por 26 anos?”
“Penso que as pessoas me olhavam como se eu tivesse uma resposta para tudo. Mas tudo que decidi fazer foi falar um pouco de mim. Dizer que minha fé é capaz de me manter vivo e entusiasmado por seguir adiante, apesar dos momentos de pessimismo. Expliquei então o meu lema: se eu der um passo errado e for arrastado para o fundo, isso jamais será feito de maneira discreta. Todos me verão gritando, chutando, agitando bandeiras, de modo que possa servir de alerta para os que virão”.
“Por causa deste lema, sei que dificilmente levarei outros comigo em meus erros, e, portanto consigo dominar meu medo e me arrisco a dirigir meu barco para águas desconhecidas. Eu sei, é claro, que se eu começar a me afogar, apesar do barulho que estiver fazendo, ainda poderei levantar minha mão e pedir: Deus, por favor, me acuda! Com toda certeza serei ouvido, e um novo caminho se abrirá”.
“Em seu artigo, Paulo Coelho comenta que ficou surpreso ao ver que eu o apresentava usando um texto de seu livro “Onze Minutos” (NR – o livro é sobre sexo e prostituição, claro que eu tinha que ficar surpreso!). Eu relatei um trecho do diário da personagem principal, onde ela conta a história de um lindo pássaro que costumava visitá-la. Ela o admirava tanto que um dia resolveu prendê-lo em uma gaiola, para poder ter sempre seu canto e sua beleza presentes. Com o passar dos dias, ela se acostumou com a nova companhia, e perdeu o deslumbramento de esperar por aquela alma livre que a visitava de vez em quando, sem qualquer coerção. O pássaro, por sua vez, não conseguia cantar em cativeiro, e terminou morrendo. Só então ela conseguiu entender que o amor precisava de liberdade para exprimir todo o seu encanto –! embora a liberdade pressuponha riscos.
“Nós temos a tendência de procurar o cativeiro porque costumamos ver a liberdade como algo que não tem fronteira nem responsabilidades. E por causa disso, terminamos também tentando escravizar tudo aquilo que amamos – como se o egoísmo fosse a única forma de manter o nosso mundo equilibrado. O amor não limita; amplia nossos horizontes, podemos ver claramente o que está fora, e podemos ver mais claramente ainda os lugares escuros de nosso coração”.
“Embora eu não fale inglês, eu podia entender tudo que os olhos e os gestos de Coelho diziam. Eu posso me lembrar ainda de quando me perguntou, através de uma das pessoas presentes, o que devia fazer agora. Então respondi: continue procurando”.
“E quando encontrar, mesmo assim ainda continue procurando, com entusiasmo e curiosidade. Apesar dos erros que eventualmente serão cometidos, o amor é mais forte, permite que o pássaro voe em liberdade, e cada passo não será apenas um movimento adiante, mas conterá em si todo um novo caminho”.

Depende da maneira como se fala

Certa vez um rei sonhou que havia perdido todos os dentes. Ele acordou assustado e mandou chamar um sábio para que interpretasse o sonho.- Que desgraça, Senhor! Exclamou o sábio. Cada dente caído representa a perda de um parente de Vossa Majestade! - Mas que insolente, gritou o rei. Como se atreve a dizer tal coisa?Então, ele chamou os guardas e mandou que lhe dessem cem chicotadas. Aí resolveu chamar outro sábio para interpretar o mesmo sonho. E este lhe disse:- Senhor, uma grande felicidade vos está reservada! O sonho indica que ireis viver mais que todos os vossos parentes! A fisionomia do rei se iluminou e ele mandou dar cem moedas de ouro ao sábio. Quando este saía do palácio um cortesão perguntou ao sábio:- Como é possível? A interpretação que você fez foi a mesma do seu colega. No entanto, ele levou chicotadas e você, moedas de ouro! - Lembre-se sempre... respondeu o sábio, TUDO DEPENDE DA MANEIRA DE DIZER AS COISAS... Precisamos aprender como nos direcionar as pessoas que nos cercam, muitas vezes elas precisam apenas de uma palavra amiga ou uma mão estendida.(Desc.Autor)

