A AMAZÔNIA PERTO DO FIM
O Brasil é um país em que as pessoas estão queimando as árvores. Antônio Carlos Jobim (1927-1994)
Os habituais leitores do Direto da Redação devem imaginar o que ocorreu com a gigantesca Terra de Vera Cruz logo após Pedro Álvares Cabral (1467-1562) nela ter desembarcado a 22 de abril de 1500. É verdade que hoje está mais do que provado que o genovês Américo Vespúcio (1454-1512) e o espanhol Vicente Yanéz Pinzón (1460-1508) passearam por ela pouco antes de Cabral, todos tentando tirar o maior proveito possível do famoso Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494. Mas a história pouco mudou. As primeiras vítimas foram os índios – mortos ou aprisionados pelas tripulações e levados para Portugal e Espanha como curiosas e estrambóticas figuras humanas – e das índias, quase sempre nuas, violentadas e estupradas. Logo depois, os portugueses encarregados da colonização decidiram atacar as árvores. Segundo o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (secretaria criada em 1990), a Terra de Vera Cruz, logo depois chamada de Brasil, era riquíssima em madeiras nobres, como o Pau Brasil (hoje em extinção), Mogno, Cedro, Imbuia, Cerejeira, Ipê, Jatobá, Sucupira, Jacarandá e Pau-Ferro, entre outras. Mas a primeira vítima foi o Pau Brasil. De acordo com Edgardo Otero, que lançou, em 2006, pela Panda Books, o livro 'A Origem dos Nomes dos Países', a Ibira-Pitanga (nome que os tupi-guaranis davam ao Pau Brasil), chegava a atingir 30 metros de altura e seu tronco poderia chegar a um metro de diâmetro. Pois bem: nos primeiros 375 anos de colonização, de 1500 até 1875, os portuguêses cortaram 70 milhões de árvores, num total de 15 mil 555 por mês ou 518 por dia. Hoje o panorama pouco ou nada mudou. As madeireiras atacam indiscrimidamente as florestas brasileiras com o objetivo de atender à demanda da construção civil e das fábricas de móveis finos – Mogno e Jacarandá, por exemplo – sem que os poucos fiscais do Ibama possam controlar o tráfego de caminhões repletos de gigantescas toras que rodam pelas estradas do país. Nos últimos tempos – os anúncios invadiram a Internet – surgiram construtoras vendendo casas de madeira, pintadas ou envernizadas, principalmente para São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Mas não são casas populares – longe disso. São verdadeiros palacetes, que alardeiam a vantagem da madeira sobre o tijolo, principalmente porque podem ser desmontadas e transportadas. E é bom não esquecer as enormes queimadas provocadas por fazendeiros, que precisam de espaço para o pasto do gado ou para plantações – e dos disfarçados fornos de carvão vegetal, que têm compradores certos: a classe baixa, sem recursos para comprar o carvão mineral. E para terminar os focos de riquezas mineirais – pedras preciosas e metais – estão cada vez mais presentes escondidos nas matas que já foram vírgens. E bota tempo nisso. Em poucas e resumidas palavras, as florestas brasileiras vão chegar ao fim, em menos de 70 anos, ajudando em muito o já acelerado aquecimento global. Coitados de nossos descendentes...
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