Anunciou-se, creio, no apocalipse,
não me lembro muito bem,
que um grande furacão de papel
se aproxima da direção NO
e de todas as direções.
O furacão destruirá tudo no seu caminho,
convertendo tudo em papel.
As árvores se transformarão em papel,
os animais em papel,
o ouro em papel.
Os homens gritarão horrorizados,
e seus gritos
se tornarão cobras de papel.
Depois eles próprios se vão desfazer em papel:
papel de embrulho, papel de envelopes,
papel de sacos, papel de bíblia,
papel de cigarros.
E, sobretudo, de jornais.
Alguns se tornarão artigos de fundo,
outros entrarão nos problemas
industriais ou agrários,
outros passarão à página externa.
Os escritores que ainda não falharam
por falta de espaço,
falharão nos primeiros cinco quadrados.
Pra que falar em demasia:
haverá um furacão e um papel
mundial.
E no fim,
perdendo a paciência,
se entreabrirá a terra.
Engolirá tudo com apetite
e limpará a boca
com os homens que se tinham transformado
em guardanapos.
Marin Sorescu
poeta romeno
trad. Luciano Maia
Cláudia Brino - Coordenadora do Clube de Poetas do Litoral - CPL visite:http://cplitoral.blogspot.comhttp://cliquepoetico.blogspot.com
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