quinta-feira, setembro 28, 2006

Pedro Casaldáliga

"Em nome do Pai de todos os Povos,Maíra de tudo, excelso TupãEm nome do Filho,Que a todos os homens nos faz ser irmãos.No sangue mesclado com todos os sangues.Em nome da Aliança da Libertação.Em nome da Luz de toda Cultura.Em nome do Amor que está em todo amor.Em nome da Terra Sem Males,Perdida no lucro, ganhada na dor,Em nome da Morte vencida,Em nome da Vida,Cantamos, Senhor"Trecho estraído da "Missa da Terra sem Males" de Pedro Casaldáliga,bispo emérito da Prelazia do Araguaia (São Félix do Araguaia - MT)

quarta-feira, setembro 06, 2006

Da liberdade

"A liberdade humana não é uma brincadeira. É um risco e um mistério que envolve a absoluta frustração no ódio ou a radical realização no amor. Com a liberdade tudo é possível, o céu mas também o inferno."Padre Carlos

sábado, setembro 02, 2006

É por amor!

Sim, é por amor à vida que cantamos. E, tantas vezes, choramos também. É por amor à vida, Que estamos lutando E vamos andando lentamente Para buscar a luz E a liberdade das manhãs de sol. É por amor à vida, Sim, é por amor à vida... que encaramos de frente Essa imensa dor que se nos impõe... É por amor à vida Que estamos nas ruas, nas praças, nas estradas... E gritando palavras de ordem, de uma nova ordem! Sim, é por amor, E por amor à vida Que marchamos nas madrugadas de lua nova Levando nos braços a fúria das tempestades, pronto a resgatar a terra que nos tomaram(...) Sim, é por amor à vida Que profundamente doloridos Recolhemos em nossos braços Os que foram brutalmente feridos E quando já não podemos Devolver-lhes a respiração Nós comungamos de seu sangue E os fazemos ressuscitar Em milhares de vidas e sorrisos! É por amor à vida Que escrevemos nas pedras Os poemas da esperança rebelde Que pichamos nos muros e nas portas As frases corajosas de um futuro novo, Qaue dançamos nas festas de sábado, No batuque do carnaval de um povo livre! É por amor Que nos abraçamos, que nos beijamos na esquina E já não tememos andar de braços dados seguindo a bandeira da paz E da ternura consequente! Sim, é por amor à vida Que desesperadamente amamos.
Texto de Zé Vicente, poeta e músico - Fortaleza-CE
Extraido do jornal Mundo Jovem de março de 2005

Trova do vento que passa - Manuel Alegre

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Paixão Nacional

Paixão Nacional - por Cristóvam Buarque - O Globo - 10/06/2006
Em cada dez dos melhores jogadores de futebol do mundo, pelo menos cinco são brasileiros. Entre todos os prêmios Nobel do mundo, nenhum é brasileiro. Entre os grandes jogadores brasileiros, quase todos têm origem pobre, enquanto quase todos os profissionais de nível superior vêm das camadas ricas e médias.Nestes tempos de Copa do Mundo, a TV e o rádio mostram, todos os dias, pequenas biografias dos nossos grandes jogadores. Em comum, todos têm o fato de terem começado a jogar futebol aos quatro anos de idade, em algum campo de pelada perto de casa, às vezes no quintal de um amigo. Todos continuaram, com persistência, o desenvolvimento de seus talentos. Transformaram-se em grandes craques, graças à oportunidade, ao talento e à persistência.No Brasil de hoje, 20 milhões de meninos jogam futebol. Se apenas um em cada dez mil tiver talento e persistência, nas próximas copas teremos dois mil ótimos jogadores; se for um em cada um milhão, ainda assim teremos dois times completos, formados por grandes craques.O mesmo não vai acontecer com a ciência, a tecnologia e a literatura no Brasil. Não teremos 20 prêmios Nobel, nem mesmo juntando, a esses meninos, os outros 20 milhões de meninas. Porque poucos entrarão na escola aos quatro anos. Não terão acesso a verdadeiras escolas, não poderão persistir no desenvolvimento de talento, não terão livros ou computadores como têm bolas.O Brasil tem grandes craques graças ao gosto pelo futebol, ao tamanho da nossa população e ao fato de que todos têm acesso à bola e ao campo de pelada.Nosso país não tem, até hoje, nenhum Prêmio Nobel de Literatura ou Física, porque poucos têm acesso a ensino de qualidade desde a primeira infância, com professores bem remunerados, preparados e dedicados, dispondo de livros e computadores na quantidade e qualidade necessárias.Os campos e as bolas surgem espontaneamente, ou pelo esforço da comunidade e dos próprios meninos. A escola e os computadores só estarão à disposição se houver um esforço deliberado do país inteiro.Ninguém vira craque por sorte, e sim por talento e persistência. Mas, no Brasil, o desenvolvimento intelectual depende, antes de tudo, da sorte de nascer em uma família rica, em uma cidade próspera, com um prefeito que dê prioridade à educação. O talento e a persistência vêm depois porque, antes, precisam de oportunidade: uma escola de qualidade. O desenvolvimento intelectual depende de condições criadas pelo Estado nacional: escolas, livros, computadores, professores.Se tivéssemos feito isso há cinqüenta anos, o Brasil seria o campeão do saber, e não o lanterninha, posição que ocupamos atualmente. Se o fizermos agora, daqui a 20 anos teremos recuperado terreno, e aí teremos a chance de vencer não só a Copa do Mundo, mas também a Copa do Saber, do conhecimento, da ciência, da tecnologia, da literatura. Ganharemos as medalhas do Nobel, além das taças da Copa.Além do mais, teremos o capital e as bases para construirmos o Brasil do século XXI. O futebol deslumbra, mas só o saber constrói.Tudo isso, porém, enfrenta um grave impedimento: os brasileiros têm paixão pelo futebol. As vitórias emocionam, as derrotas deixam todos abatidos. Mas não existe a mesma paixão pela educação. Há semanas, os meios de comunicação informaram que estamos perdendo para o Haiti em termos de repetência escolar. Nada aconteceu, ninguém se incomodou. Se tivéssemos perdido para o Haiti no futebol, nossos jogadores teriam sido muito mal recebidos na sua volta ao Brasil.Para que as medalhas intelectuais cheguem, é preciso ter pela escola a mesma paixão que o Brasil tem pelo futebol.