quarta-feira, julho 19, 2006

Qual desenvolvimento?

O Brasil é vítima de política agrícola ligada à monocultura e às exportações


Qual desenvolvimento?

Nos projetos do agronegócio, constata-se que os pobres e, sobretudo os negros, como sempre, ficam de fora das preocupações dos governos e dos grandes empresários.


Ouve-se falar muito, nos dias de hoje, sobretudo da boca de alguns políticos e de grandes empresários, sobre a necessidade que o Brasil tem de voltar a crescer e crescer com segurança. Até ai estamos de acordo. Mas que modelo de crescimento adotar para que esse “milagre” se torne realidade sem gerar prejuízos? No campo, vimos que há bastante investimento no modelo agrícola do agronegócio, endeusado pela imprensa, que não poucas vezes deixa de considerar as reais conseqüências desse tipo de opção.
A abertura e incentivos demasiados, por parte dos governos ao agronegócio, aqui na nossa região do Tocantins e Maranhão, caracterizam atitudes irresponsáveis, por que não são discutidas num contexto mais amplo, com toda a sociedade e não considera a natureza, com todo o ecossistema e nem o aspecto cultural das pessoas que vivem aqui há mais tempo. Noto que da forma como esse processo vem sendo conduzido, sobretudo aqui, só serve para aumentar ainda mais a incomensurável distancia entre ricos e pobres produzindo e aprofundando mais a jurássica exclusão social.
É doloroso constatar que desde os tempos de colônia o Brasil vem. Não me restam dúvidas de que esse modelo só dá suporte para relações para relações de trabalho e renda profundamente desiguais e injustas. Aqui no norte e nordeste, precisamente sul do Tocantins e sul do Maranhão, se pode verificar por miúdo quão desastrosas são as conseqüências dessa política voltada aos grandes projetos do agronegócio. Constata-se que os pobres e, sobretudo os negros, como de praxe, ficam de fora das preocupações dos governos e grandes empresários. São massacrados pelo “rolo compressor” do grande e médio produtor que fortalecidos por esse modelo econômico, precisam plantar e plantar para exportar. E não poucas vezes ainda são estereotipados como gente preguiçosa e desqualificada. É esse o preço que essa gente pobre da terra deve pagar por esse dito desenvolvimento?
As terras por aqui, embora cultiváveis, não são as típicas de culturas. Trata-se na maior parte de um cerrado baixo demasiadamente arenoso. O povo daqui ainda costuma cultivar o solo de uma forma quase artesanal. Quase sempre só para a subsistência. Não há preocupação em criarem excedentes. Diante dessa situação, alguns político dizem por aqui que “é preciso dar passagem para o desenvolvimento que chega, custe o que custar”. Para chegar aqui essa gente teve que passar por inúmeras provações na vida.
Da parte dos que governam há despreocupações não só com a gente do lugar, mas também com o meio ambiente, que é desrespeitado de todas as formas. Os pobres na maioria afro-decendentes, sem a terra que é o seu “ganha pão” se vêem na necessidade de irem para as cidades. A serviço de que e para quem estão direcionados os objetivos dos grandes projetos do agronegócio?

Pe Carlos Ferreira da Silva é Missionário Redentorista em Guarai, no Tocantins.