A mais consciente das demandas é a de poder atender ao “desejo”, mas limitar-se à “necessidade” por obra da maturidade pessoal
Por Eugenio Mussak
Demanda significa busca, interesse por um produto ou por um serviço por parte de um segmento do mercado. Parece simples, mas é um conceito tão importante na atualidade, que merece um pouco mais de reflexão.
Antes, é importante definir outras duas palavras: necessidade e desejo. Necessidade é uma força que surge para atender a uma exigência orgânica, vital para o organismo, seja de uma pessoa, de um conjunto de pessoas, de uma empresa, de uma sociedade, de um país. De acordo com o psicólogo nova-iorquino Abraham Maslow (1908-1970) todos nós temos necessidades, e estas estão classificadas em cinco tipos, e nós só nos esforçamos para atender a uma necessidade quando a anterior, mais importante, já estiver atendida. São as necessidades: fisiológicas (comer, ter calor, excretar...), segurança (física e emocional), sociais (principalmente a de pertencer a grupos de semelhantes), afeto (sentir-se amado) e, por último, o autodesenvolvimento (que implica em conquistas intelectuais, principalmente).
Com relação aos desejos, eles não são uma exigência orgânica, e sim uma exigência psicológica, em que os determinantes são principalmente culturais. Poderíamos dizer que um desejo é uma necessidade cultural. Por exemplo, eu posso estar “necessitando” de um automóvel, e “desejando” um Mercedes Benz. Desejos e necessidades não são, portanto, excludentes, mas é necessária uma boa dose de consciência e maturidade para entender a diferença.
E finalmente chegamos à demanda novamente. Trata-se de uma relação adequada entre o binômio “necessidades e desejos” e a condição financeira para satisfazê-lo. Em outras palavras, de nada me adianta necessitar ou desejar se eu não tiver o dinheiro necessário e suficiente para atender à necessidade ou ao desejo. Eu necessito de um carro, desejo um Mercedes, mas “demando” um Celta básico.
Por isso a indústria interessa-se pelas demandas do mercado. As empresas de publicidade dizem que a indústria está atendendo aos nossos “desejos”, mas na verdade está atendendo às nossas “demandas”.
A ansiedade, estado emocional tão presente no homem contemporâneo, deriva da distância entre a necessidade e o desejo, enquanto a angústia vem da distância entre o desejo e a demanda. O drama central do homem atual não está em desejar o que não precisa, mas em desejar o que não pode demandar. Quem deseja o que não necessita pode ficar ansioso, quem deseja o que não pode demandar ficará angustiado.
Necessidades, desejos e demandas. Três características do homem contemporâneo, que viverá melhor quanto mais equilíbrio entre elas conseguir estabelecer. Poder conjugar mais vezes o verbo desejar do que o verbo necessitar é uma conquista, que depende de dedicação, preparo, tempo. Há uma certa autoridade vitoriosa em poder atender aos desejos com a mesma fleuma que se atende às necessidades, e dessa forma manter completo controle sobre as demandas pessoais.
Mas a mais consciente das demandas é a de poder atender ao “desejo”, mas limitar-se à “necessidade” por obra da maturidade pessoal. Necessitar de um automóvel, poder comprar o modelo de luxo, mas optar pelo modelo intermediário, confortável e não exibicionista. Manter para si o poder da autoestima, e não entregá-lo aos outros, necessitando da admiração alheia sobre nosso sucesso e poder de compra. Esse é o grande e verdadeiro sonho de consumo.
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