segunda-feira, julho 09, 2007

Quase nada? Pe. Carlos F. da Silva

Não aprecio polêmicas estéreis. Jamais tive disposição de impor, a qualquer custo, qualquer verdade, por mais cristalina que fosse. No campo da moral, então, sempre tive um cuidado escrupuloso para tratar de temas delicados, bem como aqueles necessários e urgentes como o aborto. Mas não há como não reagir pronta e apaixonadamente a uma declaração de modelo Gisele Bundchen na qual afirma que, com quatro meses de vida, o bebê é quase nada. Dá uma indignação tão grande que a vontade é de possuir o mesmo espaço que ela tem na mídia para gritar que ela está terrivelmente equivocada. O erro da moça é tão grandioso que supera fronteiras até mesmo da militância abortista. Chega a ser expressão de uma estrondosa burrice. Acostumada como é de ser bajulada em toda parte, certamente ela não teve tempo sequer para ser minimamente informada sobre o assunto. Sua ignorância é colossal.
Todo mundo sabe, menos ela, que na décima sexta semana os principais órgãos do feto já estão completamente formados. O bebê está bem crescido, com cerca de quinze centímetros e já chegou numa fase de maturidade razoável. Para as mulheres que, carinhosamente, aguardam o nascimento do filho, justamente no final do quarto mês é que podem ver a imagem inteira do bebê. Nesse período, com os avanços tecnológicos médicos de hoje, por meio de uma ultra-sonografia já se pode diagnosticar, por exemplo, se a gestação é de gêmeos ou se existem anormalidades genéticas. Com quatro meses, os pais amorosos que desejam o nascimento da criança, podem até saber também qual o sexo do bebê e onde a placenta está alojada. É nessa hora que se constata também as batidas do coração do feto. Essas informações básicas e seguras podem ser obtidas no mais simples material sobre gravidez. Lá onde a Gisele mora, os Estados Unidos da América, essas informações devem ser acessíveis em qualquer panfleto de farmácia. Mas ela deve se ocupar de coisas mais importantes e se sente completamente à vontade para opinar sobre o assunto, quando está em terras consideradas desinformadas, pelo que se pode deduzir de sua folga em tratar do tema.
Qualquer consideração sobre o embrião dentro ou fora do caldeirão de discussões sobre o aborto precisaria responder ao conhecimento básico de seu crescimento. Se não houver, ao menos, informação suficiente a respeito da mecânica, como se poderá tratar de ética, de amor, de defesa da vida? E o que me parece mais curiosamente perverso nesse assunto absurdo, nessa situação, é justamente o fato da declaração partir de uma mulher, pois isso significa que ela nem se deu conta de como se dá uma fase importante de atividade de seu aparelho reprodutor. Faltando-lhe uma consciência do ser mulher, não se pode entender como é que lhe parece cômodo fazer afirmações dessa natureza.
Costuma-se dizer que existem três espécies de ignorância: o nada saber, o saber mal o que se sabe e o saber coisa diversa da que se deveria saber. A beldade loura mais bem paga do planeta para exibir-se enquanto mostra roupas (ou falta delas) pelo mundo afora navega entre as três categorias com a mesma desenvoltura de que desliza numa passarela. Impossível não registrar uma máxima do alemão Goethe: “não há nada mais terrível do que uma ignorância ativa”. É mais avalassaladora. Especialmente se demonstrada por uma pessoa que tem todos os canais da comunicação de massa aos seus pés em qualquer parte do mundo já mortalmente contaminado pela mentalidade do consumo. Nem dá para levar em conta a intenção embutida no comentário estúpido. O aborto é uma questão tão séria que não pode ser trazida à tona pelo murmúrio todo de alguém que nem se deu ao trabalho de freqüentar bem a escola. O aborto é uma questão humana, antes de ser moral. É uma questão de saúde, antes se ser objeto de análise das religiões. O aborto só pode ser foco de um debate aceitável se os seus defensores ou combatentes possuírem o mínimo de informação técnica. Uma mulher que denuncia ter cabulado a aula de Puericultura não está apta para participar da conversa em público. Talvez tenha sido o tilintar dos níqueis que, lamentavelmente, arrancou essa menina do caminho da formação geral e a jogou no circo das bobagens. Que pena!