sexta-feira, março 07, 2008

Será que sou de virgem?

No inicio deste ano comprei uma revista de horóscopo. Poderia justificar tal compra, dizendo que a maturidade está me deixando menos seletiva em termos de leitura. Talvez, mas não se iludam ainda não me tornei uma dogmática, até revista de signos leio com o senso crítico aguçado...
Rogo a todos os deuses do Olimpo que nenhum astrólogo tome conhecimento de minhas palavras, pois serei acusada de heresia astrológica.
Na capa da revista, há destaque para o mês de fevereiro: “mês ideal para contar com a sorte e lucrar. Pois foi exatamente nesse mês que tive o “azar” de perder o emprego e fiquei no maior “prejuízo”. E meu lado racional não perdeu tempo com a minha nova situação, a de penúria: ‘ caiu nessa, sua tonta? ’.
Na mesma capa há outra chamada: “um ano inesquecível no amor”. Bem, três meses já se passaram e eu continuo (des) amada e (des) acompanhada.
Aliás, o fato de continuar desempregada não parece motivar algum ser do sexo masculino, bem empregado e com rendimento certo no final do mês, a se aproximar de mim. De repente, eu peço a ele para compartilhar comigo, além de tórridos momentos na cama, alguns boletos bancários.
Continuo lendo a capa da revista de horóscopo: “momentos de puro prazer em julho e agosto”. Me animo, mas como ainda estamos em março, vou ter que esperar para ver se acontece mesmo.
“Previsões astrológicas quinzenais”... bem, está na hora de abrir a revista.
Na primeira página algumas características do jeito de ser dos nascidos sob o signo de virgem. Leio atentamente, analiso em quais delas me encaixo. Quero ter certeza de que sou uma virginiana de primeira linha.
“Sempre alerta! Está sempre atenta a tudo”. Eu sou assim. Ponto para mim!
“Olhos críticos, sempre abertos a cada detalhe”. Confesso, eu confesso! , sou insuportavelmente crítica. Bingo!
‘“Capacidade de análise muito grande”. Até tenho, mas às vezes, fico com preguiça de pensar e deixo a caravana seguir, sem ir atrás, claro. Meio ponto para mim!
“Sua língua parece uma lâmina de tão afiada”. Essa sou eu! E eu amo esse meu jeito de ser – virginiana porreta -, será por isso que minha mãe fica tão zangada quando discutimos? Sou dura na queda quando discuto com alguém. E, raramente a pessoa percebe que para me vencer é só não bater de frente comigo. Um belo sorriso me neutraliza mais rápido ainda. Olha eu dando ponto para o inimigo.
“Gosta de tudo organizadinho”. Até gosto, mas no meio da minha organização muita coisa está só aparentemente no lugar. Alguma desordem me dá a sensação de democracia. Alguém me entende?
“Arrogante, chata e exigente”. Será? Exigente costumo ser comigo mesma, eu me cobro muito. Sob esse aspecto me trato muito mal.
E o que é ser chato afinal? Alguém tem uma definição virginiana para isso?
Não suporto pessoas medíocres e fracas, que não sabem lutar e que não são capazes de carregar suas bandeiras. Detesto pessoas que se acomodam em um rebanho, qualquer um. Isso é ser arrogante?
“Consegue ser alegre e dar muito carinho às pessoas amadas”. Não sou alegre com todo mundo. Algumas pessoas conseguem mesmo me deixar de mau humor. Porém, a maioria me inspira – as que eu amo – me faz rir e querer dar o que eu tenho de melhor.
Sou carinhosa ao extremo: adoro abraço, beijo, toque. Adoro conversar e alisar.
“Vive observando tudo”. Nem tudo atualmente, pois às vezes, esqueço de colocar os óculos, aí já não dá para ver tudo. Mas, meu olhar continua afiado.
“Versátil, pé no chão, cautelosa, precavida”. Sei não, não me acho versátil, sou uma negação para muita coisa. Nem sei cozinhar!
Pé no chão, cem por cento não, pois vivo com a minha cabeça na lua, e o resto do corpo faz um esforço danado para se equilibrar nesse espaço.
Cautelosa sim, precavida não. Quantos pontos será que perdi agora?
Fertilidade e tradição. Sou aquela plantinha que nasceu, cresceu, mas não deu frutos. Quando eu me for dessa existência, nada de mim terá continuidade.
Tradição? Gosto da palavra.
Viro a página da revista: Amor e sexo. “Dificuldade para expressar seus sentimentos, reservada e inibida”. Mas essa não sou eu mesmo!
“Tem medo de fracassar, quer sempre que tudo saia certinho”. Pessoas normais sentem isso, eu acho.
“Dificilmente toma a iniciativa de se aproximar”. Bom, eu adoro um flerte, joguinhos e ‘acessórios’ amorosos. Gosto de sentir que estou sendo envolvida, até o momento que não consigo mais sair da teia. Bem, pouco virginiano, com certeza. Será que já estou com pontos negativos?
“Namoros tradicionais, sem ousadia”. Namorar tornou-se automaticamente algo tradicional, numa época em que se “fica” e se beija na boca até estranhos.
Ousadia? Eu seria ousada demais se tivesse que explicar...
Já estou começando a achar que sou uma virginiana sem pedigree.
Já estou quase no final da página dois: “quando se apaixona de verdade é capaz de tudo para agradar o par”. Confesso que me esforço, dou tudo de mim, é que às vezes o tiro sai pela culatra. Aí, fico pensando “poxa, ele não entendeu nada”.
“Quando a pessoa amada não age como você espera”. Esse deve ser o pior dos meus defeitos: não falar, não pedir, criar expectativas e depois, me decepcionar. Ufa! Estou virginiana de novo.
No casamento... como não me casei, sem comentários.
No sexo: “você se entrega com muita energia e sensualidade, mas sem ousadia, pois sua mania de organização...” Pera aí, organização nesses momentos não dá... deixei de ser virginiana de novo.
Viro a folha da revista, página três.
Trabalho e dinheiro... Sem comentários.

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