domingo, dezembro 14, 2008

A maçaneta

Não há mais bela música
Que o ruído da maçaneta da porta
Quando meu filho volta para a casa.

Volta da rua, da vasta noite, da madrugada de estranhas vozes
E o ruído da maçaneta
E o gemer do trinco
O bater da porta que novamente se fecha
O tilintar inconfundível do molho de chaves
são um doce acalanto, uma suave cantiga de ninar.

Só assim fecho os olhos
Posso afinal dormir e descansar.

Oh! A longa espera,
A negra ausência
As historias de acidentes e assaltos
Que só a noite como ninguém sabe contar!
Oh! Os presságios e pesadelos,
O eco dos passos na calçada
A voz dos bêbados na rua
E o longo apito do guarda
Medindo a madrugada,
E os cães, uivando na distância
E o grito lancinante da ambulância!

E o coração descompassado a pressentir
E a martelar
Na arritmia do relógio do meu quarto
Esquadrinhando a noite e seus mistérios.

Nisso, na sala que se cala, estala
a gargalhada jovem
da maçaneta que canta
a festiva cantiga do retorno.
E a sua voz engole a noite imensa
Como todos os ruídos secundários.
-Oh! Os címbalos do trinco
e os clarins da porta que se escancara
e os guizos das muitas chaves que se abraçam
e os festival dos passos que se ganham a escada!

Nem as vozes da orquestra
E o tilintar de copos
E a mansa canção da chuva no telhado
Podem sequer se comparar
Ao som da maçaneta que sorri
Quando meu filho volta.

Que ele retorne sempre são e salvo
Marinheiro depois da tempestade
A sorrir e cantar.
E que na porta a maçaneta cante
A festiva canção do seu retorno
Que soa pra mim
Como suave cantiga de ninar.

Só assim só assim meu coração se aquieta
Posso afinal dormir e descansar.


Gióia Júnior

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