Friedrish Schiller foi um grande autor de peças teatrais que o tornaram, ao lado
de Henrik Ibsen, um referência do pré-romantismo alemão. Os dois dramaturgos
criaram um movimento em seu país chamado "Sturm Und Drang" que se
predispunha a elevar a arte como elemento consolidador de duas naturezas
humanas – o racional e o sensível. Schiller defendia a arte como forma de
educação de pessoas que, por determinado motivo, não possui em sua
personalidade um destes elementos. Segundo ele, o homem racional só pode
se tornar sensível quando observa o belo, ou seja, quando se torna "estético".
Baseado neste conceito, o filósofo Nietzsche aborda em seu livro "Natureza da
Tragédia" o nascimento do teatro dionisíaco na Grécia do Séc. VI a.C. e
defende a tese de que o movimento teatral surgiu da necessidade humana de
formalizar a arte através do ritual de convenções expostas no espelho teatral e
da necessidade de extravasar este mesmo formalismo através da embriagues
dionisíaca dos cultos teatrais arcaicos.
Nietzsche confrontou Kant quando este último criou a teoria do desinteresse das
obras de arte. Para Kant, a arte não pode sofrer julgamentos, pois não possui
"propósito prático". Já o filósofo Stendhal chamou o belo de "Promessa de
Felicidade", o que foi defendido por Nietzsche para a crítica e degustação da
arte.
Antes de Aristóteles, o autor de "Poética", Platão já indagava o verdadeiro valor
das obras de arte e se indagava constantemente: "Para quê pintar uvas tão
perfeitas se elas já existem no mundo real"? De certo modo o filósofo
menosprezava as obras de arte por entender que derivam da necessidade de
copiar e expor conflitos para obter audiência do público.
Não cabe a nós entender Kant, tampouco duvidar de sua retórica, mas não seria
necessidade orgânica de um artista expor sua obra a fim de conquistar o
reconhecimento do público? Esse reconhecimento não advém da
verossimilhança de sua arte em relação à natureza? Como denotar genialidade
e brilhantismo de um artista senão desta forma? Talvez os grandes surrealistas
tenham a resposta. Com a passagem dos tempos, Pablo Picasso e outros
puderam reinventar a realidade divina com a reprodução de imagens subjetivas
que denotavam o ponto de vista de um único homem. Seria essa a fórmula da
obra prima? Abraço Nietzsche quando, em defesa ao trabalho do artista, afirma
que a verdade da obra de arte reside no fato de ser ilusória e subjetiva.
Todos temos uma verdade sobre o mundo dentro de nós. Se trabalharmos os
lados racionais e sensíveis, aprendermos as técnicas de uma arte específica
com a fome dos leões, certamente compartilharemos o nosso olhar, isto é,
nossa matéria prima, com os outros irmãos de guerra, tão cegos a vagar por
este mundo de arames farpados.
João Pedro Roriz é escritor.
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