Quarenta e um anos e Altamira, no Pará dão-lhe a autoridade para falar em defesa dos povos e da natureza da Amazônia como poucos brasileiros poderiam. Mas é austríaco (naturalizado brasileiro) e veio para o nosso país com 26 anos, para trabalhar na prelazia do Xingu (a maior diocese do mundo: 368 mil quilômetros quadrados), presidida, na época, por seu tio dom Eurico, ao qual sucedeu em 1981. Estamos falando de dom Erwin Kräutler, uma das figuras mais significativas da Igreja amazonense.
Ultimamente, seu nome tem a parecido na mídia, devido às ameaças de que está sendo objeto em reação às suas fortes e documentadas denúncias contra as violações dos direitos humanos e do ambiente. Mas estas não sãos novidades: em 1983, foi preso por defender os canavieiros da Transamazônica; em 1987, sofreu um acidente de carro, claramente intencional, no qual outro padre morreu e ele ficou hospitalizado por seis meses.
Como ele mesmo declarou, em um documento de 18 de julho de 2006, as causas principais do ódio de seus inimigos são principalmente três:
1) A exigência de se esclarecer completamente o assassinato de Irmã Dorothy Stang: “Não nos contentamos como a prisão dos executores e de três acusados de serem os mandantes [...] Os culpados não são a penas os que estão presos, condenados e aguardando julgamento. Há muito mais gente envolvida nesse crime, inclusive políticos que hoje, como prefeitos e vereadores, exercem seus mandatos sem serem importunados.”.
2) A oposição à realização do projeto da hidrelétrica de Belo Monte, que afetaria a vida de índios e ribeirinhos e a sobrevivência do rio Xingu. Escreve dom Erwin: “Os idealizadores e promotores deste tipo de projeto estariam bem mais à vontade se, em pleno terceiro milênio, esses índios “da era da pedra lascada” e esses ribeirinhos “atrasados e obsoletos” desaparecessem de uma vez por todas”.
3) O abuso sexual de menores. Entre 1989 e 1994, dom Erwin acompanhou a apuração de um terrível crime de emasculação de 20 meninos. Dois médicos, o filho de um comerciante e um ex-PM foram condenados de 35 a 77 anos de reclusão. Atualmente já estão soltos. Agora, diante de outra denúncia de abuso sexual contra menores, o bispo reagiu “sejam quais forem os criminosos e tenham eles acentuado poder político fi nanceiro, exigimos das autoridades judiciárias que tomem, com máxima urgência, as medidas necessárias para elucidar esses crimes contra a dignidade humana, identificar e prender todos os criminosos para livrar a sociedade altamirense desses monstros”. Como se vê, dom Erwin não é adepto da “diplomacia”, que esconde ou escamoteia a verdade; sua linguagem é “sim, sim, não”, por isso, muitos homens poderosos, atingidos pelas suas denúncias, não estão encontrando palavra para se defender a não ser a ameaça, e ameaça de morte. Numa entrevista a Isto é de 20 de setembro de 2006, à pergunta se ele não tinha medo, o bispo respondeu: “Medo não é a palavra correta. Digamos que a gente não se sente bem nesse contexto. Recebi proteção pessoal durante algumas semanas, mais isso, na minha função de bispo, é impensável; o pessoal está acostumado e receber o bispo, com alegria, com abraços e beijos. Se de repente, eu chego numa comunidade com dois soldados? Isso é absurdo! Não tem jeito, eu tenho que enfrentar a situação. Tenho fé em Deus;”
Este é o fiel retrato de dom Erwin.
Texto retirado da revista Mundo e Missão de janeiro e fevereiro 2007-02-17
Ano 14 – N 109
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário